Ascensão do Banco Master e de Daniel Vorcaro estava na mira de autoridades

Prisão do banqueiro e liquidação extrajudicial do Master são novo ápice na reviravolta da trajetória outrora estelar do banco; alegações incluem falsificação de instrumentos de crédito, segundo fontes que falaram com a Bloomberg News

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Bloomberg — Na segunda-feira (17), Daniel Vorcaro anunciou um acordo de última hora que parecia salvar seu banco em dificuldades. Horas depois, ele foi preso em um aeroporto de São Paulo, de onde, segundo as autoridades, tentava fugir do país.

O Banco Master será liquidado após a mais recente reviravolta na saga dos últimos meses, que envolveu uma ampla investigação de corrupção conduzida pelas autoridades brasileiras.

O CEO Vorcaro e outras cinco pessoas foram presas em meio a alegações de que os executivos falsificaram instrumentos de crédito e os venderam a uma instituição financeira cujo próprio CEO também foi afastado do cargo, segundo pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News.

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A rápida sucessão de eventos marcou uma nova e dramática reviravolta para o Master, uma empresa outrora considerada uma estrela em ascensão no setor financeiro brasileiro.

Seu colapso, segundo reguladores e concorrentes do setor, ressalta a necessidade urgente de maior fiscalização e regras mais rígidas em todo o sistema bancário.

A liquidação da empresa pode custar ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até R$ 55 bilhões caso outros bancos menores também sejam liquidados, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.

O fundo precisará ser “reabastecido” pelos maiores bancos do país, que são os principais financiadores do FGC — um desfecho que tem preocupado investidores nos últimos meses, à medida que as perspectivas para o Master se deterioraram.

O Master e as demais instituições liquidadas tinham cerca de 1,6 milhão de credores, aos quais são devidos aproximadamente R$ 41 bilhões, afirmou o FGC em comunicado nesta terça-feira (18).

Sem uma ampla base de clientes de varejo, o Master conseguiu atrair bilhões de reais em recursos de investidores individuais por meio de plataformas, divulgando seus títulos como um investimento garantido pelo FGC.

Muitas fintechs, incluindo o Will Bank, pertencente ao Master, utilizaram os mesmos canais para obter acesso a financiamento de varejo nos últimos anos, à medida que a concorrência no sistema se intensificou e os brasileiros começaram a buscar investimentos com rendimentos mais altos, ignorando riscos associados.

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Mas uma alteração nas regras do Banco Central em dezembro de 2023 endureceu as normas que regem o acesso dos bancos ao FGC, comprometendo o plano de negócios do Banco Master.

Uma segunda alteração nas regras, em agosto, obrigou os bancos a fazerem contribuições para o fundo com base em seu risco relativo, a partir de junho de 2026.

Os críticos do Master no sistema financeiro argumentavam que as regras que regem o FGC obrigavam os grandes bancos a arcar com uma parcela injusta dos custos, porque as contribuições eram baseadas no tamanho do balanço patrimonial de cada instituição, e não na probabilidade de precisarem de um resgate.

Agora que o fundo precisará ser reabastecido, o Banco do Brasil, o Santander e o Bradesco estarão entre os mais expostos em relação à sua capitalização de mercado, e o Itaú enfrentaria o menor impacto entre os grandes bancos do país, segundo nota publicada pelo analista do Citi Gustavo Schroden em setembro.

Esses bancos, assim como o BTG Pactual, verão seus índices de capital piorarem em certa medida.

Duas tentativas

A liquidação do Master ocorreu após duas tentativas frustradas de resgate do banco.

A primeira foi no final de março, quando o Banco de Brasília (BRB), um banco de médio porte controlado pelo Distrito Federal, anunciou que compraria a maior parte dos ativos do Master.

O acordo foi rejeitado pelo Banco Central em setembro, devido aos riscos decorrentes dos ativos remanescentes e das ligações do Master com empresas investigadas por supostos vínculos com o crime organizado, segundo fontes familiarizadas com o assunto na época.

O Master afirmou que essas ligações são inócuas.

Os dois bancos já tinham um relacionamento anterior: o Banco de Brasília comprou alguns empréstimos consignados do Master no ano passado.

Uma pessoa familiarizada com o assunto disse à Bloomberg News que essas transações levantaram preocupações no Banco Central, que as reportou ao Ministério Público e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Em fevereiro, antes de os bancos anunciarem o acordo, o órgão regulador ordenou a suspensão dessas operações.

Mas o Master realizou duas vendas adicionais de empréstimos ao Banco de Brasília meses depois da ordem do Banco Central, quando o acordo já havia sido rejeitado pelo regulador, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto, antes que esse tipo de transação fosse interrompido e o Banco de Brasília tentasse se distanciar da situação. Enquanto isso, as investigações continuavam.

Um representante do Master se recusou a comentar e o Banco de Brasília não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Por um tempo, Vorcaro conseguiu continuar obtendo liquidez, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto, em alguns casos vendendo seus bens pessoais.

Na segunda-feira, surgiu o que parecia ser uma solução, com o anúncio do Master de um acordo para ser vendido a um consórcio liderado pela Fictor Holding, uma empresa de investimentos, com investidores dos Emirados Árabes Unidos.

Nos termos do acordo, Vorcaro deixaria o banco como acionista e executivo, e os novos proprietários injetariam R$ 3 bilhões em capital novo para mantê-lo em funcionamento. O acordo foi suspenso com a liquidação da Master, afirmou a Fictor em comunicado na terça-feira.

O liquidante nomeado pelo Banco Central será agora responsável por decidir o destino dos ativos do Master.

Um deles é o Will Bank, que não foi liquidado e que estava sendo cortejado por investidores, incluindo a Mubadala Capital, segundo informou a Bloomberg News nesta segunda-feira.

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