Bloomberg — Tom Hayes, ex-operador do UBS que se tornou a face mais visível do escândalo de manipulação da taxa Libor, processou seu antigo empregador, acusando o banco de tê-lo entregue “de bandeja” a promotores internacionais para supostamente proteger a instituição financeira e sua alta cúpula.
Hayes apresentou na segunda-feira (27) uma ação por “processo malicioso” contra o banco suíço, exigindo pelo menos US$ 400 milhões, em um tribunal estadual de Connecticut.
Segundo seus advogados, era amplamente aceito dentro do UBS que os operadores tentassem influenciar a taxa interbancária de Londres — a Libor — para gerar lucros para o banco. O ponto central, alegam, é que essa prática supostamente não configurava crime à época.
Hayes foi considerado culpado no Reino Unido em 2015 por manipular a taxa de referência, em um julgamento que desencadeou uma série de processos contra banqueiros e operadores na City de Londres.
Apesar de várias apelações, a condenação permaneceu até julho deste ano, quando a Suprema Corte britânica a anulou — derrubando o caso de crime financeiro mais emblemático da última década.
“Hayes se tornou o bode expiatório escolhido a dedo pelo UBS”, afirmam seus advogados no processo. “Embora finalmente tenha limpado seu nome, a conduta ultrajante do UBS arruinou irreversivelmente sua vida.”
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Antes de se tornar símbolo de um escândalo, a Libor era uma presença constante — e em grande parte desconhecida — nos mercados financeiros. A taxa era usada para determinar o custo de uma série de operações, de swaps de juros a hipotecas e cartões de crédito, servindo de base para mais de US$ 350 trilhões em empréstimos e títulos.
A investigação global liderada pelo Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) resultou em quase US$ 10 bilhões em multas aplicadas a uma dúzia de bancos e corretoras. No Reino Unido, as ações da Serious Fraud Office (SFO) levaram à condenação de nove banqueiros por fraude — a maioria dessas sentenças foi posteriormente considerada insegura após a anulação do caso Hayes.
Em dezembro de 2012, o UBS firmou um acordo de não persecução penal com o DoJ para encerrar acusações de manipulação de taxas de referência, comprometendo-se a pagar US$ 400 milhões.
No entanto, o banco foi acusado de violar o acordo em maio de 2015, quando uma investigação sobre manipulação do mercado cambial levou o Departamento de Justiça a revogar o pacto de 2012 — a primeira vez que isso ocorreu no setor bancário.
O UBS não participou do processo criminal entre a SFO e Hayes. Um porta-voz do banco recusou comentar o caso. Representantes da Promotoria de Manhattan e do Departamento de Justiça também não se manifestaram.
Os advogados de Hayes afirmam nos autos que o banco deveria pagar ao menos US$ 400 milhões, somando perda de ganhos e danos emocionais, físicos e psicológicos, incluindo o fim de seu casamento.
O UBS já havia pago US$ 1,5 bilhão a autoridades dos EUA, Reino Unido e Suíça para encerrar investigações sobre manipulação da Libor — valor que, segundo os advogados, teria sido muito maior se o banco não tivesse cooperado com os promotores oferecendo “Hayes de bandeja”.
“O UBS precisava de um vilão sob medida para encenar seu espetáculo”, argumentam os advogados do operador. “Precisava de um alvo suficientemente conhecido para satisfazer os reguladores, mas que ocupasse um cargo baixo o bastante para permitir que o banco alegasse de forma crível que sua alta administração não estava envolvida.”
Hayes trabalhou no UBS entre 2006 e 2009, período em que afirma ter gerado cerca de US$ 300 milhões em lucros para o banco, recebendo remuneração de mais de US$ 3 milhões.
Depois, foi contratado pelo Citigroup, onde foi orientado a parar com a prática e acabou demitido em 2010. Foi preso em 2012 e, em 2015, condenado a 11 anos de prisão após recurso. Desde que saiu da prisão, em 2021, Hayes tem se dedicado a provar que suas ações não constituíam crime.
Ele afirma que, quando executivos seniores do UBS souberam de suas tentativas de influenciar as taxas da Libor para beneficiar as posições do banco, “reconheceram o valor de suas contribuições e lhe ofereceram um aumento de remuneração”.
Segundo ele, a alta gestão tinha conhecimento do uso sistemático das posições de negociação na definição da Libor em dólares por ele e outros operadores.
“Todos vão achar que isso é sobre dinheiro, mas não é”, disse Hayes em entrevista. “Trata-se de garantir que isso não aconteça com outras pessoas no futuro — de servir como um alerta.”
-- Com a colaboração de Misyrlena Egkolfopoulou e Chris Dolmetsch.
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