Bloomberg — Caviar, champanhe, espaço para as pernas que se estende até onde você consegue esticar e telas de 27 polegadas no encosto dos assentos.
Mais do que nunca, passageiros estão dispostos a gastar seu dinheiro para ter uma experiência de voo melhor - não importa a incerteza econômica -, e as companhias aéreas estão reformulando suas cabines para aproveitar a demanda.
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A United, a Delta e a American estão entre as principais companhias aéreas dos EUA que têm promovido mudanças em seus layouts de cabine, incluindo a adição de suítes privativas em alguns voos internacionais em aeronaves mais amplas, em uma competição voltada para passageiros que buscam luxo.
“Provavelmente, sempre houve mais demanda por voos premium, mas simplesmente não estávamos atendendo a essa demanda. Não tínhamos produtos suficientes”, disse o CEO da United Airlines, Scott Kirby, em uma entrevista recente à Bloomberg News.
Embora a empresa estivesse oferecendo assentos maiores, ela não incluía outros confortos, como refeições de luxo ou a mais recente tecnologia de bordo. Agora, a United oferece esses extras e, segundo Kirby, os passageiros estão satisfeitos.
“Mais clientes estão comprando o produto premium. Eles estão dizendo que vale a pena pagar um pouco mais para comprar um produto melhor”, disse ele.
Viagem a trabalho esticada para fim pessoal
Os especialistas afirmam que essas mudanças estão ligadas à busca por uma experiência de voo melhor - e mais personalizada -, algo alimentado, em parte, pela tendência de estender as viagens de negócios para adicionar tempo pessoal e também pela “viagem de vingança” de curta duração que se seguiu aos lockdowns da pandemia.
Houve uma mudança tão grande que as expectativas dos consumidores estão mais altas do que nunca", disse Emily Weiss, diretora administrativa sênior da Accenture. As companhias aéreas estão tentando alinhar suas cabines com essa mudança, disse ela.
Mas a mudança ocorreu às custas dos assentos econômicos comuns que a maioria dos americanos está acostumada a comprar na parte final do avião.
Em um momento em que a incerteza econômica provoca uma retração nos gastos do consumidor com itens comuns, as maiores companhias aéreas estão apostando que os hábitos de viagem dos passageiros de renda mais alta serão mais duradouros, mesmo durante eventuais recessões.
“Na última década, o crescimento da receita premium ultrapassou o da receita da cabine principal”, escreveram analistas do Deutsche Bank em uma nota recente.
Esses clientes de alto nível são fiéis e aproveitam outras ofertas relacionadas à marca, como um cartão de crédito e outras atividades, “o que pode aumentar as margens de lucro”, disseram os analistas.
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United: suítes Polaris se destacam
O diretor comercial da United, Andrew Nocella, disse que a Premium Plus, a cabine situada entre a classe econômica e os assentos Polaris mais sofisticados da empresa aérea, está pronta para ser expandida. “Essa é a cabine que está gerando retornos muito bons”, disse ele.
Em maio, a United apresentou seu interior Elevated em Boeing 787-9s que operarão principalmente em rotas internacionais. A aeronave inicial - com 99 assentos premium, ou cerca de 45% do total - começará a voar em 2026 entre São Francisco e Singapura e São Francisco e Londres.
Esses aviões terão oito suítes Polaris studio com mais espaço, portas para privacidade, assentos com acesso ao corredor e telas de 27 polegadas no encosto. As comodidades também incluem pijamas com capuz e chinelos, fones de ouvido com cancelamento de ruído - noise cancelling - e serviço de caviar.
A empresa aérea espera ter pelo menos 30 desses aviões em sua frota até 2027. A receita premium aumentou 5,6% no segundo trimestre da United, enquanto a obtida com a cabine econômica teve variação negativa.
Há duas décadas, havia uma grande diferença entre o que a primeira classe oferecia e os assentos da classe econômica, e poucos clientes aproveitaram a opção de alta qualidade, disse Kirby, da United. Agora os clientes têm mais opções, inclusive na cabine econômica, e eles gostam disso.
“A verdade é que melhoramos as coisas para todos”, disse ele.
Experiência vai além do voo
Os passageiros que viajam nas suítes de classe superior recebem rotineiramente tratamento prioritário para check-in, segurança, embarque e despacho e retirada de bagagem, bem como acesso a lounges.
“Essa experiência vai além da suíte ou do assento especificamente”, disse Geoff Ryskamp, vice-presidente e consultor executivo de hospitalidade da Medallia, que presta consultoria a empresas, inclusive companhias aéreas, sobre a experiência do cliente.
“Não é realmente apenas sobre o que está acontecendo na aeronave: começa com a experiência da reserva e se estende até a retirada da bagagem.”
As maiores companhias aéreas obtêm bilhões de dólares em receita por meio de seus cartões de crédito e programas de fidelidade.
As adesões aos planos de fidelidade aumentaram à medida que as companhias aéreas os vincularam a serviços como Wi-Fi gratuito a bordo e aumentaram o número de maneiras de acunmular pontos ao usar cartões de crédito com a marca dos principais bancos.
Consumidores que aderem aos programas geralmente adquirem cartões de crédito e, com o tempo, viajam mais e migram para viagens premium.
A Delta Air Lines terá um número recorde de assentos premium no próximo ano, enquanto a cabine principal doméstica ficará estável ou ligeiramente abaixo dos níveis atuais, disse o presidente Glen Hauenstein.
Bem mais de 50% de sua receita está ligada a produtos e serviços premium, taxas não relacionadas a passagens e gastos com cartão de crédito, disse ele em uma conferência do setor em setembro.
A Delta começou a voar com as Delta One suites em 2017. A companhia aérea tem expandido ativamente as cabines premium nos mercados doméstico e internacional, o que lhe permite vender opções mais sofisticadas e recompensar seus passageiros mais frequentes com upgrades, disse Hauenstein.
A American Airlines começou a voar com assentos denominados Flagship Suite em junho em uma nova aeronave Boeing Co. 787-9.
A companhia aérea espera ter 30 novos 787-9s até 2029, o que ajudará a aumentar pela metade o número de assentos deitados e na classe econômica premium até o final da década. A Flagship Suite também estará presente nas aeronaves Boeing 777-300 e Airbus SE A321XLR reformadas.
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As 51 Flagship Suites da American - incluindo oito que são versões preferenciais maiores - apresentam portas de privacidade e mais espaço na cama e na área de estar.
Os assentos reclináveis têm uma opção de “chaise lounge” e há uma base para carregamento sem fio de equipamentos e refeições com vários pratos.
Os 32 assentos da classe econômica premium da companhia aérea incluem apoios ajustáveis para as pernas e pés, além de outros acessórios.
No ano passado, a Delta ampliou a Premium Select das rotas internacionais para o mercado doméstico em alguns serviços entre Nova York e Los Angeles.
A American começará a oferecer sua classe Econômica Premium nos voos Nova York-Los Angeles em outubro.
Em ambas as companhias aéreas, os assentos têm prioridade no check-in, nas inspeções de segurança e no embarque, kits de amenidades, mais espaço para as pernas, opções de pratos quentes e um travesseiro e cobertor.
-- Com a colaboração de Stephanie Davidson.
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