Michael Milken abre museu para celebrar o capitalismo em momento de força do Estado

Com apoio de bilionários como Ken Griffin, David Rubenstein e Alice Walton, espaço perto da Casa Branca custou US$ 500 milhões e enaltece o ‘american dream’, enquanto EUA vivem um capitalismo de estado raro em sua história recente

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Bloomberg — O antigo “rei dos junk bonds” de Wall Street criou um museu de US$ 500 milhões para venerar o capitalismo americano no quarteirão da Casa Branca de Trump, em Washington, DC.

A celebração dos livres mercados e do empreendedorismo de Michael Milken conta, entre seus financiadores, com bilionários de Wall Street, incluindo Ken Griffin e David Rubenstein.

No saguão dourado do Milken Center for Advancing the American Dream, há atrações como uma exposição de hologramas de alta tecnologia, doada por Griffin, e um “Hall of Dreams”, doado pelo magnata do entretenimento David Geffen.

O museu é “sem remorso, esperançoso em relação ao sonho americano”, disse Rachel Goslins, diretora executiva do centro, durante um evento para a imprensa.

As exposições evitam questões que moldam a dinâmica política e econômica atual nos EUA, como as políticas de imigração do governo Trump e o que já tem sido classificado como capitalismo de estado dado o grau de intervenção.

Também não mencionam a parcela de americanos que consideram o capitalismo positivo, que está em seu nível mais baixo nas pesquisas Gallup desde 2010.

O museu foi criado por Milken, uma figura emblemática da década de 1980 de Wall Street, que acabou condenado por manipulação de mercado e fraude de valores mobiliários após uma investigação de negociação com informações privilegiadas.

Depois de sair da prisão, Milken se tornou um grande filantropo focado em política econômica e pesquisa médica e foi perdoado pelo presidente Trump em 2020.

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O centro ornamentado - situado do outro lado da avenida Pennsylvania, perto da Casa Branca e diretamente em frente ao prédio do Tesouro dos EUA - levou 12 anos para ser construído e combina cinco edifícios históricos, o que inclui um antigo banco que anteriormente era retratado no verso da nota de US$ 10.

Goslins disse que custou US$ 500 milhões para comprar e restaurar os prédios e depois preenchê-los com programas e exposições: “não foi barato no geral”.

A lista dos apoiadores do museu, que aparece em uma tela no saguão principal, inclui algumas das pessoas mais ricas do mundo: Rubenstein, cofundador da empresa de private equity Carlyle; Eric Schmidt, ex-CEO do Google; Neil Bluhm, magnata do setor imobiliário; e Alice Walton, descendente da família Walmart, e mulher mais rica do mundo, conforme oo Bloomberg Billionaires Index.

Outros financiadores incluem a embaixada dos Emirados Árabes Unidos, ricos em petróleo, e a Deloitte, uma das maiores empresas de consultoria do mundo.

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O museu é dividido em quatro pilares que diz representarem o “sonho americano”: educação, saúde, finanças e empreendedorismo.

As exposições permanentes nos andares de educação e saúde ainda estão em construção.

O nível inferior inclui a Foundations of the Dream Gallery, alimentada pela tecnologia de holograma de IA, que permite que os visitantes conversem com versões holográficas de pessoas famosas, como a ex-tenista Serena Williams.

A galeria inclui um jogo com tela sensível ao toque que pede ao visitante para identificar seu objetivo: “saúde”, “felicidade” ou “riqueza”.

Ao longo do jogo, é preciso tomar decisões importantes - sobre qual carreira seguir, imóveis a comprar e investimentos a fazer.

As notificações ao longo do jogo alertam o visitante caso ele esteja tomando decisões inadequadas que possam prejudicar sua capacidade de atingir seus objetivos.

O piso financeiro, financiado pela fundação da gigante imobiliária Lennar, destaca empresas americanas bem-sucedidas, como a própria Lennar.

O piso inclui uma menção às maneiras pelas quais certos grupos têm sido historicamente privados de acesso a dinheiro e recursos, e cita estatísticas que incluem: “empresários negros têm empréstimos negados a uma taxa quase duas vezes maior do que a de empresários brancos”.

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O Kenneth C. Griffin Holodeck Experience é um teatro de 360 graus que mergulha os visitantes em imagens de marcos americanos, como a Estátua da Liberdade, e inclui uma jornada ilustrada de um imigrante que foge de um país devastado pela guerra e encontra o sucesso nos EUA.

O Geffen Hall of Dreams, cercado por projeções de nuvens, exibe dados, pesquisas e histórias pessoais relacionadas ao sonho americano, incluindo números de cidadãos americanos recém-formados por ano.

No teto do salão está pendurado um lustre que incorpora 128 telas de LED com palavras com o tema do sonho americano.

O museu, que tem entrada gratuita, é aberto ao público neste sábado.

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