Por que a onda de investimento em infraestrutura para IA tem data de validade

A crescente demanda por infraestrutura de inteligência artificial (IA) gera um aumento significativo de investimentos em vários setores, especialmente na área de construção e operação de data centers, mas o impulso tende a se esgotar

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Bloomberg Opinion — Os hyperscalers, empresas com grandes operações de serviços de computação em nuvem, estão gastando centenas de bilhões de dólares em data centers para atender a demanda por ferramentas de inteligência artificial (IA).

Isso trouxe uma sorte inesperada para fabricantes, construtoras, fornecedores de materiais de construção e empresas de energia que tornam a construção possível.

Companhias como Caterpillar, GE Vernova, Siemens, Trane Technologies e Amphenol têm obtido uma grande parte desses gastos de capital, para o deleite de seus investidores.

Por enquanto, o boom ainda tem espaço para crescer. A introdução da inteligência artificial no local de trabalho e na sociedade será comparável à implantação da eletricidade e da internet, prevê o Morgan Stanley, que estima que os gastos de capital em infraestrutura de IA chegarão a US$ 3 trilhões até 2028.

Microsoft (MSFT), Alphabet (GOOG), Meta Platforms (META) e Amazon (AMZN) lideram essa tendência, e startups como a Anthropic e a xAI, de Elon Musk, também entram na onda. No entanto, a corrida do ouro digital não durará para sempre.

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A duração dessa bonança de gastos será fundamental para saber quando desmontar posição das ações com maior exposição à construção de data centers, como Vertiv Holdings e Amphenol.

Essas são as empresas que mais cresceram e ainda têm potencial de alta. Para gigantes da manufatura, como Caterpillar e Siemens, a explosão dos investimentos em IA é um forte vento a favor que, em algum momento, se transformará em um vento desfavorável.

No momento, ainda estamos no início do jogo da infraestrutura de IA, e não está claro quando todo esse investimento começará a dar retorno.

Será que esses criadores de modelos de IA exagerarão na infraestrutura e recuarão em uma consolidação dolorosa? Será que a demanda por IA encontrará um ritmo de crescimento com uma curva que aponta firmemente para cima?

Empresas de private equity entraram no jogo, à procura de joias escondidas que apresentam um crescimento impressionante nas vendas.

O acordo da Apollo Global Management para comprar uma participação majoritária na Stream Data Centers, que constrói, aluga e opera data centers, é apenas a ponta do iceberg de uma tendência de seguir o dinheiro.

A Blackstone se antecipou ao aumento da demanda ao comprar a QTS Realty Trust por cerca de US$ 10 bilhões em 2021.

A Brookfield Asset Management anunciou uma estratégia para concentrar investimentos em infraestrutura de IA em uma carta aos investidores na quarta-feira (6).

Pode apostar que mais empresas estão procurando lucrar com essa ampla bonança econômica.

A Amphenol, que fabrica cabos especiais e conectores de fibra óptica para data centers, é uma das empresas que estão no alvo de compradores estratégicos.

No início desta semana, a empresa concordou em comprar a unidade de soluções de conectividade e cabos da CommScope Holding por US$ 10,5 bilhões.

Cerca de 40% das vendas da unidade vêm de seus negócios de conectividade de data centers. Os investidores aplaudiram, elevando as ações em 5% desde que o acordo foi anunciado na segunda-feira (11).

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Isso só aumentou a alta de dois anos, em que as ações valorizaram 150%, elevando o valor de mercado da Amphenol para mais de US$ 130 bilhões.

A Vertiv Holdings é outra fornecedora de equipamentos de data centers com produtos que vão desde controles de energia até soluções de refrigeração.

As ações quadruplicaram nos últimos dois anos, à medida que as vendas aumentaram devido à forte demanda por data centers.

O grande movimento das ações é respaldado por um aumento de 36% no lucro operacional no primeiro semestre deste ano, que se soma ao crescimento de 60% nos primeiros seis meses de 2024.

Outras empresas, incluindo a GE Vernova e a Cummins, aproveitaram o aumento da demanda por energia devido à rápida expansão dos data centers.

Usinas elétricas movidas a gás natural serão construídas rapidamente para data centers que consomem muita energia, enquanto os chamados hyperscalers recorrem à energia nuclear como solução de longo prazo.

A Caterpillar, conhecida por seus equipamentos de terraplenagem, e a Cummins, fabricante de motores a diesel, fornecem grandes geradores para backup de data centers e energia de base.

A Caterpillar disse que suas vendas de geração de energia aumentaram 19% no segundo trimestre, principalmente devido à demanda dos data centers.

Fabricantes de aparelhos de ar condicionado, incluindo Trane e SPX Technologies, também são impulsionadas.

A SPX, cujo preço das ações subiu 40% este ano, lançou um novo produto de refrigeração para data centers que permite aos clientes escolher se preferem economizar mais água ou energia.

Não há vencedor absoluto, porque os hyperscalers “normalmente tentam evitar ser a única fonte”, disse Gene Lowe, CEO da SPX, em uma teleconferência sobre os resultados financeiros.

Empresas de construção com experiência na construção de data centers, como a Sterling Infrastructure, colhem os frutos. A Sterling concordou em comprar uma empresa de construção sediada no Texas para expandir para novas regiões a pedido dos clientes.

Eles querem que os data centers sejam construídos o mais rápido possível para se manterem à frente na corrida.

“O custo é sempre fundamental para os clientes, mas a velocidade é o mais importante”, afirmou Joseph Cutillo, CEO da Sterling, em uma teleconferência sobre os resultados financeiros. As ações da empresa subiram 78% este ano.

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A TopBuild, uma empresa instaladora de isolamento residencial, busca conquistar parte do mercado de data centers para compensar a fraqueza do mercado imobiliário.

Há 324 projetos de data centers em construção nos EUA e 110 em fase de engenharia, disse o CEO Robert Buck em uma teleconferência sobre os resultados financeiros.

A empresa também acompanha 2.000 projetos que estão em fase de planejamento. Em um campus de data centers recente no Arizona, a empresa forneceu serviços de telhado e instalação de isolamento. “Definitivamente vemos uma oportunidade”, disse Buck.

É improvável que a Microsoft, a Meta e outras empresas que investem em IA mantenham esse nível de gastos indefinidamente. Em algum momento, elas reduzirão os gastos e buscarão lucrar. O boom será grande. Navegar pela inevitável retração será complicado.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Thomas Black é colunista da Bloomberg Opinion e cobre os setores industrial e de transportes. Foi repórter da Bloomberg News e cobria logística, manufatura e aviação privada.

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