Por que a pré-locação de escritórios começa a ganhar força em São Paulo

Retorno de funcionários ao trabalho presencial reforça tendência de aumento dos preços do aluguel e de disputa acirrada pelas regiões mais nobres, segundo o diretor de Locação, Brokerage, Saúde e Pesquisa da CBRE, Felipe Giuliano

faria lima
28 de Julho, 2025 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — Com o retorno de funcionários ao trabalho presencial, a busca por espaços de escritório nas regiões mais concorridas de São Paulo tem ficado cada vez mais complexa – e cara.

Empresas de grande porte têm se deparado com a escassez de oferta de escritórios de qualidade nas regiões mais nobres da capital, o que deu origem a uma nova tendência: a pré-locação, ou seja, o fechamento de contrato antes da entrega do empreendimento.

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Segundo a CBRE, empresa global de soluções para a comercialização de imóveis comerciais, no primeiro semestre houve volume recorde de absorção bruta (435 mil metros quadrados) em São Paulo. Empresas dos setores financeiro, de tecnologia, saúde e comércio lideraram o aumento de demanda.

Ainda de acordo com levantamento da CBRE, os escritórios registraram a maior absorção líquida em 17 anos e recuo nas taxas de vacância.

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“A maior absorção líquida é consequência do retorno dos funcionários ao escritório ao longo do ano passado. Muitas empresas voltaram em 2024 e esse movimento continuou ainda no primeiro semestre de 2025”, disse o diretor de Locação, Brokerage, Saúde e Pesquisa da CBRE, Felipe Giuliano.

“Este movimento não é observado somente no Brasil mas no mundo inteiro.”

Ele disse que as maiores empresas já não têm opções prontas nas regiões da Faria Lima, de Pinheiros e até da avenida Paulista.

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“As empresas [que demandam] acima de 10 mil metros quadrados, hoje, vão ter que buscar uma pré-locação, porque poucos prédios podem atender corporações desse tamanho nessas regiões.”

Giuliano destaca que este movimento já ocorreu no passado, em meados de 2011.

“Empresas que fizerem uma análise de mercado com antecedência vão conseguir condições melhores [de contrato] em prédios que não estão 100% ocupados. Aqueles que demorarem talvez terão menos flexibilidade e vão pagar mais caro.”

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Separação de escritórios

Outra tendência no radar é a divisão de grandes empresas em torres de escritórios separados: as áreas que têm contato direto com clientes e público externo (front office) se instalam em uma localidade, geralmente as mais procuradas do mercado, e os setores administrativos (backoffice) ficam em outras regiões.

Giuliano disse que se todas as empresas da capital resolvessem retornar ao trabalho 100% presencial, não haveria espaço suficiente. Os reflexos já são sentidos.

“As regiões no entorno da Faria Lima estão apresentando atratividade e subindo os preços de locação.”

Ele citou como exemplo de demanda elevada no segmento triple A a região da Paulista, que recentemente atingiu uma vacância de apenas 5,6% com a locação quase integral do edifício “Passeio Paulista”, localizado na rua da Consolação.

Um dos inquilinos mais recentes do empreendimento é o Banco do Brasil (BBAS3).

Esse movimento de demanda aquecida coroa uma retomada depois de período de incertezas sobre o modelo de escritórios no auge da pandemia de covid.

O executivo afirmou que empresas de menor porte, que ocupavam espaços abaixo de mil metros quadrados, foram as primeiras a devolver escritórios durante a pandemia, devido à maior flexibilidade para colocar os funcionários em home office. Logo depois, o movimento se espalhou entre médias e grandes companhias.

Em paralelo, houve uma paralisação da construção de novos empreendimentos, diante do aumento substancial dos custos dos materiais e das restrições sanitárias.

O retorno gradual ao escritório em 2022 e 2023 aconteceu principalmente entre pequenas e médias. Empresas de grande porte – que ocupam espaços acima de 10 mil metros quadrados – retornaram com mais força ao trabalho presencial no ano passado.

Absorção recorde em 17 anos

De acordo com o levantamento da CBRE, a absorção líquida na cidade de São Paulo atingiu 165 mil metros quadrados no primeiro semestre, o maior volume para o período desde 2008, com avanço nas locações mesmo diante de devoluções pontuais.

A vacância média da capital passou de 19,8%, no segundo trimestre de 2024, para 17,8% em igual período deste ano.

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Entre os edifícios triple A, o recuo foi ainda maior, passando de 16,6% para 11,8% na mesma base de comparação.

Segundo a CBRE, a demanda permanece concentrada em regiões com infraestrutura consolidada e oferta de edifícios de alto padrão, como Jardins, Itaim, Pinheiros e Chucri Zaidan.

Conforme o levantamento, a oferta de novos empreendimentos triple A foi mais robusta em São Paulo no segundo trimestre, mesmo com um perfil de imóveis menores.

Para a CBRE, a combinação entre ocupação elevada e limitação de oferta qualificada reforça o potencial para transações estratégicas, reposicionamento de portfólios e valorização de médio a longo prazo nas principais regiões corporativas do país.

“A tendência é a de aumento dos aluguéis porque a oferta está diminuindo”, disse o diretor da CBRE.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.