Bloomberg Línea — Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e referência em ativismo climático, com um Nobel da Paz concedido a ele pelo seu trabalho na área, defendeu o papel central do Brasil na transição para uma economia global sustentável.
“O Brasil é o centro da discussão global sobre o papel da natureza nos negócios, na indústria, no clima, no futuro do mundo”, afirmou Gore como keynote speaker em painel durante o evento Expert XP, em São Paulo, nesta sexta-feira (25).
Segundo o ex-vice presidente americano de 1993 a 2001, no governo de Bill Clinton, o país reúne as principais características necessárias para liderar a economia verde: matriz elétrica majoritariamente renovável (cerca de 88%), rica biodiversidade e potencial competitivo em novas tecnologias como hidrogênio verde, aço e cimento de baixo carbono, além de infraestrutura digital sustentável.
“[O país] possui a combinação perfeita de oportunidades para as indústrias verdes do futuro.”
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De olho nesse potencial, a Generation Investment Management, gestora de Gore, irá ampliar sua atuação no país, com um escritório em São Paulo e destinação de cerca de 80% de seus recursos para projetos no país, por meio da subsidiária Just Climate.
“A Generation Investment Management se mudou para cá para ficar porque acreditamos que o futuro irá começar a acontecer aqui no Brasil. Isso coloca muita responsabilidade nas indústrias brasileiras”, disse.
Al Gore defendeu ainda que a suposta dicotomia entre sustentabilidade e lucro não é uma realidade.
“Não se trata de caridade. Queremos entregar um retorno aos nossos investidores maior que o benchmark”, afirmou.
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COP30 e os combustíveis fósseis
O protagonismo brasileiro na agenda ambiental deve ganhar um reforço importante com a próxima Conferência do Clima da ONU, que será realizada em novembro em Belém (PA), na Amazônia.
“O Brasil sediar a COP30 marca um momento de fechamento de ciclo”, destacou Gore se referindo à conferência ECO-92, no Rio de Janeiro, reconhecida como uma das mais importantes no debate ambiental.
“Voltamos ao país que, há 33 anos, começou todo esse processo.”
O ex-vice-presidente também criticou a influência da indústria de combustíveis fósseis nas conferências internacionais como a própria COP e apontou o setor como o grande vilão da crise climática.
“Nós, humanos, temos um impacto maior do que qualquer outra força da natureza porque somos extremamente dependentes de carvão, petróleo e gás metano. É isso que está causando esta crise: mais de 80% dela vem de combustíveis fósseis”, afirmou.
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Para Al Gore, o tema deveria ser o grande foco de discussão na conferência. “A COP30 deve focar – espero que foque – na redução da queima de combustíveis fósseis, assim como já foi feito no Brasil", afirmou.
O americano reconheceu que o Brasil também tem uma agenda fóssil, com exploração de petróleo e tendo a Petrobras como uma de suas maiores empresas. Por outro lado, o país é visto como um modelo por obter quase 90% de sua energia de fontes renováveis.
“O Brasil tem a oportunidade de defender a humanidade e o futuro ao dizer que não dependemos de combustíveis fósseis”.
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