Startup apoiada por Bill Gates diz ter criado método para produzir ‘aço verde’ barato

Hertha Metals, que conta com investimentos do bilionário da tecnologia, diz que seu processo obteve sucesso na produção em testes; é um primeiro passo para reduzir as emissões de um dos setores que mais contribuem para o aquecimento global

A produção de aço é uma das principais responsáveis pelo aquecimento global. (Foto: Jason Alden/Bloomberg)
Por Coco Liu
22 de Julho, 2025 | 05:34 PM

Bloomberg — Uma empresa iniciante apoiada pelos bilionários da tecnologia Bill Gates e Vinod Khosla afirma ter testado com sucesso uma nova abordagem para a fabricação de aço que minimiza as emissões de gases do efeito estufa sem aumentar os custos em relação ao aço tradicional.

A Hertha Metals, sediada em Conroe, no Texas, afirma que agora consegue produzir uma tonelada de aço verde por dia em uma instalação piloto nos arredores de Houston, processo que exige menos etapas e recursos do que os métodos existentes.

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Embora o volume seja insignificante, a startup descreve a produção como um marco crucial para uma tecnologia que existe há apenas alguns anos.

A Hertha começará a construir uma fábrica de demonstração maior no ano que vem no Texas, com capacidade anual de mais de 9.000 toneladas.

A empresa espera passar para a produção comercial até 2031, quando, segundo ela, será possível produzir aço verde mais barato do que o aço tradicional.

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A produção de aço é uma das principais responsáveis pelo aquecimento global, liberando mais dióxido de carbono do que o transporte marítimo e a aviação combinados.

Várias empresas trabalham para reduzir as emissões do aço, mas os suprimentos continuam pequenos.

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O crescimento estagnado da produção de hidrogênio limpo, do qual alguns produtores de aço verde precisam, e uma mudança brusca na política climática dos EUA sob o governo Trump agora desaceleram o impulso.

Mesmo que todas as usinas de aço verde anunciadas se concretizem até o final da década, elas representarão 6% do que as siderúrgicas globais produzem atualmente, segundo relatório de abril da BloombergNEF.

Parte dessa transição lenta se deve ao alto custo do aço verde, diz Laureen Meroueh, fundadora e CEO da Hertha Metals.

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“Criar algo baseado apenas no fato de ser benéfico para o clima não é suficiente nestas indústrias de commodities”, afirma.

A expansão da Hertha ocorre em um momento em que muitas outras empresas do setor reduziram suas ambições.

Globalmente, o investimento em novos projetos de aço verde caiu mais da metade em 2024, para US$ 17 bilhões, registrando seu maior declínio anual em seis anos.

Meroueh diz que 30% dessa capacidade adicional no Texas será usada para produzir aço verde.

A capacidade restante será usada para fornecer ferro verde de alta pureza aos fabricantes americanos de ímãs de terras raras, usados em computadores, carros elétricos e dispositivos de imagens médicas.

A escassez persistente nos EUA torna o ferro de alta pureza um produto valioso, diz Meroueh, e ela espera que a planta de demonstração da Hertha atinja o ponto de equilíbrio ou até obtenha lucro.

Para reduzir sua pegada de carbono, algumas siderúrgicas verdes capturam CO2 de usinas convencionais, como fez a indiana Tata Steel.

Outras, como a startup sueca H2 Green Steel, substituem o carvão amplamente usado na produção convencional por hidrogênio verde, um combustível livre de carbono.

Há também startups, incluindo a Electra, sediada no Colorado, que usam eletricidade livre de emissões para produzir ferro verde e depois convertem esse ferro em aço verde em fornos elétricos a arco.

Mas nenhuma delas rompeu com o processo tradicional de produção de aço em duas etapas, que envolve a redução do minério de ferro antes de transformar o ferro em aço.

A Hertha adota uma abordagem diferente. A startup derrete pedaços de minério de ferro em um forno a uma temperatura de cerca de 1.600°C usando eletricidade, enquanto introduz gás natural no forno e o divide em carbono e hidrogênio.

Ela também se baseia em métodos com patente pendente para influenciar como os elementos químicos no forno reagem entre si. Com tudo isso acontecendo simultaneamente, a Hertha diz que pode ir do minério de ferro ao aço em uma única etapa, reduzindo os custos.

Simplificar a produção de aço é uma “tentativa ambiciosa”, diz Allen Tom Abraham, que lidera a pesquisa de materiais sustentáveis na BloombergNEF.

Apesar de a técnica industrial de produção de aço existir há mais de um século, Abraham afirma que muitas usinas convencionais ainda descrevem seus fornos como a “caixa preta”, devido ao desafio de compreender totalmente as reações químicas que ocorrem em seu interior.

Também não se sabe se a abordagem da Hertha pode cumprir sua promessa ao tentar aumentar a escala da produção.

“Para muitas tecnologias emergentes, o que funciona bem em escala piloto não necessariamente funciona bem em escala industrial”, diz Abraham.

Meroueh se mantém reservada sobre como funciona exatamente a tecnologia da Hertha, alegando questões de propriedade. Quando gás natural e eletricidade de fontes renováveis são usados, a Hertha estima que pode reduzir as emissões de carbono em mais de 50% comparado à produção tradicional baseada em carvão.

Se a empresa usar hidrogênio produzido com energias renováveis, afirma descarbonizar quase completamente o processo. Mas não está claro quando a empresa poderá fazer essa mudança, já que o hidrogênio verde continua proibitivamente caro.

Mackenzie Cool, associado sênior que trabalha com questões de transição industrial no think tank RMI e na aceleradora de tecnologia climática Third Derivative, vê o trabalho da Hertha como “uma inovação promissora para limpar a produção de aço”.

Métodos que eliminam as emissões de carbono na produção de aço podem custar mais do que o status quo mesmo em 2050, segundo estimativas da BNEF.

Essa diferença de custo tem representado um grande obstáculo para a implantação da tecnologia.

O conglomerado alemão Thyssenkrupp alertou no início deste ano que sua usina siderúrgica multibilionária que utiliza hidrogênio verde corre o risco de se tornar economicamente inviável.

A Cleveland-Cliffs, a segunda maior siderúrgica dos Estados Unidos, também anunciou em junho que cancelou seu plano de US$ 500 milhões para construir um projeto de aço verde baseado em hidrogênio em Ohio.

“A tecno-economia é o aspecto mais crítico” para que a implantação da tecnologia climática ganhe escala, diz Rajesh Swaminathan, sócio da Khosla Ventures.

A Hertha arrecadou mais de US$ 17 milhões e planeja lançar uma rodada de financiamento série A ainda este ano para financiar sua expansão.

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