Bloomberg Línea — Os anos de juros altos no Brasil têm representado um impulso para alguns segmentos. Um deles é o de consórcio, que ganhou atratividade e tem registrado seus melhores resultados em duas décadas.
Neste ano até maio, teve crescimento de mais de 30% em créditos comercializados e caminha para superar a marca de R$ 400 bilhões em 2025.
Essa expansão cria oportunidades associadas à operação das empresas que lidam diretamente com o público final, em um mercado que chega a 11,7 milhões de participantes ativos e cresce mais de 10% ao ano.
É o caso da Consorciei, que lidera a área de soluções de tecnologia e financeiras para o mercado secundário, que permitem digitalizar o setor e alavancar negócios em cima das cotas comercializadas, em particular de desistentes.
Com crescimento médio de 80% ao ano há três anos, geração de caixa e resultado positivo desde 2023, a companhia cofundada em 2018 por Alexandre Caliman Gomes, João Ferraz de Almeida Prado e Pedro Amoroso Lima tem se destacado no portfólio de High Growth do Patria Investimentos.
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A Consorciei atualmente integra mais de 40 empresas - entre bancos, montadoras e independentes - em ecossistema com sua plataforma SaaS (Software-as-a-Service) e transacionou mais de R$ 2,5 bilhões em direitos creditórios de cotas, com atendimento via administradoras a mais de 150 mil participantes.
“O mercado de consórcios passa por uma mudança estrutural. A digitalização da jornada, a entrada de novos canais e o uso da cota como ativo financeiro abriram espaço para soluções que integram tecnologia, crédito e dados”, disse Bruno Tupinambá, managing director de High Growth do Patria, à Bloomberg Línea.
“A Consorciei foi vista como catalisadora de um movimento de modernização do consórcio, antecipou essa transformação e hoje lidera boa parte das inovações no setor”, disse o executivo.
É um mercado em que a receita total das administradoras gira em torno de R$ 22 bilhões por ano.
“Desse total, estimamos que entre R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões sejam consumidos com atividades operacionais e de distribuição, como vendas, processamento, atendimento, cobrança, pós-venda e gestão de grupos”, disse o cofundador João Ferraz de Almeida Prado à Bloomberg Línea.
“São justamente essas frentes que concentram maior ineficiência e em que há maior potencial de transformação com tecnologia”, completou.
A vertical de High Growth Patria é voltada à aceleração de negócios que têm a tese de reinventar setores tradicionais por meio da aplicação de tecnologia e de execução, com alto potencial de ganho de escala.
Segundo o executivo, há um paralelo com a tese de vertical lending: “assim como fintechs dominaram nichos específicos de crédito com tecnologia - como veículos, consignado ou antecipações -, a Consorciei estrutura um ecossistema completo com base no consórcio - usa a cota como ativo e organiza toda a jornada ao redor.”
Trata-se de uma tese já validada no setor financeiro: a construção de infraestrutura vertical para produtos específicos, com domínio sobre jornada, dados e tecnologia.

O Patria absorveu o Consorciei em seu portfólio de forma indireta, por meio de seu investimento inicial de 40% na Kamaroopin no fim de 2021 - depois adquirida integralmente. A gestora liderada por Pedro de Andrade Faria aportou na companhia em 2018, como primeira investidora institucional, e acompanhou todas as rodadas entre 2018 e 2021. Tupinambá era um dos sócios da Kamaroopin.
A empresa não realizou novas rodadas desde então, um reflexo, segundo o executivo, de sua capacidade de crescer com disciplina operacional, automação crescente e geração de caixa - os dados financeiros não são revelados.
O Patria, que hoje conta com cerca de R$ 260 bilhões em ativos sob gestão no Brasil e no exterior em todas as suas verticais e foco em alternativos, tem contribuído também com gestão estratégica e governança.
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Em sua jornada de sete anos, a Consorciei evoluiu e ampliou a sua proposta de valor. A empresa nasceu com foco em endereçar o que descreve como “uma das três grandes dores da indústria de consórcios”: a alta taxa de desistência dos participantes (em média, 50% o fazem antes do fim do plano).
A plataforma desenvolvida oferece opções para que o consorciado desistente consiga antecipar o recebimento de seus valores futuros, ao transformar cotas inativas em ativos líquidos e atrativos para investidores.
“Desde então, evoluímos para atacar também as outras duas dores principais do setor: a distribuição cara e analógica e a experiência do cliente frequentemente negativa, com índices de NPS [Net Promoter Score] muito baixos”, disse o cofundador.
Mais recentemente, a Consorciei agregou duas soluções para administradoras: um produto considerado pioneiro de uso da cota como colateral para empréstimos - são mais de R$ 100 bilhões já pagos que podem ser utilizados para esse fim - e uma plataforma de negociação de cotas contempladas não utilizadas.
A plataforma, denominada Contemplei, é 100% digital e foi planejada para permitir ao participante do consórcio realizar a negociação de forma simplificada e direta.
“É um espaço de mais de R$ 40 bilhões em crédito disponível, hoje marcado por informalidade, baixa organização e risco de fraudes”, disse Almeida Prado.
Outra novidade recente foi a criação de canais de venda que desejam ter seus próprios consórcios integrados às administradoras.
Segundo o cofundador, “a jornada hoje vai da venda ao pós-venda e ao mercado secundário, “com soluções white label personalizadas, uso de inteligência artificial conversacional ativa e padrão de segurança de dados". Isso se reflete em melhores taxas de conversão e NPS mais elevado.
A tecnologia de IA conversacional para venda digital de consórcios realizou mais de 8 milhões de interações e chegou a quase dobrar a eficiência de times de vendas.
Para Tupinamba, do Patria, “o uso intensivo de inteligência artificial, que permite jornadas personalizadas, automatizadas e altamente eficientes”, tem sido fundamental para quebrar a barreira da digitalização do setor.
“Diferente de produtos como cartão de crédito e empréstimos, o consórcio envolve uma decisão mais consultiva, que envolve múltiplas variáveis na contratação ou na desistência. Isso torna o produto mais complexo e foi, provavelmente, um dos motivos para a digitalização do setor ter demorado mais a acontecer.”
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