Bloomberg Línea — Depois de aproveitar a janela de IPOs em 2021 para devolver mais de US$ 1 bilhão a investidores, a Warburg Pincus voltou às compras no Brasil.
A gestora americana de private equity, com quase US$ 100 bilhões globalmente, tem apostado em ativos menos dependentes de negócios de capital intensivo e mais resilientes à volatilidade macroeconômica brasileira.
“Nós fomos diligentes em 2021, aproveitamos a janela e nos tornamos vendedores líquidos. Desde então, voltamos a ser compradores líquidos. Colocamos mais de US$ 1 bilhão no Brasil entre 2022 e 2024”, disse Bruno Maimone, co-head da Warburg Pincus no país, em entrevista à Bloomberg Línea.
Leia mais: Riverwood quer investir US$ 400 milhões e mira fatias maiores de empresas no país
“Nós temos sido bastante ativos no Brasil. Estamos abertos para novas oportunidades.”
Segundo o executivo, que se juntou ao fundo em 2017, a Warburg Pincus não trabalha com uma projeção de quanto deve investir localmente.
A gestora de private equity procura por empresas que detêm posições de lideranças em seus respectivos mercados - ou que têm potencial para conquistar esse status. No centro da estratégia estão negócios que entregam um ritmo acelerado de crescimento, acima de 40%, e com eficiência de capital.
As apostas estão mais focadas em negócios domésticos e em empresas de software, dados, fintechs e na interseção entre tecnologia e serviços financeiros.
As teses já embasa investimentos em nomes como Jusbrasil, Blip, Sólides, Superlógica, Scanntech, Alper Seguros e Contabilizei - esta foi a última investida anunciada e na qual a Pincus se tornou acionista majoritária.
“Nós estamos interessados em demandas muito latentes no Brasil. Software para RH (Sólides), plataforma de comunicação (Blip), automação de imposto de contabilidade para PMEs (Contabilizei). Eu não diria que é à prova de macro, mas continua a ser uma oportunidade muito relevante”, afirmou Maimone.
A estratégia da gestora tem caminhado em dois sentidos: envolve investimentos primários — em que o dinheiro vai para o caixa, como na Scanntech, para financiar a expansão na América Latina — e também cheques secundários.
“Empresas como Jusbrasil e Contabilizei não precisavam levantar capital. Estavam no breakeven ou lucrativas, com a lição de casa feita. Nós queríamos muito ser investidores nessas companhias e, junto com fundadores e acionistas, construímos um caminho para investir a partir de secundárias maiores”, contou.
Leia mais: Patria investe em empresa de mobilidade elétrica com aporte de fundo de high growth
Apesar da instabilidade macroeconômica local, a Warburg Pincus mantém o otimismo em relação ao Brasil. Segundo Mamoine, o portfólio de tecnologia da casa cresceu organicamente quase 40% em 2024, sem queimar caixa.
O sócio conta que, mesmo após os investimentos recentes, a gestora mantém um pipeline comparável com o observado nos últimos dois anos, razão pela qual prevê “continuar a colocar dinheiro para trabalhar”.
“No momento, estamos analisando ativamente pelo menos um par de negócios que achamos interessante. Nosso foco é continuar investindo no Brasil.”
Além da tecnologia, outro setor que a Warburg monitora de perto é o de saúde.
“A interseção entre tecnologia e saúde ainda está no começo no Brasil. Nós temos bastante experiência global nesse setor, portanto, estamos atentos. Adoraria ver esse setor amadurecendo e contar com oportunidades chegando ao nosso tamanho de cheque”, afirmou Mamoine.
O fundo investiu globalmente nos últimos anos em negócios variados da área da saúde, como nas indianas Appasamy, fabricante de equipamentos oftalmológicos, na Meril, especializada em dispositivos médicos inovadores, e na chinesa Haihe Pharmaceutical, biofarmacêutica focada em tratamentos oncológicos.
E ainda nas americanas Ensemble Health Partners, que oferece serviços de gestão de receita hospitalar, e BondVet, rede de clínicas veterinárias voltada ao atendimento de urgência.
Leia também
Esta empresa brasileira atraiu a OpenAI para acelerar o impacto no setor de moradia