A MAG Investimentos fez da renda fixa um de seus pilares. E acelera a captação

Gestora com mais de R$ 17 bi em ativos e parte do Grupo MAG, que tem a Aegon como sócia, aposta em novo fundo de previdência que replica estratégia do ‘estrelado’ MAG Cash, contam Fernando Gabriades e Claudio Pires à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — A manutenção das taxas de juros em dois dígitos por um período prolongado na economia brasileira causou um “estrago” no mercado de renda variável e na indústria de fundos multimercados nos últimos anos.

Mas gestoras que já tinham foco em estratégias e fundos de renda fixa conseguiram atravessar o período com conquista de investidores e aumento da captação.

Esse tem sido o caso da MAG Investimentos, gestora com mais de R$ 17 bilhões em ativos e parte do Grupo MAG, que conta uma seguradora entre as maiores do país. E que tem como sócia com 50% a holandesa Aegon, holding com presença global e mais de US$ 1 trilhão em investimentos que geram receita.

Diante da demanda aquecida, a gestora decidiu colocar no mercado um novo fundo de previdência com estratégia em renda fixa, segundo informação antecipada à Bloomberg Línea.

O produto - denominado Prev Cash - foi planejado diante do interesse de investidores por um fundo semelhante a um dos principais da casa, o MAG Cash, mas com características que atendem a objetivos de longo prazo, com benefícios tributários como a ausência do chamado “come-cotas”.

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A expectativa é chegar a R$ 500 milhões em patrimônio com o produto até o fim do ano.

O novo fundo reflete uma estratégia de distribuição e de busca de compreensão das demandas de mercado executada ao longo dos anos, segundo Fernando Gabriades e Claudio Pires, sócio-diretor comercial e sócio-diretor de investimentos da MAG, respectivamente, em entrevista à Bloomberg Línea.

Desde o início do ano passado, o total de ativos sob gestão da MAG saltou de cerca de R$ 12 bilhões para perto de R$ 17 bilhões. O crescimento foi da ordem de 40%.

“Nós já tínhamos fundos e estratégias estruturados e pudemos ‘surfar’ essa onda de interesse pela renda fixa e pelo crédito privado”, disse Gabriades.

Segundo ele, tais produtos seguem com captação relevante, ao mesmo tempo em que a gestora tem conseguido também diversificar o passivo.

Estratégias de renda fixa respondem por 62% dos ativos da MAG, enquanto multimercados possuem fatia relevante com 34%.

Investidores institucionais e RPPS (Regime Próprio de Previdência Social, que são servidores públicos) respondem por 54% dos ativos, enquanto plataformas digitais para o investidor de varejo e alocadores contribuem com 22%.

O novo fundo de previdência integra a “família Cash”, liderada pelo experiente gestor Sérgio Machado, que se juntou à MAG como sócio há pouco mais de um ano, em março de 2024. O seu fundo hoje denominado MAG Cash saltou de R$ 300 milhões para R$ 3 bilhões de patrimônio em dois anos.

O novo fundo atua por meio da aplicação em títulos e valores mobiliários de renda fixa, com a compra de títulos de bancos com elevada nota de rating e operações a termo de bolsa, sem risco direcional ou de crédito corporativo. E tem conseguido entregar perto de 110% do CDI desde o seu início.

Os executivos contaram que observam uma espécie de sofisticação da classe de ativos de renda fixa no Brasil. O próximo movimento pode vir de fundos high yield, em particular no momento em que as taxas de juros voltarem a cair.

Outra tendência é a de aumento da oferta de estratégias offshore, como parte justamente da parceria com a Aegon. “Temos recebido demanda por investimento em ativos internacionais. Antes, era para renda variável, mas agora vem para renda fixa, como global bonds”, disse Gabriades.

Um movimento nessa direção foi dado em abril, com o lançamento de um fundo de renda fixa offshore em parceria com a Aegon Asset Management, com patrimônio inicial de cerca de R$ 2 bilhões - chamado de MAG Global Credit.

“Temos uma atuação relevante junto a single e multi family offices, com oferta tanto de portfólio onshore como offshore, o que inclui montar feeders de fundos da Aegon no mercado global", disse Gabriades.

Do patrimônio de mais de R$ 17 bilhões da MAG Investimentos, menos de 20% é do chamado capital “proprietário” da seguradora, o que é uma característica incomum entre players do setor, que em geral possuem esse mix invertido e menor parcela de recursos de terceiros.

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Essa é uma das duas características que diferenciam a MAG de outras seguradoras, segundo Pires, diretor de investimentos.

No grupo, a captação de recursos inclui de fundos de pensão a investidores de varejo por meio de plataformas como as da XP e do BTG Pactual.

No ano passado, a gestora trouxe uma equipe para atender clientes de RPPS, diante da avaliação de oportunidades de crescimento. Tinha uma meta de captação de R$ 1 bilhão nessa frente, que foi atingida com três meses de antecedência.

A MAG também aproveitou para reforçar o time que cobre renda variável. “O mercado é cíclico. Alguma hora a demanda vai voltar e estaremos reforçados e prontos para aproveitar o momento”, disse o diretor comercial.

Segundo ele, a MAG tem mantido desde 2024 conversas com duas gestoras para uma eventual incorporação de fundos de ações e multimercados, que podem resultar em acordos nos próximos meses.

Como parte do movimento de expansão, o Grupo MAG acaba de inaugurar uma nova sede no Edifício São Luiz, no Itaim, em São Paulo, que abrigará tanto a gestora como a seguradora, devidamente segregadas por questões de regulação.

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A outra característica que difere a gestora do Grupo MAG de outros players é o fato de que está inserida em uma joint venture com uma holding internacional, o que se traduz, segundo o diretor de investimentos, em maior governança e troca de informações com gestoras em outros países.

“Temos calls mensais com mais de duas dezenas de assets no mundo para discussão de temas específicos, como macro, renda fixa, equities, mercados emergentes", disse Pires.

Há também atuação próxima com mesas de operações e times comerciais.

A MAG Investimentos existe dentro do grupo que reúne também a seguradora desde 2013. Na ocasião, a asset tinha cerca de R$ 500 milhões sob gestão, em quatro fundos e uma carteira administrada da seguradora.

O início da distribuição se deu no mercado institucional, com foco em fundos de pensão.

A Aegon, por sua vez, entrou no capital da Mongeral em 2009, ao adquirir 50% da seguradora. No mundo, ela tem uma atuação mais ampla, com mais de duas dezenas tanto de assets como de seguradoras, organizadas em duas holdings.

A Aegon tem mais de US$ 1 trilhão de investimentos que geram receita e está entre as dez maiores seguradoras do mundo.

A decisão de que dispor de uma asset fazia sentido dentro da própria configuração da Aegon no mundo, e que pudesse cuidar das reservas técnicas da seguradora, foi tomada depois que o deal relativo à sua entrada foi aprovado.

Segundo os executivos, os resultados da operação no Brasil da MAG têm sido bem avaliada pela Aegon, que elegeu o país como um de seus focos para investimentos, junto com a Ásia. A estratégia passa pelo crescimento orgânico e por meio de M&As, como citado, para o negócio de gestão.

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