Bloomberg — Nenhum outro exército no mundo poderia ter feito isso.
Essa foi uma das “Verdades”, como são chamadas, que o presidente Donald Trump proclamou durante as primeiras horas da manhã (horário iraniano) de domingo, e que seu secretário de Defesa, Pete Hegseth, e o oficial militar de mais alta patente, Dan Caine, repetiram em suas próprias apresentações.
E isso realmente é verdade.
A Operation Midnight Hammer (Operação Martelo da Meia-Noite, em tradução livre), o nome-código para o “pacote de ataque” americano (como Caine continuava chamando) contra o Irã, foi uma demonstração impressionante de destreza militar.
Envolveu 125 aeronaves e 75 tipos de armas de precisão no total, além de submarinos e apoio vindo de terra, espaço e ciberespaço, tudo coordenado de forma impecável.
Começou, e prosseguiu, com um engodo magistral, quando alguns bombardeiros B-2 se deixaram rastrear voando para oeste a partir dos Estados Unidos, enquanto os verdadeiros caçadores seguiam para o leste em modo furtivo.
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Eles entraram no espaço aéreo iraniano, lançaram 14 bombas GBU-57 “bunker busters” — as maiores bombas não nucleares do mundo, nunca antes utilizadas — e, segundo afirma Trump, “aniquilaram” o programa nuclear do Irã.
“Atualmente, não temos conhecimento de nenhum disparo contra o pacote de ataque dos EUA”, comentou Caine com seu semblante estoico, enquanto alguns dos B-2 ainda estavam no ar a caminho de casa.
Tudo indica que essa força americana jamais foi detectada, mesmo enquanto perfurava montanhas inteiras com sua carga explosiva.
Como missão, a Martelo da Meia-Noite é um triunfo impressionante. Também parece e transmite a sensação do tipo de “força” que Trump segue afirmando ser a característica que distingue sua política externa — em oposição à de seu antecessor.
Mas tática é uma coisa, estratégia é outra.
O slogan completo de Trump é “paz por meio da força”, e ele e Hegseth esperam que esse sucesso tático inicial leve a uma vitória estratégica.
Ao contrário dos israelenses, Trump não define (ainda) isso como uma mudança de regime no Irã, mas como o objetivo “limitado” de eliminar, ou ao menos retardar, o programa nuclear iraniano.
Espero muito que esse seja o desfecho — e não uma escalada interminável e uma conflagração que termine, afinal, em uma bomba nuclear iraniana.
E, no entanto, ouço ecos sombrios de presidentes americanos anteriores proclamando prematuramente “Missão Cumprida”.
No Afeganistão, no Iraque, na Síria e em outros lugares, a primeira parte — que não envolve poder brando ou diplomacia, mas, sim, armamentos e bombas, campo no qual os Estados Unidos não têm igual — revelou-se a mais fácil. (A única missão dos B-2 mais longa do que a deste fim de semana foi realizada logo após o 11 de Setembro, quando os EUA atacaram o Afeganistão.)
É o que vem depois — e não apenas nas semanas seguintes, mas ao longo dos anos — que representa os problemas: o caos e os conflitos, o crescimento inesperado de novas redes terroristas; o surgimento de guerras civis ou a ascensão de ditadores imprevistos; a redireção dos recursos americanos para uma região (o Oriente Médio) em detrimento de outras (como o Leste Asiático, por exemplo).
Tenha-se em mente que Pequim, Moscou e Pyongyang também estão lendo o Truth Social e ajustando seus próprios cálculos, assim como os adversários dos EUA ao redor do mundo.
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Como sabiam os antigos gregos — e como sucessivos presidentes americanos continuaram esquecendo —, quanto maior o poder, maior o risco de hubris. Esse é o primeiro ponto de preocupação quanto a esse pacote de ataque do fim de semana.
A mensagem de Trump à sua base MAGA sempre foi o oposto disso, equivalendo-se a uma contenção na política externa, senão a humildade. “America First” era, em grande parte, uma promessa de manter os EUA fora das “guerras eternas” de seus antecessores.
É por isso que parte de seu movimento está horrorizada com essa guinada dos acontecimentos.
Republicanos no Congresso, agora que os bombardeios começaram, estão previsivelmente se alinhando a Trump.
Mas outros, com mais liberdade para dizer o que pensam, não estão. Entre eles está Steve Bannon, parte do primeiro governo Trump e um termômetro da ala isolacionista do MAGA, que considera essa intervenção americana no conflito entre Israel e Irã um “aspecto em desenvolvimento da Terceira Guerra Mundial”.
Democratas no Capitólio, que também anseiam intensamente pela desnuclearização do Irã, apontam outro problema com a Martelo da Meia-Noite.
“Está claro que o presidente Trump foi superado pelo primeiro-ministro Netanyahu”, diz o senador Chris Van Hollen. Por mais que Trump tente agora controlar a narrativa, ele queria fazer não uma guerra, mas um acordo com o Irã, ao passo que Benjamin (Bibi) Netanyahu vinha tentando fazer com que os EUA se juntassem a Israel em um bombardeio para resolver o problema.
Trump aceitou a campanha de Israel apenas quando percebeu que não conseguiria deter seu aliado. Ele só se empolgou com ela ao ver os ataques israelenses tendo sucesso de forma tão fotogênica.
Stephen Wertheim, da Carnegie Endowment for International Peace, argumenta que Israel “agiu menos para impedir uma bomba iraniana do que para impedir a diplomacia americana”.
É outra forma de dizer que Bibi se antecipou a Donald, e este permitiu (o que dificilmente pode ser chamado de força).
Os ataques israelenses romperam as negociações entre EUA e Irã. (Uma nova reunião em Omã entre as duas equipes ainda estava agendada quando Netanyahu deu a ordem de ataque.)
Mesmo assim, Trump disse que daria ao Irã mais duas semanas antes de decidir se se uniria ao ataque. Isso se transformou em dois dias. Seja como for que se chame isso, não é negociação, tampouco construção da paz.
E aqui estamos, aguardando não o resultado de negociações nucleares, mas a retaliação do regime iraniano, e as consequências para o Oriente Médio, os Estados Unidos e o mundo.
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Há apenas um mês, Trump estava na região, criticando presidentes americanos anteriores por “intervirem em sociedades complexas que eles próprios nem sequer compreendiam”. Agora, ele é um deles.
Como a maior parte do mundo, Trump espera que o Irã recue para que ele possa declarar o episódio encerrado e levar o crédito por ter alcançado a paz por meio da força. E, como o mundo, ele teme que a história siga um rumo diferente, que ainda não consegue prever.
“Lembrem-se, ainda há muitos alvos”, ele ameaçou em seu discurso após o ataque; e se o Irã não se render, “os próximos ataques serão muito maiores”.
Se Sófocles estivesse por aqui para descrever a hubris em 2025, talvez escolhesse um presidente com poderes de super-herói, como os demonstrados na Operação Martelo da Meia-Noite, e que conclui que todo problema que aparece em sua mesa é um prego — quando talvez seja, na verdade, o detonador da próxima guerra eterna.
“Haverá paz ou tragédia”, disse Trump à América e ao mundo no sábado à noite. Se fosse honesto, ele acrescentaria que não tem controle sobre qual das duas será.
Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Andreas Kluth é colunista da Bloomberg Opinion e cobre diplomacia, segurança nacional e geopolítica dos Estados Unidos. Anteriormente, foi editor-chefe do Handelsblatt Global e redator da revista The Economist.
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