Bloomberg — O Santander achou que tinha acertado em cheio no ano passado ao nomear um executivo muito respeitado para se tornar diretor global de contabilidade na sede global em Madri. Em vez disso, o maior banco da Espanha, que enfrenta batalha judicial com um ex-candidato a CEO há seis anos, teve novo revés.
Na semana passada, o Santander abandonou seu plano de nomear Alexsandro Broedel Lopes como diretor de contabilidade, depois de o executivo passar meses lutando contra alegações de fraude de seu ex-empregador, o Itaú Unibanco, em que foi diretor financeiro.
O português Manuel Preto, que ocupa uma posição de liderança no seu país, assumirá o cargo que seria de Broedel a partir de julho.
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Embora o Santander já tivesse um processo de busca de um novo diretor de contabilidade em andamento na época, a situação ficou mais difícil para Broedel em 30 de maio, quando algumas das alegações que o Itaú fazia contra ele foram corroboradas por seu sócio, Eliseu Martins.
Como parte de um acordo com o Itaú, Martins confirmou que tinha uma parceria informal com Broedel. O Itaú disse que o executivo - então CFO - nunca informou sobre essa parceria, nem o fato de ter recebido 40% dos pagamentos dos serviços de consultoria prestados ao banco.
A saga de Broedel levanta questões sobre a decisão do Santander de buscar um candidato externo para cargos normalmente preenchidos por pessoas de dentro da instituição financeira.
O banco também precisa decidir o que acontecerá com Broedel, que ingressou no Santander como vice-presidente sênior em dezembro.
Broedel, que anteriormente negou qualquer irregularidade, não quis comentar, assim como um representante do Santander.
O banco ainda está em uma batalha judicial com Andrea Orcel, CEO do UniCredit, depois que um tribunal em Madri decidiu que o Santander deve pagar a ele € 43,5 milhões por sua decisão de 2018 de revogar uma oferta para contratá-lo como CEO.
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A experiência de Broedel
A decisão original de contratação de Broedel parecia uma vitória para o Santander quando foi anunciada no ano passado.
Ele era um executivo sênior altamente respeitado que trabalhava no Itaú, o maior banco do Brasil e da América Latina, há cerca de 12 anos, sendo os últimos três como diretor financeiro (CFO).
Seu currículo incluía passagem como diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), agência reguladora do mercado de capitais do Brasil, além de 22 anos como professor na prestigiosa Universidade de São Paulo.
Essa experiência parecia adequada ao Santander, o maior banco estrangeiro do Brasil em ativos, cuja unidade local contribuiu com cerca de um quinto da receita do grupo no primeiro trimestre.
Ainda assim, no setor bancário, cargos como diretor de contabilidade, executivos de compliance e auditores internos são normalmente preenchidos por candidatos internos com vasta experiência na instituição financeira.
Portanto, selecionar um diretor de contabilidade de fora do banco foi visto por alguns no Santander como uma decisão incomum, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
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Após a contratação de Broedel, o Santander manteve publicamente por meses que ele eventualmente assumiria o cargo de diretor de contabilidade, apesar das alegações do Itaú.
Mas o banco impôs um prazo para si mesmo para uma decisão sobre o assunto e, nas últimas semanas, ficou claro que o tempo estava se esgotando, segundo as fontes.
O Santander decidiu que o processo movido pelo Itaú contra Broedel poderia se arrastar por anos, uma distração indesejada para o executivo e para o próprio banco espanhol se ele ocupasse o cargo.
Ainda não está claro se o Santander encontrará outro cargo para Broedel ou se ele e o banco tentarão chegar a um acordo para ele sair de forma amigável.
Enquanto isso, o Itaú disse que continuará com suas ações contra Broedel.
O banco afirmou em dezembro que estava processando Broedel após uma investigação interna concluir que ele aprovou pessoalmente 40 pareceres de consultoria entre 2019 e 2024, obtendo vantagem em decorrência de sua posição e mascarando essas transações usando outros nomes.
O Itaú disse que não conseguiu localizar 16 relatórios de consultoria relacionados, sugerindo que os serviços podem nunca ter sido prestados.
O prazo final para Broedel responder às alegações do Itaú é 13 de junho. Além dos processos, o Ministério Público brasileiro instruiu a polícia a iniciar uma investigação criminal contra Broedel, segundo o Financial Times. Representantes da Polícia Federal e do Ministério Público não quiseram comentar.
Acordo na Justiça
O acordo com Martins, homologado pelo tribunal na semana passada, encerrou o processo movido pelo Itaú contra o executivo, que concordou em pagar R$ 2,5 milhões, segundo documentos vistos pela Bloomberg News.
Martins já devolveu R$ 1,5 milhão ao banco, explicando que quatro dos serviços em questão foram pagos antecipadamente, mas não entregues devido ao “término da relação comercial”.
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O Itaú está em processo de avaliação sobre se deduzirá o valor pago por Martins dos R$ 6,6 milhões e R$ 3,3 milhões exigidos em dois processos contra Broedel, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto, que pediu para não ser identificada discutindo informações não públicas.
Martins disse em comunicado que o acordo com o Itaú é uma forma de demonstrar sua “boa-fé e compromisso com o devido esclarecimento dos fatos”.
O Itaú disse que o acordo, chamado pelo banco de “confissão”, comprova, “de forma inequívoca, as apurações internas realizadas pela instituição financeira e que embasaram a adoção das medidas judiciais cabíveis”.
O banco sediado em São Paulo também disse que continua com as ações judiciais contra Broedel, sem mais comentários.
Martins disse em declarações ao jornal Folha de S. Paulo que concordou com o acordo para “encerrar, aos 80 anos, essa maluquice, principalmente pelo envolvimento injusto dos meus filhos”. Como parte do acordo, o Itaú concordou em encerrar os processos contra seus filhos, Vinícius e Eric.
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