Bloomberg — Em cabanas de madeira que lembram saunas, espalhadas pelo principal evento anual de private equity em Berlim, executivos buscam a próxima grande oportunidade de investimento.
Jim Zelter, presidente da Apollo Global Management, acredita ter encontrado uma.
A empresa poderia alocar até US$ 100 bilhões em financiamentos somente na Alemanha durante a próxima década, disse ele em uma conversa com a Bloomberg News, em um esforço para financiar o “renascimento” da Europa.
A ministra de economia do país, Katherina Reiche, participou posteriormente de um jantar oferecido pela empresa, em que defendeu o investimento de private equity, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
Um porta-voz do ministério confirmou que Reiche participou do evento, mas não entrou em detalhes.
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Com a escassez de fusões e aquisições (M&A) em meio à incerteza da política tarifária dos Estados Unidos, os gestores de fundos na conferência SuperReturn International defenderam a Europa como destino de investimentos.
Executivos de gigantes do setor como BC Partners, Permira e Brookfield Asset Management também notaram uma mudança de sentimento que favorece a região.
Mudança nas preferências
E, embora a Europa possa ser o foco do momento, o financiamento lastreado em ativos parecia ser o investimento preferido de muitos participantes. Pesos pesados como KKR, Blackstone e Carlyle já entraram no mercado.
O movimento em direção ao financiamento lastreado em ativos reflete um apetite crescente por ativos anticíclicos à medida que os riscos econômicos globais aumentam.
Grande parte desse mercado, que envolve empréstimos contra os fluxos de caixa de ativos como hipotecas residenciais, cartões de crédito, empréstimos estudantis e similares, oferece retornos atraentes ajustados ao risco.
E, por ser respaldado por garantias reais, muitas vezes é considerado mais seguro do que a estratégia básica do crédito privado de emprestar a empresas altamente alavancadas.
Financiar aquisições, ao que parece, é coisa do passado.
“Estamos adotando muitas grandes soluções com grau de investimento”, disse Zelter, falando em um painel da conferência sobre o futuro do setor. “Não estamos nem na metade do tempo da evolução do mercado de crédito privado.”
A busca pela inovação ocorre no momento em que o crescimento e a captação de recursos nos mercados privados diminuem, após anos de rápida expansão que levaram o setor a US$ 22 trilhões e colocaram seus maiores participantes no centro das atenções.
Agora, esses gigantes do investimento enfrentam uma desaceleração prolongada na realização de negócios, já que as empresas de private equity estão relutantes em vender ativos com valuations deprimidos.
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Isso provocou uma mudança clara na SuperReturn deste ano, em que as aquisições se tornaram mais uma nota de rodapé do que um tema de destaque.
“Os advisers ainda estão muito ocupados, mas os novos negócios de fusões e aquisições não estão tão em evidência”, disse Claire Harwood, codiretora da equipe de investimentos em empréstimos diretos da Permira Credit. “M&A é um negócio como de costume, só que a atividade tem um peso diferente.”
Sob pressão
No curto prazo, a falta de vendas de ativos aumenta a pressão sobre as gestoras do ramo.
Julian Salisbury, codiretor de investimentos da Sixth Street Partners, disse que as empresas de private equity enfrentam uma “pressão incrível” de seus investidores para dar retorno sobre o capital.
Orlando Bravo, cofundador e sócio-gerente da gigante de aquisições Thoma Bravo, chegou a dizer que o setor “perdeu o rumo” nos últimos anos.
“Temos que voltar ao básico”, disse ele à Bloomberg Television. “Há muitas e muitas empresas excelentes a serem compradas e, como proprietário e agente de mudanças, como é o nosso setor, há muitas empresas a serem transformadas.”
Aqueles que não estão fazendo entregas também olham por cima dos ombros para os robôs.
Robert F. Smith, fundador da Vista Equity Partners, provocou suspiros audíveis do público da conferência quando disse que os avanços na inteligência artificial fariam com que 60% deles estariam procurando emprego no ano que vem.
Enquanto isso, investidores de private equity insatisfeitos podem buscar conforto no alicerce do crédito privado: empréstimos diretos a empresas.
Com o respaldo dos fluxos de caixa, e não de ativos tangíveis, esses empréstimos têm proporcionado retornos sólidos, depois que um período de taxas de juros mais altas melhorou sua estrutura de taxas flutuantes.
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“Os empréstimos maduros estão proporcionando retornos similares aos de ações, se beneficiando de taxas que ainda estão altas em comparação com as médias históricas recentes e que acreditamos que continuarão elevadas”, disse Vivek Mathew, presidente da Antares Capital Advisers.
“Achamos que a situação geral atual é uma proposta atrativa.”
Spreads mais seguros
Os empréstimos diretos, no entanto, ainda dependem de patrocinadores de private equity para fazer aquisições alavancadas com grandes pacotes de dívida. O crédito privado lastreado em ativos, por outro lado, está livre dessa pressão.
Isso oferece aos gestores de fundos uma chance de obter alguns retornos, embora menores do que na esfera de private equity, e permite que evitem a compressão de spreads vista em outros mercados de crédito.
“Os spreads no financiamento lastreado em ativos têm sido maiores. É mais seguro, mas ainda assim com retornos menores”, disse Dylan Ross, chefe do grupo da equipe de investimentos em financiamento lastreado em ativos da TCW.
Algumas operações privadas de grau de investimento podem gerar níveis “significativos” de spread excedente, disse Dan Leiter, chefe internacional da Blackstone Credit & Insurance.
“O financiamento lastreado em ativos está na boca de todos, mas vale lembrar que ainda estamos no início de uma megatendência global”, disse Leiter.
“É por isso que você ouve tantos LPs perguntando sobre isso”, completou ele, se referindo aos limited partners, investidores que aplicam nos fundos, mas não participam da gestão.
Certamente o setor ainda consegue atrair muitas estrelas. Os palestrantes do evento incluíram desde Serena Williams e Bono até o ex-piloto de Fórmula 1 Nico Rosberg.
Embora talvez de forma apropriada, o show agitado do rapper Flo Rida em 2024 tenha dado lugar a uma apresentação mais sóbria da banda de rock emotivo Snow Patrol em uma das festas pós-evento deste ano.
-- Com a colaboração de Silas Brown, Jan-Henrik Förster, Dani Burger e Petra Sorge.
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