Bloomberg — O mercado de ações sofreu um esvaziamento nos últimos anos, diante dos juros elevados e de saídas de capital. Mas, conforme a bolsa se recupera, gestores se preparam para aproveitar a retomada.
Algumas das maiores gestoras de ativos do país, como a BTG Pactual Asset Management e a Vinland Capital, reforçaram as equipes de renda variável nos últimos meses, ao mesmo tempo em que o Ibovespa (IBOV) renovou seu recorde histórico.
Pelo menos duas novas gestoras focadas em ações foram abertas desde novembro — administradas por veteranos do setor que contam com a experiência para atrair investidores.
“As taxas de juros são historicamente elevadas”, disse Felipe Arslan, cofundador da recém-lançada Morada Capital. “Isso precisa ser levado em conta na construção de um portfólio de ações.”
Ainda assim, Arslan está confiante de que ele e seu sócio Murilo Arruda, ex-gestor de recursos da Verde Asset Management, vão “encontrar valor no Brasil”.
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Arslan atravessou inúmeras crises políticas e econômicas desde o final da década de 1990, com passagens pelo Morgan Stanley, Goldman Sachs e Vinland Capital. A taxa básica de juros, a Selic — atualmente em 14,75% ao ano — chegou a atingir 42% e 2% nesse período.
Essa experiência coloca a Morada “bem posicionado para todos os cenários”, com “hedges oportunos e boas posições vendidas”, disse, sem dar detalhes.
Outros veteranos do mercado planejam adotar uma abordagem semelhante: calibrar carteiras para limitar a exposição às ações brasileiras de maior risco e investir algum capital fora do Brasil.
“Se não olharmos para outros mercados, podemos perder essas oportunidades”, disse André Caldas, que em abril lançou uma gestora de ativos com Albert Munck. “Ter um olhar mais amplo nos permite, mesmo nos ciclos de baixa no Brasil, gerar mais oportunidades para os nossos clientes.”
A Springs Capital tem cerca de R$ 450 milhões sob gestão. Seu principal fundo é uma estratégia ‘long-short’ gerida por Caldas.
A gestora também possui um produto long-biased, ou seja, que busca manter posições de viés comprado — que ganham com a valorização — dos ativos locais.
Ambos os fundos também têm exposição a ações locais e globais, incluindo ações dos Estados Unidos e de toda a América Latina, de acordo com Caldas.
Saídas de recursos
Para muitos, apostar em um mercado de ações que registrou retornos anuais negativos nos últimos anos parece uma aposta imprudente.
Os investidores já resgataram R$ 34,8 bilhões de fundos de ações este ano, mais que o dobro dos R$ 15,5 bilhões de 2024. A perda foi ainda pior no setor de fundos multimercado do país.
Mas o otimismo se mostrou oportuno: o índice Ibovespa subiu 14% este ano, atingiu máxima histórica em maio e superou os ganhos das bolsas americanas e de outros mercados emergentes.
Os ingressos estrangeiros em ações locais aumentaram, totalizando mais de R$ 21 bilhões em 30 de maio. No ano passado, estrangeiros venderam R$ 32 bilhões em ações brasileiras.
A alta é resultado da rotação de ativos dos Estados Unidos para mercados em desenvolvimento, um movimento desencadeado pelas tarifas de Donald Trump. É também uma aposta de que o longo ciclo de alta de juros chegou ao fim. Os investidores esperam ainda que a bolsa suba antes das eleições presidenciais de 2026.
A BTG Pactual Asset Management, gestora do BTG Pactual (BPAC11), lançou em abril uma nova mesa de ações chamada Synergy, liderada por Lucas Cachapuz e William Dominice.
A dupla trabalhou em algumas das gestoras de fundos mais famosas do Brasil, incluindo Genoa Capital, SPX Capital e JGP Asset Management.
A Vinland, uma das maiores empresas de investimento do país, também expandiu sua equipe de ações, contratando analistas e gestores de fundos da J. Safra Asset Management Corporation em março.
“Hoje, uma oportunidade e uma obrigação para a empresa é investir em ações”, disse James Oliveira, cofundador e diretor de investimentos da Vinland, em um evento em São Paulo em 7 de maio.
“O mercado, o Brasil e o mundo inteiro, têm ciclos. Ciclos são rápidos, no Brasil ainda mais. E, como empresa, precisamos ter produtos para todos os ciclos.”
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