No BV, a meta é acelerar os ganhos da estratégia de diversificação, diz novo CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Gustavo Sousa diz que a estratégia do banco é ‘consistente’, mas que dá para se tornar mais ágil; um dos alvos é aprofundar a relação com o cliente

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Bloomberg Línea — O BV (ex-Banco Votorantim) pretende acelerar os ganhos da sua estratégia de diversificação dos negócios com a chegada do novo CEO, Gustavo Sousa, que assumiu o cargo neste mês.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Sousa disse que tem feito reuniões com os times nas últimas semanas para estruturar o que é preciso fazer para acelerar as entregas de produtos, de modo a colher os resultados com maior velocidade.

Nos últimos anos, o BV tem seguido uma estratégia baseada em três pilares: rentabilizar o core business de financiamento para compra de veículos usados, expandir os negócios de crédito com garantia e outros tipos de financiamento e, por fim, transformar os clientes pontuais em recorrentes que utilizam outros produtos e serviço – o que é chamado pelos executivos de “banco relacional”.

O executivo avalia que a estratégia corrente do BV é consistente e que ele não pretende fazer um “cavalo de pau ou uma guinada” no modelo.

“O que estou exercitando com o time é como é que aceleramos isso. Como é que capturamos ainda mais rápido esses primeiros resultados que já tivemos”, disse o novo CEO do banco, que sucede Gabriel Ferreira.

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Sousa foi nomeado em fevereiro para o cargo e começou a trabalhar em abril, em um período de transição, até assumir o cargo em maio. Ele era presidente da Ascenty, empresa de data center com atuação na América Latina, e trabalhou como CEO e CFO da Cielo entre 2019 e 2022.

Entre as medidas que podem ser tomadas para acelerar os ganhos, o executivo avalia que o BV pode gerar ainda mais resultado principalmente com a estratégia de banco relacional, ao aprofundar o relacionamento com os atuais clientes.

No primeiro trimestre, o banco originou R$ 732 milhões em crédito com clientes que já trabalhavam com o BV, um crescimento de 18,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Além disso, a base de depósitos de clientes pessoa física cresceu 152,8% na mesma comparação.

Sousa disse que, para acelerar esse crescimento, tem feito reuniões de priorização com as equipes.

“Se o prazo para entrega de um novo produto, do ponto de vista de desenvolvimento, é de 18 meses, pergunto à equipe: dá para fazer em seis meses? O que é necessário para a colocarmos isso de pé da forma mais consistente, mas também da forma mais rápida possível?”, contou.

Fundado no fim dos anos 1980 pelo grupo Votorantim, da família Ermírio de Moraes, o BV é controlado desde 2009 em uma sociedade entre a Votorantim Finanças, braço financeiro do grupo, e o Banco do Brasil (BBAS3). Cada um tem 50% do controle acionário.

Lucro do BV sobe 50%

A mudança na gestão no BV ocorre no momento em que o banco segue em crescimento. No primeiro trimestre, o lucro líquido recorrente atingiu R$ 480 milhões, uma alta de 49,6% sobre o mesmo período do ano passado.

O resultado impulsionou o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) para 16%, o mesmo patamar do quatro trimestre de 2024, o mais alto na história do banco.

O CFO do banco, Ronaldo Helpe, atribuiu esse desempenho à maturação da estratégia e ao ganho de eficiência com mais qualidade na carteira de crédito. Segundo ele, o BV tem consolidado os três pilares estratégicos, de fortalecimento do core, de diversificação e da estratégia relacional.

Ele acrescentou que os números atuais refletem uma operação mais saudável, tanto na origem quanto no risco: “Não é só o volume de crédito que cresce — o perfil desse crédito também melhorou muito”, disse Helpe à Bloomberg Línea.

A carteira de crédito total do banco atingiu R$ 90,4 bilhões, com crescimento de 2,1% na base anual, com destaque para o desempenho de segmentos fora do negócio principal de veículos leves usados.

As operações de empréstimo com garantia em veículos cresceram 22% no trimestre, enquanto os financiamentos de motos, veículos pesados e novos avançaram 38%. Já a carteira de crédito para pequenas e médias empresas (PMEs), por meio de antecipação de recebíveis, teve alta de 25%.

No segmento de veículos usados (o principal do banco), a carteira apresentou crescimento real de 9,3% ao se considerar a carteira cedida via FDIC BV Auto no quatro trimestre, o que, segundo Helpe, mostra a força do BV mesmo em um trimestre tradicionalmente mais fraco.

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“É um crescimento expressivo, principalmente quando ajustado pelo que está fora do balanço”, afirmou.

A melhora da qualidade da carteira impactou a linha de provisões para perdas, que totalizaram R$ 586 milhões, uma queda de cerca de 28% em relação ao primeiro trimestre de 2024.

Helpe destacou que esse avanço não veio de forma pontual ou relacionado à carteira cedida ao FDIC. “Não é efeito de venda de carteira. É da evolução natural da qualidade das safras originadas nos últimos trimestres”, afirmou.

O patrimônio líquido do BV fechou o trimestre em R$ 13 bilhões, crescimento de aproximadamente 7% em doze meses, enquanto os ativos totais chegaram a R$ 140,7 bilhões, um aumento de cerca de 6% no mesmo período.

Emissão em dólares

O BV emitiu há pouco mais de um mês US$ 500 milhões em bonds no mercado internacional, operação que, segundo os executivos, teve forte demanda.

“Foi uma emissão muito bem recebida, mostra a solidez do banco e abre espaço para continuar a crescer com conforto de liquidez”, afirmou o CEO.

Segundo o executivo, a emissão de bonds ou a venda de parte da carteira para FDICs são alternativas que o banco pode continuar a acessar conforme o negócio acelerar o ritmo de crescimento. “Para você conseguir fazer isso, você tem que estar frequentemente utilizando essas alternativas”, disse.

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