‘Tão perto, tão longe’: bolsas em LatAm ampliam ganhos, mas acesso ainda é restrito

De acordo com a BlackRock, a inclusão financeira também esbarra na ausência de produtos e serviços que estejam alinhados às condições econômicas da população

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09 de Maio, 2025 | 03:02 PM

Os latino-americanos ainda não se destacam como grandes participantes do mercado acionário, devido a uma combinação de fatores que vão desde barreiras de educação financeira até a falta de acesso a ferramentas tecnológicas, produtos e serviços adaptados à realidade da região.

Por ora, a população da América Latina permanece distante dos mercados financeiros quando comparada a outras regiões do mundo. Apesar de haver capital disponível para investir, as barreiras de entrada continuam limitando a adesão a esse tipo de aplicação.

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Segundo dados da consultoria Gallup, nos Estados Unidos, 62% da população declarou possuir ações, superando os índices registrados entre 2010 e 2022, quando a taxa ficou abaixo desse patamar.

Pessoas com maior renda, formação universitária ou que são casadas têm mais probabilidade de investir em ações, segundo a pesquisa.

“Há uma percepção de que é necessário muito dinheiro para começar a investir, além da crença de que esse universo é exclusivo para quem tem renda alta ou grandes patrimônios”, disse Diego Mora, diretor da BlackRock para Colômbia, Peru e América Central.

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Esse cenário é agravado por um baixo conhecimento sobre os benefícios e mecanismos de investimento, o que gera insegurança — e até medo — de acessar esse tipo de alternativa.

Mora destaca que a educação financeira tem impacto direto sobre a forma como as pessoas lidam com poupança e investimento. Sem entender conceitos como risco, retorno ou diversificação, torna-se difícil avaliar opções ou investir com confiança.

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“Mais do que uma barreira individual, essa lacuna representa uma oportunidade coletiva: aproximar o conhecimento financeiro das pessoas, de forma prática e acessível, pode fortalecer a tomada de decisões e fomentar uma cultura de investimento mais consciente”, afirmou o executivo da BlackRock.

A falta de confiança nas instituições financeiras e a preocupação com a volatilidade dos mercados também pesam, segundo a gestora. Além disso, a pressão por atender necessidades imediatas faz com que o curto prazo prevaleça nas decisões, deixando a longo prazo em segundo plano.

Na América Latina, apenas entre 1% e 2% da população investe no mercado de ações, de acordo com dados da plataforma Trii. “Esse percentual varia de 1% na Colômbia até quase 8% no Brasil, mas este é um caso particular”, disse Esteban Peñaloza, cofundador da Trii, à Bloomberg Línea. “Para mim, o maior obstáculo é a falta de educação.”

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Falta de produtos adaptados à realidade local

Outro desafio para a inclusão financeira, segundo a BlackRock, é a ausência de produtos e serviços adequados à realidade econômica de grande parte da população.

“Muitas pessoas, especialmente aquelas com renda irregular ou que atuam na economia informal, não têm acesso a ferramentas financeiras básicas, o que dificulta sua participação no sistema”, afirmou Mora.

A ausência de uma poupança recorrente, provocada por baixos salários e incerteza no emprego, limita ainda mais as possibilidades de investir.

Um relatório do grupo financeiro Credicorp mostra que 28% da população adulta latino-americana atingiu um nível avançado de inclusão financeira, acima dos 25% registrados em 2023 e dos 16% em 2021.

“Em uma escala de 0 a 100, na qual pontuações maiores indicam melhor inclusão, a América Latina avançou de 38,2 em 2021 para 47,6 pontos em 2024”, informou o grupo.

Os países com maior pontuação são:

  • Chile: 58,3
  • Panamá: 56
  • Argentina: 54,4
  • Equador: 53,2
  • Colômbia: 48,3
  • Peru: 46,1
  • Bolívia: 43,7
  • México: 42,6

Mesmo com avanços, o Credicorp diz que as lacunas ainda afetam principalmente mulheres, pessoas com mais de 60 anos, moradores de áreas rurais, indivíduos sem acesso à internet e com baixa escolaridade.

Enquanto isso, no cenário global, indivíduos de alto patrimônio líquido (HNWI) costumam investir entre 30% e 50% de sua riqueza em mercados acionários. Já os segmentos de menor renda (classe média e baixa) muitas vezes não possuem nenhum tipo de investimento em ações, segundo Andrew Amoils, diretor de pesquisa da New World Wealth.

“Esses mercados acionários geraram retornos significativamente superiores aos de outros ativos nos últimos anos, especialmente os índices dos EUA”, afirmou Amoils.

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Integração regional com a Nuam

A criação da Nuam, holding regional que une as bolsas de Santiago, Colômbia e Lima em um único mercado, é vista como uma chance para aumentar a participação dos latino-americanos na bolsa.

“Será muito importante como a Nuam vai estruturar uma oferta de produtos voltados ao pequeno investidor, pois hoje os desafios são complexos tanto do ponto de vista dos produtos quanto das regras fiscais distintas em cada país”, avaliou Peñaloza.

Ele acredita que a região poderia avançar mais em incentivos fiscais. “A Colômbia é um dos países que oferece melhor tratamento fiscal ao investidor individual e poderia servir de modelo para o restante da América Latina.”

Segundo uma matéria recente da Bloomberg Línea, exceto pelos mercados peruano e argentino, os principais índices da região registram, em dólares, ganhos 20 vezes superiores ao desempenho do S&P 500. Até algumas semanas atrás, o Colcap da Colômbia liderava em retorno, mas agora o destaque é o IPSA do Chile.

Como fomentar o investimento na região

Para ampliar a participação da população nos mercados, a BlackRock defende uma abordagem integrada, que envolva desde educação financeira até a oferta de produtos acessíveis.

A gestora aponta a importância de programas práticos que ajudem as pessoas a entender os benefícios de investir e como fazê-lo de forma informada. Além disso, produtos como ETFs, que permitem investir em carteiras diversificadas com baixos valores, promovem mais transparência e eficiência.

Aproveitar a tecnologia e as plataformas digitais é outro fator essencial para derrubar barreiras e facilitar o acesso, tornando o investimento mais viável para uma parcela maior da população.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.