Sicupira lidera perdas entre bilionários da Americanas após injeção de capital

Sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles na rede varejista foi responsável por 57% dos R$ 12 bilhões injetados como parte do plano de recuperação judicial, disseram fontes à Bloomberg News

Loja da Americanas: fechamento de unidades é uma das consequência de sua crise (Foto: Gustavo Minas/Bloomberg)
Por Cristiane Lucchesi - Daniel Cancel
29 de Agosto, 2024 | 03:53 PM

Bloomberg — O bilionário Carlos Alberto Sicupira, um dos fundadores da 3G Capital, sofreu a maior perda financeira entre seus sócios de longa data com a queda das ações da Americanas (AMER3) depois da injeção de capital.

O empresário e investidor de 76 anos foi responsável por 57% dos R$ 12 bilhões injetados na empresa pelos três principais acionistas como parte de um plano de reestruturação, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto ouvida pela Bloomberg News.

Seus sócios bilionários, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, contribuíram com 30% e 13%, respectivamente, disse a pessoa, que pediu para não ser identificada porque a informação não é pública.

O papel de destaque de Sicupira na Americanas desde que o trio comprou o negócio em 1982 explica seu cheque maior.

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Ele foi presidente executivo da empresa na década de 1980, depois chairman, e permaneceu no conselho durante a crise. Ele também era o maior acionista individual da empresa, disse a pessoa.

Leia mais: Americanas revela perdas de R$ 17 bi e ação vai a nove centavos com fim do lockup

A presença de Sicupira no conselho da Americanas parece prestes a terminar. Ele está ausente de uma lista proposta pelos maiores acionistas para votação em 5 de setembro. Um dos filhos de Lemann, Paulo Alberto, também deve deixar o conselho.

Em vez disso, o trio propõe manter Eduardo Saggioro Garcia, chefe de seu escritório de investimentos LTS, no conselho. Ele seria acompanhado por outros executivos com vínculos com seus negócios, incluindo Yuiti Matsuo Lopes, da LTS, que teve passagens pela divisão de private equity do Goldman Sachs e pelo Lazard.

A Americanas, com sede no Rio de Janeiro, pediu recuperação judicial no início de 2023 após uma fraude contábil hoje calculada em R$ 25 bilhões ter vindo a público.

Investigações indicam que o trio foi enganado pela diretoria executiva, e eles foram forçados a injetar capital para acalmar bancos e outros credores na condição de principais acionistas da companhia por mais de quatro décadas - e para que o plano de recuperação judicial proposto fosse aprovado.

A ação, que passou por um agrupamento na proporção de 1 para 100 no último dia 26 de agosto, é negociada a um preço 95% menor ao utilizado como referência para a injeção de capital.

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E as chances de uma recuperação significativa não são promissoras, pois a varejista sofre com concorrência acirrada, altas taxas de juros e falta de investimentos. A empresa tem cortado custos, empregos e fechado lojas em um esforço para sobreviver.

Carlos Alberto Sicupira, um dos principais investidores da Americanas

Como parte de sua defesa, os principais acionistas apontaram o fato de que suas perdas com o colapso do preço das ações e injeções de capital superaram em muito os recebimentos de dividendos ao longo dos anos.

“Eu sou o que mais perdeu”, disse Sicupira à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) durante uma reunião em maio de 2023, de acordo com uma cópia do vídeo obtida pelo UOL. “Eu primeiro estava em choque. Estava caindo para trás.”

Embora a crise da Americanas tenha sido um golpe na reputação do trio de bilionários, a maior parte de suas fortunas combinadas de US$ 45 bilhões continuou a crescer, pois está amplamente vinculada a participações na maior cervejaria do mundo, a Anheuser-Busch InBev (BUD), e na gigante de fast food Restaurant Brands International (RBI), de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

Eles fundaram a empresa de private equity 3G, sediada em Nova York, no início dos anos 2000 e continuam sendo investidores significativos. A Americanas e a AB InBev não fazem parte do portfólio da 3G.

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Alguns dos maiores bancos no Brasil, incluindo o Santander Brasil e o BTG Pactual, converteram parte da dívida em ações como parte do aumento de capital que chegou ao total de R$ 24,5 bilhões.

De acordo com o plano de recuperação da Americanas, os três bilionários concordaram com um período de lockup, no qual não podem vender suas ações, de três anos. Eles agora detêm uma participação combinada de 49% na empresa, acima dos cerca de 30% anteriores.

Ações detidas por bancos estão sujeitas a um lockup de 30% de suas participações, que diminui gradualmente ao longo de um período de três anos.

Esses bancos se desfizeram das ações que podiam vender imediatamente quando autorizados em 15 de agosto, o que impulsionou uma nova queda brusca nos preços.

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