Fundos ganham com apostas pessimistas e seguem cautelosos com ativos do Brasil

Fundos de gestoras como JGP e Verde foram impulsionados em junho com a alta dos juros futuros e do dólar ao se posicionar contra os ativos locais

Região da Faria Lima, em São Paulo, setembro de 2022. Foto: Victor Moriyama/Bloomberg
Por Felipe Saturnino - Barbara Nascimento
15 de Julho, 2024 | 02:34 PM

Bloomberg — Os gestores brasileiros que adotaram cautela com os ativos domésticos pela incerteza fiscal e monetária ganharam com apostas pessimistas no mês passado e mantêm o mesmo mantra em julho.

Fundos de casas como JGP e Verde foram impulsionados por posições contra os ativos locais, de alta das taxas de juros futuros e do dólar em junho.

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A Verde, de Luis Stuhlberger, ainda vê depreciação da moeda brasileira, além de apostar em aumento da inflação implícita. A Vinland Capital mantém suas principais alocações no exterior, enquanto a Bahia Asset não tem apostas direcionais no mercado doméstico.

Os mercados locais tiveram fortes perdas em junho, derrubados por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que sugeriram indisposição do governo para controlar o déficit primário.

As críticas de Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se somaram à piora da percepção de risco fiscal e alimentaram a volatilidade. O humor melhorou com o recente anúncio de corte de gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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“Sem uma resposta concreta do governo às pressões fiscais, e em meio a ventos externos potencialmente mais conturbados, temos dificuldade em ver como essa história termina bem”, disse a Ibiuna Investimentos, em carta mensal de gestão.

O risco de que o BC tenha de apertar a Selic com a deterioração do câmbio também começou a figurar no radar dos gestores. A ACE Capital avalia que os modelos do BC indicariam que o juro básico estável no patamar atual não seria suficiente para devolver a inflação à meta, em um cenário de dólar no nível de R$ 5,70 e piora adicional das expectativas inflacionárias. O aperto no mercado de trabalho também eleva a chance de aumento dos juros, disse a Kapitalo.

O índice de hedge funds da Anbima, conhecido IHFA, que captura o desempenho de uma cesta de fundos multimercado, apresentou avanço de 0,76% em junho, levemente abaixo da referência do CDI, de 0,79%. No primeiro semestre, o IHFA subiu 0,2%, bem abaixo do ganho acumulado do CDI de 5,2% no mesmo período.

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Veja o que os gestores escreveram em suas cartas mensais:

JGP Asset Management

A questão fiscal é o “principal motivo” para deterioração dos mercados e o aumento de prêmio de risco no Brasil, diz a JGP. Para a gestora, ainda não foi oferecido um plano confiável de corte de gastos por parte do governo “que leve o mercado a uma redução consistente do prêmio de risco”.

  • JGP Strategy FIC: +1,8%
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Verde Asset

A combinação de posição fiscal frágil com “barulho político” se tornou “explosiva” em junho, segundo a Verde. Fundo manteve a posição de compra em juros reais nos EUA.

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  • Verde FIC FIM: +1,7%
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Absolute Investimentos

A inação do governo central pode aumentar a necessidade e a severidade dos ajustes fiscais no futuro. Absolute detém uma proteção com compra do dólar contra o real e está comprada em ações locais. Aposta em valorização da bolsa americana segue como a principal posição do fundo.

  • Absolute Vertex FIC: +1,7% em junho

ACE Capital

A gestora aumentou a posição que se beneficia da queda dos juros reais, que havia sido reduzida anteriormente, ao adicionar uma posição comprada em NTN-B de curto prazo. O fundo passou a adotar uma posição de alta do dólar contra o real como “hedge”.

  • Ace Capital FIC FIM: -0,8% em junho
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Adam Capital

Adam diz que, num cenário global de forte expansão fiscal, mantém posições que ganham com a valorização do ouro e em ativos reais como a bolsa americana. Também tem posições que se beneficiam da alta de juros em alguns países, sem dizer quais.

  • Adam Macro II FIC: +2,3%
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Bahia Asset Management

A Bahia detém posições em aumento da inclinação — maior diferencial entre taxas de prazo mais longo e prazo mais curto — da curva de juros reais no Brasil. Vê o mercado de trabalho surpreender com a queda do desemprego e o robusto crescimento da massa salarial.

  • Bahia AM Marau FIC: +1,8%
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Genoa Capital

A Genoa disse que não tem apostas no câmbio doméstico e que está levemente posicionada em juros nominais e inflação local. Com o câmbio no patamar atual, a projeção de inflação do BC deve se situar acima da meta de 3% no horizonte relevante, tanto no cenário básico quanto no alternativo, o que deveria ensejar uma discussão sobre altas de juros.

  • Genoa Capital Radar FIC FIM: +0,8%
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Ibiuna Investimentos

Ibiuna detém posições aplicadas em juros reais na renda fixa local e manteve a posição vendida no real.

  • Ibiuna Hedge STH FIC: -0,25%
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Kapitalo Investimentos

Fundo aumentou posições aplicadas em juros nos EUA e na zona do euro e encerrou apostas compradas em inflação americana e vendidas em inflação europeia. A Kapitalo também impulsionou a posição comprada no peso mexicano.

  • Kapitalo Kappa FIN: +1,4%
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Legacy Capital

A Legacy retomou a posição aplicada em juros nos EUA em “ambiente de desaceleração da atividade e de inflação”. O fundo permanece comprado em carteiras de bolsa externa e local, vendo os preços de ações domésticas “bastante descontados”.

  • Legacy Capital FIC: -0,3%
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Vinland Capital

Vinland segue com aposta em aumento da inclinação da curva na Europa, que se beneficia da alta do diferencial entre taxas de prazo mais longo e mais curto. Em moedas, está comprado em dólar contra iene e contra lira turca. Segue com posição pessimista na bolsa brasileira.

  • Vinland Macro Plus FIC FIM: -0,8%

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-- Atualizada para incluir o desempenho do IHFA no primeiro semestre.

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