‘Seu fundo está sob ataque’: a luta da BlackRock para conter ofensiva de investidor

Boaz Weinstein, da Saba Capital, tenta remover a maior gestora do mundo de seis fundos somando US$ 10 bi alegando baixa performance; BlackRock diz que o gestor age apenas em causa própria

BlackRcok
Por Yiqin Shen e Silla Brush
04 de Maio, 2024 | 07:45 AM

Bloomberg — Há alguns dias, a BlackRock (BLK) enviou uma mensagem incomum para milhares de seus clientes. Não havia nela a linguagem padrão ou a pequena letra ilegível normalmente embutida nesses tipos de comunicados. “O seu fundo está sob ataque”, dizia o título da mensagem.

O ataque a que a mensagem se referia é o movimento do investidor Boaz Weinstein, gestor de Wall Street conhecido por sua postura agressiva, que afirma que supostas distorções de preços em fundos geridos pela BlackRock e outros estão tirando bilhões de dólares dos investidores, e que essas distorções precisam ser eliminadas. A questão se tornou uma espécie de cruzada para Weinstein.

No mês passado, sua empresa de fundos hedge, a Saba Capital Management, lançou uma ofensiva para que os investidores removam a BlackRock como gestora de seis fundos que supervisionam cerca de US$ 10 bilhões em ativos.

O movimento desencadeou a mensagem que a BlackRock enviou aos clientes. “Se a Saba tiver sucesso, ela poderia buscar se nomear como advisor de investimentos” e, assim, alterar os objetivos e as estratégias dos fundos, “tudo para se enriquecer”.

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A disputa contínua transformou a indústria de fundos fechados de US$ 250 bilhões, normalmente um segmento mais tranquilo de Wall Street, em um campo de uma das batalhas de poder mais dramáticas das finanças — que culminará em reuniões de acionistas nas próximas semanas.

Weinstein disse que a BlackRock não apenas está “aprisionando” acionistas em produtos que alega serem de baixo desempenho mas também não atenderia, segundo sua alegação, a padrões básicos de governança ao impedir esforços para eleger novos representantes nos conselhos.

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A BlackRock, por sua vez, aponta para o próprio histórico de Weinstein, no qual ele assumiu um fundo fechado, o BRW, que anteriormente investia em empréstimos de taxa flutuante e colocou parte do dinheiro em exposição a criptomoedas e SPACs (as chamadas empresas de “cheque em branco”), de maior risco.

Ambos os lados afirmam que estão do lado certo da questão.

A BlackRock alertou os investidores de que a Saba poderia alterar radicalmente a composição dos fundos caso assumisse o controle, expondo os acionistas a maior risco.

A BlackRock disse que as táticas da Saba não têm nada a ver com ajudar todos os investidores, mas apenas ele mesmo e seus clientes.

“O verdadeiro objetivo da Saba é um pagamento rápido e, mais recentemente, receita na forma de taxas de gestão”, disse um porta-voz da BlackRock por e-mail.

“Precisamos mostrar que há um custo para se entrincheirar ilegalmente para proteger suas taxas de gestão enquanto fazem coisas terríveis para os acionistas”, disse Weinstein em uma entrevista, acrescentando que muitos dos fundos fechados da BlackRock têm um histórico de “desempenho horrível.”

A movimentação de Weinstein — ecoando algumas das investidas corporativas mais audaciosas dos anos 1980 — é a última escalada em uma campanha de vários anos mirando fundos fechados que negociam muito abaixo do valor de seus ativos subjacentes.

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"Under Attack" | Saba seeks to dump BlackRock as investment manager of six closed-end fundsdfd

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O investidor de 50 anos tem atualmente cerca de US$ 6 bilhões alocados nesses produtos, usando suas participações em dezenas de fundos para pressionar outros gestores a recomprar ações próximo ao valor total de mercado (conhecido como uma oferta de recompra) ou transformar seus fundos em veículos abertos, o que produziria um resultado semelhante.

Nos últimos anos, ele enfrentou empresas de investimento como Eaton Vance, Franklin Templeton e Voya Financial, convencendo os gestores a fazer ofertas de recompra, conquistando vagas no conselho e até mesmo levando-os a renunciar ao cargo de conselheiro do fundo.

Weinstein observou que, se a Saba vencesse as batalhas, isso não necessariamente significaria que sua empresa assumiria a gestão dos fundos. Isso dependeria dos conselhos, mas a Saba disse que estaria “pronta” para ajudar e pode se oferecer para fazer o trabalho.

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Em meados de 2021, a Saba assumiu o Voya Prime Rate Trust, de US$ 600 milhões, agora conhecido como Saba Capital Income & Opportunities Fund (código BRW), e mudou seu mandato de investimento após obter a aprovação dos acionistas.

Após duas ofertas de recompra, o fundo teve um retorno anualizado de 4,1%, mais de três vezes o índice de títulos high yield, segundo dados compilados pela Bloomberg.

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O BRW ficou em terceiro lugar entre 22 fundos semelhantes em 2022, em 14º em 2023 e está em penúltimo neste ano até abril, segundo dados da Morningstar, que compara o produto a fundos fechados de empréstimos bancários nos Estados Unidos.

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Em comparação, o BlackRock Innovation & Growth Term Trust, de US$ 1,6 bilhão (BIGZ), perdeu 23% anualizados no mesmo período, enquanto o BlackRock ESG Capital Allocation Term Trust (ECAT), de US$ 1,7 bilhão, teve um ganho anualizado de 0,8% desde sua criação em setembro de 2021.

O BIGZ ficou em primeiro ou segundo lugar em sua categoria da Morningstar, de apenas dois fundos, nesse período; o ECAT ficou em sexto lugar em 2022, em segundo em 2023 e em oitavo neste ano até abril em um grupo de 11 fundos.

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A BlackRock apontou que o BIGZ e o ECAT deram retornos de 19% e 32%, respectivamente, no ano passado, quando os mercados se recuperaram amplamente, e que ela administra fundos fechados na mesma categoria da Morningstar que tiveram retornos mais altos do que o fundo da Saba em anos recentes.

Ainda assim, o BIGZ e o ECAT continuam a ser negociados significativamente abaixo do chamado valor patrimonial líquido, ou NAV.

O BIGZ atualmente tem um desconto de 17%, enquanto o ECAT é negociado com um desconto de 10%, segundo dados compilados pela Bloomberg.

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O BRW da Saba tem um desconto de 8,3%.

Mão quente’ para batalhas

No ano passado, Weinstein lançou três campanhas para obter assentos no conselho contra a gigante de gestão de recuros, que tem mais de US$ 10 trilhões em ativos, sem conseguir ganhar uma única.

Em vez de recuar, Weinstein pressiona ainda mais neste ano. Além de tentar rescindir os acordos de gestão de fundos da BlackRock, ele também tenta reformular os conselhos de dez fundos da BlackRock.

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A Saba indicou uma lista de conselheiros, incluindo um ex-executivo de negociação de derivativos do Deutsche Bank e Alexander Vindman, um tenente-coronel aposentado do Exército dos EUA que testemunhou contra o ex-presidente Donald Trump durante os processos de impeachment.

“A Saba tem aumentado os ativos e tem a ‘mão quente’, travando uma infinidade de batalhas bem-sucedidas no mercado de fundos fechados recentemente”, disse Erik Herzfeld, presidente da Thomas J. Herzfeld Advisors. Herzfeld gerencia produtos de investimento que compram fundos fechados. “A BlackRock, dada sua profundidade e conhecimento, tem a capacidade de desafiar o avanço da Saba.”

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Weinstein diz que está redobrando seus esforços em parte porque a gigante de gestão de ativos, ele alega, teria prejudicado a capacidade dos acionistas de obter um acordo justo em reuniões anuais.

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No ano passado, ele ganhou um processo contra a BlackRock — e outros gestores de fundos — por adotar as chamadas provisões de controle acionário que podem deter ataques por procuração.

A BlackRock recorre dessa decisão e agora se vê defendendo-se contra outro processo da Saba. Em março, a empresa de Weinstein processou a BlackRock em um tribunal federal em Nova York, argumentando que um estatuto no ECAT “elimina qualquer perspectiva realista” para um acionista eleger trustees que não sejam os titulares.

Advogados da BlackRock disseram em documentos judiciais que “cada ação do ECAT tem o mesmo direito de voto.”

“A BlackRock se comportou muito pior do que todos os outros gestores, então uma oferta de recompra para ações não é suficiente”, disse Weinstein. “Eles se colocaram em uma posição em que precisam de uma resposta forte não apenas para corrigir o desempenho mas também como um sinal para a indústria de que os acionistas não vão mais tolerar isso.”

Stephen Minar, managing director focado em fundos fechados da BlackRock, disse que “a Saba usa o véu da governança para interromper os objetivos de investimento e estratégias de fundos fechados forçando mudanças que o enriquecem às custas dos acionistas de longo prazo.”

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A BlackRock disse que, nos últimos anos, buscou aumentar os lucros dos acionistas e reduzir custos. Ela recomprou US$ 1,3 bilhão em ações em seus fundos fechados desde 2016, incluindo cerca de US$ 180 milhões em ações do BIGZ, e começou novos fundos sem taxas de carregamento que eram normalmente cobradas no passado.

Batalha por procuração

À medida que as votações começam antes das reuniões de acionistas em junho, tanto a BlackRock quanto a Saba estão buscando ativamente convencer investidores para se unirem a elas.

A BlackRock está enviando cartas de procuração para indivíduos e pagando cerca de US$ 1,7 milhão para a empresa de consultoria Georgeson para solicitar votos para os seis fundos, segundo documentos regulatórios. A Saba também está enviando suas cartas de procuração.

O fundo hedge lançou um site para manter os acionistas atualizados sobre suas campanhas. No topo está “Fink about it”, uma referência ao CEO da BlackRock, Larry Fink. A Saba disse que vai realizar um webinar em 20 de maio para discutir seus planos “para responsabilizar a BlackRock.”

“Eu não estou lutando apenas por esses fundos, eu estou lutando para que os próximos 30 fundos não emulem essas táticas duvidosas,” disse Weinstein. “Eu não preciso que Larry Fink peça desculpas aos acionistas pelo que a BlackRock fez, embora eles devessem se envergonhar.”

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