A batalha entre um bilionário ativista e o CEO da Disney pelos rumos da companhia

Acionistas terão que decidir na assembleia anual da Disney em 3 de abril entre a gestão atual, liderada por Bob Iger, e a entrada de Nelson Peltz no conselho, que defende nova estratégia

O bilionário ativista Nelson Peltz, fundador da Trian Fund Management, que controla cerca de US$ 3,5 bi em ações da Disney (Foto: Calla Kessler/Bloomberg)
Por Thomas Buckley
23 de Março, 2024 | 08:06 AM

Bloomberg — Depois de guiar a Disney (DIS) durante um dos períodos de pior desempenho para as ações da companhia, o CEO Bob Iger enfrenta agora uma disputa por assentos no conselho de administração da gigante de mídia com o bilionário ativista Nelson Peltz. Em jogo, o poder de influenciar os rumos estratégicos.

Até o momento, Iger já conquistou o apoio da Glass Lewis, do CEO do JPMorgan (JPM), Jamie Dimon, e de acionistas de peso como George Lucas, Laurene Powell Jobs e membros da família Disney.

Mas, embora a disputa esteja perto do fim, parece agora mais uma luta do que um passeio tranquilo em algum dos parques temáticos.

Na última quinta-feira (21), a Institutional Shareholder Services (ISS) declarou apoio a Peltz, fundador da Trian Fund Management, que controla cerca de US$ 3,5 bilhões em ações da Disney.

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O investidor também conseguiu apoio de diretores atuais e antigos da P&G, da Mondelez International e da Janus Henderson, empresas nas quais já teve cargos no conselho.

“Alguns de nós estavam céticos em relação a Nelson e inicialmente nos opusemos à ideia de tê-lo em nossos conselhos”, escreveram os apoiadores em uma carta divulgada pela Trian. “No entanto, depois de trabalhar com ele, sabemos que nossas preocupações foram infundadas.”

Esse apoio dá a Peltz uma chance melhor de conquistar um assento no conselho da Disney na assembleia anual do próximo dia 3 de abril. Além dele próprio, ele indicou Jay Rasulo, ex-diretor financeiro da Disney e veterano de 30 anos na empresa que saiu em 2015.

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O CEO da Disney Bob Iger (Foto: Martina Albertazzi/Bloomberg)dfd

Para os investidores, a votação é uma chance de endossar ou criticar a segunda passagem de Iger como líder da Disney, elegendo a chapa apoiada pela empresa ou concedendo assentos ao bilionário Peltz ou à Blackwells Capital, uma empresa ativista que possui uma participação muito menor na Disney, avaliada em cerca de US$ 18 milhões.

Em fevereiro, a Disney apresentou resultados financeiros melhores do que o esperado e prometeu que seu negócio de streaming seria lucrativo nos próximos meses.

As ações da gigante de mídia, embora estejam mais de 40% abaixo de sua máxima histórica alcançada em 2021, atingiram um pico de 52 semanas recentemente, em torno de US$ 117.

Em comunicado por e-mail na quinta, o presidente do conselho da Disney, Mark Parker, respondeu ao apoio obtido por Peltz. “Acreditamos que a ISS chegou à conclusão errada em seu relatório recente ao considerar a nomeação de Nelson Peltz para o conselho”, escreveu ele.

Ambos os lados têm tentado mobilizar os acionistas. A Disney comprou anúncios em sites de notícias financeiras, incluindo o da Bloomberg.com, e em podcasts populares de Hollywood.

A empresa até criou um vídeo com o personagem Pato Donald Ludwig Von Drake, como parte de um esforço para alcançar investidores menos familiarizados com o processo de votação por procuração.

Enquanto isso, a Trian tem promovido seu site RestoreTheMagic.com e oferecido entrevistas online com Peltz e Rasulo.

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A Blackwells Capital divulgou suas sugestões para o conselho da empresa, incluindo a possibilidade de separar suas propriedades de resorts em um trust de investimento imobiliário.

A Disney se recusou a comentar essas sugestões específicas, mas instou os investidores a não apoiarem os três indicados da Blackwells Capital para o conselho.

Tanto a Glass Lewis quanto a ISS recomendaram que os acionistas votem contra a nomeação dos indicados da Blackwells.

Peltz: mudança de estratégia

No início do mês, Peltz publicou seu manifesto com a defesa de mudanças na Disney. Em um documento branco de 133 páginas intitulado “Restaurar a Magia na The Walt Disney Company”, a Trian Fund Management consolidou suas exigências para uma reformulação do conselho da Disney e também de sua estratégia de negócios.

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Peltz argumentou que a Disney deveria encontrar um parceiro para seus canais de TV tradicionais, semelhante à joint venture que possui para suas redes A&E. Tal movimento diminuiria a exposição a esse negócio em declínio, ao mesmo tempo em que daria aos funcionários “mais controle sobre seu destino”.

A Trian Fund Management também deseja, entre outras coisas, implementar um processo de sucessão para Bob Iger, iniciar uma revisão das operações e cultura do estúdio e formular uma estratégia digital para o ativo esportivo ESPN, um dos mais valiosos da Disney.

“Acreditamos que a Disney perdeu seu rumo na última década, cometendo erros estratégicos e operacionais que resultaram em um desempenho financeiro deteriorado e retornos de ações absolutos e relativos pobres, custando bilhões aos acionistas,” disse a Trian em um comunicado.

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