Por que a Emirates decidiu apostar no superjumbo A380 na contramão de rivais

Companhia de Dubai investe US$ 2 bilhões em modernização de sua frota com mais de cem unidades do avião com dois andares, cuja produção foi descontinuada pela Airbus

Superjumbo A380 utilizado pela Emirates, com quatro turbinas: consumo de querosene de aviação é considerado um dos fatores que desestimulam outras companhias aéreas a adotar a aeronave em suas frotas (Foto: Divulgação/Emirates)
Por Leen Al Rashdan
07 de Janeiro, 2024 | 09:30 AM

Bloomberg — Diferentemente de qualquer outra companhia aérea no planeta, a Emirates fez do superjumbo A380, da Airbus, um pilar fundamental de sua frota.

A companhia de Dubai ainda opera mais de 100 desses imensos aviões de dois andares, enquanto rivais ou desistiram completamente da gigantesca aeronave ou a utilizam apenas em pequenas quantidades. A própria Airbus encerrou a produção em 2019 após pouco mais de uma década de vendas fracas.

Sem novas aeronaves disponíveis, a Emirates decidiu investir US$ 2 bilhões em um amplo programa de modernização dessas grandes aeronaves, para estender sua vida útil até o início dos anos 2040.

Em novembro, em um hangar perto do principal aeroporto de Dubai, dois A380 estavam sendo completamente reformados e equipados, desde novos leitos a escadas renovadas.

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As decorações em ouro e os painéis de madeira que dominaram a primeira versão desapareceram, com a Emirates optando por tons mais claros, carpetes novos e iluminação ambiente, além de representações de temas naturais locais.

O popular bar da classe executiva, em que os passageiros podem socializar durante o voo e desfrutar de um copo de uísque, continuará presente. A atualização da cabine por si só representa metade do investimento, apelidado de Projeto Phoenix.

Para a Emirates, a atualização é mais do que apenas um retoque de rotina em frotas aéreas. O A380 representa sua ambição de conectar o maior número possível de pessoas por meio de seu hub em Dubai.

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Outras aeronaves de sua frota são consideradas insuficientes para desempenhar a mesma função, como o A350-900 que chegará em 2024, ou estão com anos de atraso do cronograma original de entrega - caso de Boeing 777X -, o que significa que a Emirates deve manter os A380s por mais tempo do que o inicialmente planejado.

Dado o tamanho dos aviões - um A380 típico vem com cerca de 550 assentos em dois decks -, a reforma gera grandes quantidades de materiais recicláveis.

A Emirates diz que uma única aeronave se desfaz de mais de 250 quilos de couro de assentos e mais de 600 quilos de outros tecidos, que a companhia aérea decidiu usar para uma coleção limitada de sapatos, cintos e mochilas, equipadas com acabamentos de bordo, como cintos de segurança ou as capas de pele de cordeiro dos assentos dos pilotos.

Bar no andar de cima de um A380 superjumbo, um dos serviços mais valorizados por passageiros nessa aeronave e um clássico da indústria da aviação (Foto: Divulgação/Emirates)dfd

A Emirates recebeu seu último A380 em 2021, e toda a frota permanece relativamente nova, com uma média de cerca de 10 anos. Inicialmente, a companhia estimou que a reforma, que abrange metade de sua frota de A380, levaria cerca de dois anos no total.

Mas a crescente demanda por viagens aumentou a necessidade de aeronaves nos céus, o que significa que a Emirates está acelerando todo o processo de manutenção. Até agora, 16 aviões receberam sua reforma e já estão de volta à operação, enquanto dois estão em processo de modernização.

A maior parte das atualizações é feita internamente, e a transportadora estatal projetou as operações para serem amplamente autossuficientes à medida que o A380 se torna uma visão cada vez mais rara no céu na próxima década.

O presidente da Emirates, Tim Clark, há muito tempo pressionava a Airbus para manter o A380, ou pelo menos considerar novos motores para torná-lo mais eficiente. Não deveria ser assim, e a Airbus acabou por descontinuar o seu avião mais prestigioso.

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“Vamos manter funcionando o quanto for possível”, disse Clark na Dubai Airshow no fim de 2023. Quanto aos seus esforços para manter a produção, ele disse: “eu venho insistindo nisso, e toda vez eles me mandam para o hospício, mas é isso aí.”

Nostalgia

Embora o avião seja um sucesso entre os viajantes que valorizam seu layout espaçoso, a cabine silenciosa e a presença imponente, a maioria das companhias aéreas teve dificuldades para acomodá-lo.

Os quatro motores do A380 - como os do também descontinuado 747 jumbo - consomem mais querosene de aviação que os modelos de dois motores agora comuns, alguns dos quais podem transportar quase o mesmo número de passageiros.

Vários A380s já pousaram em cemitérios de aeronaves, em que são desmontados, com suas partes recicladas. Os fãs podem comprar chaveiros feitos da fuselagem de alumínio, refletindo o valor sentimental do maior avião de passageiros já construído no mundo.

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A Emirates explora uma nostalgia semelhante com sua linha de acessórios reciclados. Além de sapatos, cintos e mochilas, haverá necessaires, malas com rodas e etiquetas de bagagem feitas de retalhos de A380s. Feitos individualmente à mão no local na instalação de engenharia, estarão à venda em números limitados neste ano, com a opção de gravação a laser personalizada.

“Estamos ‘canibalizando’ algumas das primeiras aeronaves e armazenando as partes, e algumas delas vamos transformar em malas e bolsas realmente bonitas e coisas assim”, disse Clark. “A menos que possamos convencê-los a construir outro.”

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