Estudar mais? Para estes economistas, o segredo das boas notas é paciência

Pesquisadores descobriram que a paciência está relacionada ao desempenho educacional, sendo responsável por uma parte significativa da variação nos resultados

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Bloomberg Opinion — Não é possível replicar muitos resultados da psicologia social, mas há um que não só perdura como também está se tornando mais importante: a paciência realmente importa.

Os economistas entraram mais uma vez nessa discussão, desta vez com um estudo que tenta determinar como a paciência está correlacionada com melhores resultados educacionais. Os resultados são impressionantes, embora inquietantes. Na Itália, os diferentes graus de paciência são responsáveis por dois terços da variação de desempenho entre as regiões do país. Nos Estados Unidos, os diferentes graus de paciência são responsáveis por um terço da variação nos resultados educacionais entre os estados, uma quantidade menor, mas ainda assim notável.

Nos EUA, os estados mais pacientes são (em ordem alfabética) Maine, Montana, Vermont e Wyoming. O estado menos paciente? Califórnia. Na Itália, a paciência é maior na região norte, na fronteira com a Áustria, que tem uma cultura e história relativamente germânicas. A paciência é, de longe, a mais baixa na Sicília. Tanto na Itália quanto nos EUA, a paciência é geralmente maior no norte do que no sul.

Esses resultados não significam necessariamente que menos paciência resulta em notas mais baixas. Pode ser que o bom desempenho na escola o torne mais paciente, porque você aprende que trabalhar traz recompensas. Ou pode haver algum fator subjacente fundamental tanto para a paciência quanto para o desempenho acadêmico.

Ainda assim, é difícil evitar a impressão geral de que há uma conexão estreita entre certas “virtudes burguesas” e o desempenho acadêmico. Se você tem um filho, talvez queira torcer para que ele seja mais paciente, e não menos, por mais complexas que sejam as inter-relações entre os vários atributos pessoais e culturais.

Os pesquisadores estimaram a paciência por meio de um método engenhoso. Já existe uma pesquisa de preferência global amplamente aceita que mede a paciência entre as nações. Em seguida, eles usaram dados do Facebook sobre interesses, cliques e curtidas para ver quais interesses eram mais populares nos países mais pacientes. Em seguida, examinaram esses dados para ver a popularidade desses interesses nas diversas regiões desses países.

Eu me pergunto se “paciência” é a palavra certa para a variável que está sendo medida aqui. Talvez seja alguma qualidade cultural mais ampla que permita que as pessoas realizem melhor projetos complexos e de longo prazo, inclusive seu próprio avanço educacional. De qualquer forma, ficamos com a noção inquietante de que algumas áreas têm mais dessas qualidades culturais do que outras, e que essas qualidades culturais são os principais determinantes do capital humano e dos salários.

Também é difícil dizer por que a qualidade da paciência explica melhor o desempenho educacional inter-regional na Itália do que nos EUA. Uma possibilidade sugerida pelos pesquisadores é que os diferentes estados americanos têm culturas mais mistas, devido às altas taxas de migração interna, e, portanto, os impactos culturais nos EUA são mais complexos e mais difíceis de serem atribuídos a variáveis individuais.

Outro resultado do artigo é que assumir riscos está negativamente relacionada ao desempenho escolar. Foi ótimo para Bill Gates abandonar Harvard e fundar a Microsoft, mas essa provavelmente não é a melhor escolha para a maioria das pessoas.

No que diz respeito à política, esses resultados confirmam um pessimismo mais geral que muitos observadores têm sobre as estratégias de desenvolvimento regional. Tanto a Sicília quanto o estado americano da Virgínia Ocidental, por exemplo, são maravilhosas para o turismo, mas provavelmente continuarão a se desindustrializar. Uma das implicações é que os governos deveriam facilitar a mudança das pessoas de regiões e setores em declínio para outros em expansão, fazendo coisas como flexibilizar as normas de construção e eliminar o licenciamento ocupacional.

Há também implicações mais pessoais. De acordo com essa pesquisa, se os pais quiserem que seus filhos sejam melhores alunos, eles devem incutir neles as virtudes da paciência. É difícil argumentar contra isso, mas será que eles também deveriam desencorajar a tomada de riscos? A pesquisa diria que sim, mas alguns de nós já escreveram livros inteiros argumentando o contrário.

Quando é apropriado ser impaciente? Ser paciente é o mesmo que ser avesso a riscos? Existe uma maneira de assumir riscos com paciência? Essas são perguntas que merecem ser estudadas com cuidado e paciência.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World.”

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