Na Europa, fundos tentam se adaptar a regras ESG para evitar perda de investidores

Análise do Goldman Sachs mostra que investidores estão ficando mais criteriosos em suas alocações, aumentando pressão sobre a indústria de fundos

Imagem aérea da floresta Amazônica
Por Lisa Pham
08 de Setembro, 2023 | 08:36 AM

Bloomberg — Gestores estão tendo cada vez mais dificuldade em vender seus fundos de investimento na Europa a menos que eles estejam registrados como ESG, de acordo com um estudo realizado pelo Goldman Sachs (GS).

A pesquisa foi feita mais de dois anos após a União Europeia (UE) implementar seu Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR), um conjunto de regras de investimento ESG de alcance global projetado para combater a prática de “greenwashing” e direcionar capital para atividades sustentáveis.

Desde 2019, o mesmo ano em que os legisladores adotaram pela primeira vez o SFDR, suas duas categorias ESG (artigos 8 e 9) receberam 3,4 vezes mais fluxo de clientes do que suas contrapartes não-ESG (artigo 6), de acordo com a análise do Goldman.

O novo cenário regulatório teve “impactos significativos nos fluxos de capital”, escreveram analistas do Goldman, incluindo Evan Tylenda e Grace Chen, em nota.

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As conversas que o time de análise teve com participantes da indústria mostram que está “cada vez mais difícil vender fundos″ sem essas melhores práticas ambientais, sociais e de governança, disseram eles.

A nova realidade está aumentando a pressão sobre a indústria de fundos para rotular o máximo possível de produtos como ESG, ou arriscar a perda de alocações de clientes.

Isso está levando alguns gestores a testar os limites da classificação ESG mais fraca da UE — que agora foi aplicada a cerca de US$ 6 trilhões em ativos sob gestão, segundo a Bloomberg Intelligence. Exemplos recentes incluem um fundo de Bitcoin, que recebeu críticas de especialistas em meio ambiente.

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Ao mesmo tempo, cerca de um terço dos fundos do Artigo 8 não têm como alvo investimentos sustentáveis, enquanto o restante vincula suas práticas ESG a uma ampla variedade de metas difíceis de definir, de acordo com pesquisas da Morningstar.

Para registrar um fundo como Artigo 8, uma gestora precisa se comprometer a “promover” o ESG, enquanto um fundo do Artigo 9 deve tornar o ESG seu “objetivo” e almejar 100% de investimentos sustentáveis, de acordo com a definição do SFDR.

Investidores mais criteriosos

A análise do Goldman também indica que os investidores finais estão se tornando mais criteriosos e mirando nos fundos do Artigo 8 as maiores alegações de sustentabilidade.

Isso está criando uma subcategoria não oficial — “Artigo 8+” — observaram os analistas, referindo-se a fundos registrados como Artigo 8, mas que atendem a critérios de sustentabilidade mais rigorosos do que o necessário.

Desde 2019, os fundos chamados de Artigo 8+ tiveram 3,2 vezes o nível de fluxos cumulativos dos fundos regulares do Artigo 8 sem metas de investimento sustentável, mostra o estudo do Goldman. O SFDR foi promulgado em novembro de 2019 e publicado no Diário Oficial da União Europeia um mês depois.

Ao mesmo tempo, os fundos registrados como Artigo 9 — a designação ESG mais alta da UE — estão “recebendo os fluxos mais consistentes em ações e renda fixa”, segundo o Goldman.

Para os fundos do Artigo 8, os setores preferidos são tecnologia da saúde e serviços diversificados ao consumidor. Os fundos tendem a evitar os setores de tabaco, aeroespacial e defesa, combustíveis fósseis e REITs (os fundos imobiliários dos EUA) residenciais, disseram os analistas.

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Para os fundos do Artigo 9, os setores preferidos são REITs de hipotecas e produtores independentes de energia e eletricidade renovável.

As empresas de investimento que estão se adaptando ao SFDR passaram por um período turbulento que culminou em uma grande reclassificação de fundos do Artigo 9 para o Artigo 8 no final do ano passado, à medida que os gestores lutaram para interpretar a orientação em torno das regulamentações da UE.

A indústria parece ter se estabilizado, com o ritmo das reclassificações muito mais moderado este ano, segundo os analistas do Goldman.

Enquanto isso, a indústria de investimentos enfrenta uma longa lista de atualizações das regulamentações ESG da UE existentes, incluindo uma revisão de quão bem os gestores de fundos estão se adaptando à nova exigência de divulgar os chamados “indicadores de impacto adverso”, bem como novos padrões técnicos regulatórios que colocarão mais pressão sobre as empresas para respaldar suas alegações de ESG.

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Ao mesmo tempo, a demanda por produtos ESG levará os gestores a se tornarem cada vez mais ambiciosos nas metas de sustentabilidade que estabelecem, disseram os analistas do Goldman.

--Com a colaboração de Frances Schwartzkopff

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