Bloomberg Opinion — A previsão de alguns analistas de que a inteligência artificial (IA) pode permitir que a economia dos Estados Unidos atinja um crescimento anual de 30% é, sem dúvidas, radical. Alguns relatos ainda mais dramáticos (embora devemos evitar alguns autores tendenciosos) sugerem que a IA possa gerar uma utopia revolucionária após atingir uma massa crítica de conhecimento.
Acredito no poder das atuais tendências de IA, mas se observarmos a forma como as economias funcionam, defenderemos estimativas mais moderadas (mas ainda assim substanciais) do impacto da IA. O cenário mais provável é que o crescimento econômico aumentará notavelmente, mas não será um aumento chocante.
Os historiadores econômicos geralmente citam a Revolução Industrial da Grã-Bretanha como o acontecimento mais significativo de todos os tempos a melhorar os padrões de vida. No final dos séculos XVIII e XIX, ela levou as pessoas de uma existência de quase subsistência para a sociedade industrial moderna.
No entanto, as taxas de crescimento econômico durante a Revolução Industrial não foram nada surpreendentes. De 1760 a 1780, geralmente considerado um período de “decolagem”, o crescimento anual britânico foi de cerca de 0,6%. O período mais intenso foi de 1831 a 1873, quando o crescimento anual médio foi de cerca de 2,4% – um desempenho muito bom, mas “revolucionário” somente se sustentado por períodos mais longos.
A característica importante da Revolução Industrial, obviamente, é que o crescimento continuou por décadas e, portanto, os padrões de vida não regrediram. Mas não foi possível chegar rapidamente em uma economia industrial avançada. Para cada etapa ao longo do caminho, foi necessário implantar uma grande quantidade de infraestrutura e práticas sociais.
Uma fábrica de aço lucrativa pode exigir a existência de uma ferrovia próxima, por exemplo, e uma ferrovia eficiente, por sua vez, exige um acordo sobre bitolas e equipamentos compatíveis, e todas essas inúmeras decisões levam muito tempo para serem resolvidas. Sempre há gargalos e não há uma maneira simples de avançar rapidamente por todo o processo.
Uma forma de estimar o impacto da IA sobre o crescimento econômico é observar tudo que a inteligência humana trouxe para a economia global pelo desenvolvimento social e econômico da Coreia, China, Índia e outras regiões. Há muito mais inovadores e pesquisadores em potencial no mundo, e o mercado para inovação é correspondentemente maior. No entanto, toda essa nova inteligência humana não parece ter impulsionado substancialmente as taxas de crescimento nos EUA, que, em média, eram mais altas na década de 1960 do que em tempos mais recentes. Todo esse talento adicional é valioso, mas fazer as coisas acontecerem é muito difícil.
Meu melhor palpite é que a IA avançada aumentará a taxa de crescimento anual dos EUA em 0,25 a 0,5 ponto percentual. Isso não é nada desprezível: considere que a renda per capita anual dos EUA está atualmente se aproximando de US$ 80.000. Se ela crescer a uma taxa de 2% ao ano, em 50 anos esse valor será de quase US$ 215.000. Como alternativa, se a economia crescer a 2,5% ao ano, esse valor será de quase US$ 275.000 – uma diferença substancial e, com retornos compostos, essa diferença aumenta com o tempo.
No curto prazo, essa diferença nas taxas de crescimento pode significar a diferença entre um caminho fácil para o futuro e uma crise fiscal iminente e grandes aumentos de impostos. Pode significar um mundo em que a maioria dos cânceres seja curada em 30 anos, em vez de 70 ou 80. É possível reconhecer a importância desses desenvolvimentos para o bem-estar humano e, ao mesmo tempo, entender que a maior parte do PIB é um enorme aglomerado de bens e serviços, cuja produção, em sua maioria, não pode ser revolucionada rapidamente, independentemente da quantidade de inteligência (artificial ou não) disponível.
A McKinsey estimou que a IA generativa poderia acrescentar até US$ 4,4 trilhões à economia global. Em relação a um PIB mundial de cerca de US$ 100 trilhões, isso também se qualifica como notável, mas não espetacular.
Nenhuma dessas estimativas deve ser interpretada como uma sugestão de que o desenvolvimento da IA não será nada menos do que extremamente impressionante nas próximas décadas. Mas à medida que um conjunto de restrições é relaxado – nesse caso, o acesso à inteligência – as restrições restantes serão ainda mais importantes.
Os atrasos regulatórios serão mais frustrantes, por exemplo, pois reterão uma quantidade maior de potência cognitiva do que no passado. Ou, à medida que a IA melhorar a descoberta de novas e melhores hipóteses médicas para testar, as defasagens e os atrasos nos sistemas de testes clínicos se tornarão ainda mais dolorosos. Na verdade, podem até piorar à medida que o sistema for inundado de conjecturas.
A IA não estará pronta para dominar o mundo em breve – talvez nunca esteja. Então, o progresso em uma área continuará limitado por gargalos em outras restrições. Se há algo que as pessoas espertas precisam reconhecer, é que nem tudo é questão de inteligência.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World”.
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