Crise de crédito é passado? Esta gestora global diz que é cedo para decretar

Janus Henderson alerta para onda de default em títulos high yield, de maior risco, diante de juros mais altos, e se junta a gestoras como Fidelity e Allianz na preocupação

Prédios na City of London: gestora britânica alerta para default em títulos de alto risco (Foto: Chris Ratcliffe/Bloomberg)
Por Richard Henderson
19 de Junho, 2023 | 11:23 AM

A turbulência enfrentada pelo setor de pensões no Reino Unido no fim do ano passado e o mais recente estresse dos bancos regionais nos Estados Unidos podem ser apenas o começo de crises contínuas que terminariam em uma crise de crédito global, alertou a gestora global Janus Henderson.

Os dois casos em um mundo de juros elevados podem levar a um aperto do crédito, crescentes defaults e queda dos lucros corporativos, disse David Elms, que administra US$ 3 bilhões distribuídos em 11 fundos como chefe de estratégias alternativas diversificadas para a gestora de Londres. Segundo ele, a situação do crédito é algo que o deixaria “nervoso”, dado o cenário benigno nos últimos 15 anos.

Fundos de pensão do Reino Unido foram atingidos em setembro passado, depois que a então primeira-ministra Liz Truss anunciou uma rodada de cortes de impostos sem apontar como seriam compensados, o que levou a uma queda nos preços dos Gilts e a um ciclo vicioso de chamadas de garantia.

Neste ano, bancos regionais dos EUA quebraram em março e provocaram a queda de ações do setor em todo o mundo, em meio às altas dos juros pelo Federal Reserve que minavam sua liquidez.

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Os crescentes defaults dos chamados junk bonds são mais uma evidência das ameaças subjacentes aos mercados financeiros, disse Elms em entrevista na semana passada. “Se olharmos de baixo para cima, os defaults em [títulos de] alto rendimento - high yields - parecem bastante assustadores. Há um risco considerável quando se trata de lucros e inadimplência.”

“Taxas de juros mais altas tendem a quebrar as coisas”, afirmou. “Não queremos correr muito risco em áreas nas quais não temos vantagem competitiva.”

Fidelity e Allianz preocupados

Elms é apenas um exemplo entre um número crescente de investidores que se sentem desconfortáveis com os efeitos dos maiores custos de financiamento globais e do seu impacto sobre empresas menos capazes de pagar suas dívidas.

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O diretor de investimentos globais de renda fixa da Fidelity International, Steve Ellis, e o gestor de portfólio da Allianz Global Investors, Mike Riddel, manifestaram preocupação neste mês de que uma política monetária mais apertada leve a uma recessão e pese nos mercados de crédito.

Os defaults globais em títulos de alto rendimento vão aumentar para 5% no início do próximo ano, acima da média de longo prazo de 4,1%, previu a Moody’s Investors Services na semana passada.

Aposta em títulos de alto risco

Uma área em que Elms, da Janus Henderson, vê valor - e tem comprado - é a dívida bancária adicional de nível 1 (AT1s) emitida por bancos europeus.

Os títulos de dívida de risco relativamente alto despencaram em março, depois que autoridades suíças que intermediaram a aquisição do Credit Suisse pelo UBS excluíram investidores de AT1 do plano de resgate, preservando parte do valor de suas ações.

Os AT1s se recuperaram desde então e subiram mais de 10% no mês passado, de acordo com um índice da Bloomberg, recompensando gestores como Elms e outros que foram atraídos pelos títulos desvalorizados.

“As pessoas resgataram muitas dívidas bancárias, incluindo AT1s”, disse Elms. “Nunca havíamos realmente visto o valor dos AT1s”, disse ao explicar por que nunca tiveram esses títulos no portfólio: “estavam precificados em um nível em que a probabilidade desse evento era extremamente baixa”.

- Com a colaboração de Garfield Reynolds e Tan Hwee Ann.

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