Bloomberg — As principais empresas de consultoria em fusões e aquisições estão seguindo o conselho que passam a seus próprios clientes: compre quando os alvos estiverem baratos e consolide para enfrentar a crise.
No mês passado, pelo menos quatro grandes bancos anunciaram acordos envolvendo bancos de investimento menores, boutiques de M&A, no momento de maior queda em fusões e aquisições em uma década, excluindo a “seca” de transações induzida pela covid-19 no começo de 2020.
O Mizuho Financial Group anunciou na segunda-feira (22) planos para comprar a Greenhill. O Mediobanca, o maior banco de investimento de capital aberto da Itália, havia anunciado na semana passada a aquisição da empresa de consultoria com foco em tecnologia Arma Partners.
Os negócios seguem uma onda que vem desde o final de abril, quando o Deutsche Bank (DB) divulgou um acordo para comprar a Numis, uma das boutiques mais conhecidas do Reino Unido. Isso foi um dia depois que o Sumitomo Mitsui Financial Group concordou em triplicar sua participação nos Estados Unidos no banco de investimentos Jefferies Financial Group.
Em março, o Toronto-Dominion Bank concluiu a aquisição de US$ 1,3 bilhão da corretora americana Cowen.
A consolidação não se limita aos bancos. Os escritórios de advocacia Allen & Overy e Shearman & Sterling anunciaram no fim de semana passado planos de fusão, criando um novo concorrente de peso no setor jurídico com alcance global.
Queda do negócio
Embora cada transação tenha também motivos específicos, as fusões ocorrem em um ano em que o volume geral de negócios caiu cerca de 44%, para US$ 973 bilhões até agora em 2023, no ambiente de incerteza econômica, uma repressão antitruste e mercados de financiamento mais travados e rigorosos, segundo dados compilados pela Bloomberg News.
Para alguns dos advisors de boutique que dependem inteiramente de consultoria em fusões e aquisições para pagar as contas, a crise está afetando os negócios. Os valuations das empresas também foram puxados para baixo pela crise bancária regional nos Estados Unidos.
“Se você está em uma posição sólida, este é um mercado incrivelmente atraente para crescer, já que muitas empresas estão lutando devido aos menores volumes de fusões e aquisições”, disse Miguel Hernandez, diretor-executivo da divisão de investment banking da Alantra Partners.
A Greenhill caiu para a 74ª posição até agora neste ano no ranking de deals, após ter alcançado regularmente o top 20 antes da crise financeira, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
À primeira vista, a oferta de US$ 15 por ação do Mizuho, com um prêmio de 121% em relação ao preço das ações da Greenhill no fechamento de sexta-feira, parece pesada. Mas a empresa com sede em Nova York tem negociado perto de uma mínima histórica após atingir o pico de US$ 96 em 2009.
A Greenhill foi um dos primeiros bancos de investimento considerado boutique a abrir o capital em 2004 sob o comando de seu icônico fundador, o veterano de fusões e aquisições Bob Greenhill. O patriarca da empresa, que completa 87 anos em junho, e o atual CEO Scott Bok, que permanecerá em uma nova função na Mizuho, são os dois maiores acionistas.
Batalha com grandes bancos
Na última década, a Greenhill enfrentou uma concorrência crescente de uma proliferação de boutiques, com Moelis & Co., Houlihan Lokey e PJT Partners entre as que abriram o capital.
E, enquanto a boutique Centerview Partners subiu para a posição número cinco neste ano nas tabelas de classificação, o ranking de deals continuo dominada por grandes nomes como Goldman Sachs (GS), JPMorgan Chase (JPM) e Morgan Stanley (MS).
“Os grandes bancos que atuam também com empréstimos têm obtido lucros substanciais com o aumento das taxas de juros, enquanto as boutiques de fusões e aquisições têm realmente lutado pelos negócios durante os últimos dois trimestres”, disse Valeriya Vitkova, professora sênior de finanças corporativas na Bayes Business School, em Londres.
“Estamos vendo os grandes bancos que operam com crédito agirem como compradores confiantes, enquanto as boutiques de M&A agem como vendedores assustados.”
A Greenhill não é a única boutique que optou por deixar o mercado de empresas públicas. A dinastia Rothschild anunciou em fevereiro planos de fechar o capital de sua empresa homônima, terminando uma fase de décadas no mercado público, no qual se sentia desvalorizada.
A venda para bancos maiores, como os japoneses ou os canadenses, também permite que as empresas de consultoria adicionem recursos de balanço ao seu arsenal em um mercado em que os negócios vivem ou morrem de financiamento (ou a falta dele no segundo caso).
E os novos proprietários ganham a possibilidade de vender produtos de dívida e ações e expandir geografias ou setores, como tecnologia no caso da Arma Partners, para seus clientes de M&A.
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