Brasília em off: por que a discussão da meta de inflação deve levar mais tempo

Na visão do Ministério da Fazenda, cenário ideal para revisão eventual das metas deveria contar com aprovação do arcabouço fiscal pelo Congresso

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Bloomberg — A equipe do Ministério da Fazenda acredita que seria ideal concluir a aprovação do novo arcabouço fiscal no Congresso antes de fazer qualquer discussão sobre mudanças nas metas de inflação, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto. Isso significa que é pouco provável que a meta seja tratada na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) prevista para maio.

Tradicionalmente, a discussão sobre a meta de inflação ocorre em junho, mas a pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reduzir as taxas de juros levou o governo a considerar antecipar essa discussão no início do ano. O debate, no entanto, acabou esfriando.

A avaliação é que, enquanto houver incerteza no campo fiscal, não dá para discutir o monetário.

Deferência

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a considerar não comparecer ao Congresso para o debate temático sobre taxas de juros com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto nesta semana que passou. O melhor, neste momento, seria evitar desgaste em torno da política monetária e focar na aprovação na proposta do arcabouço fiscal.

No entanto o ministro reavaliou a decisão depois de ser lembrado que o debate decorre de um requerimento do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que tem sido um aliado do governo em defesa de reformas econômicas. Haddad e Pacheco ficaram mais próximos depois de integrarem a comitiva da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China.

Outra perspectiva

A equipe econômica avalia que conseguiu transformar uma derrota em uma vitória no caso da proposta de taxar importações de produtos de sites do exterior.

O plano original do governo para reforçar as receitas era passar a taxar todas as importações, incluindo as operações feitas entre pessoas físicas em valores abaixo de US$ 50, que são isentas.

No entanto a repercussão política negativa fez o presidente Lula ordenar um recuo da ideia. A derrota se transformou em vitoria, na visão da equipe econômica, quando o ministério conseguiu obter o compromisso público de empresas chinesas como a Shein de aderirem ao programa de conformidade da Receita Federal. Além disso, a Shein anunciou investimentos de R$ 750 milhões no mercado doméstico.

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