Bitcoin acima de US$ 30 mil: nova retomada das criptos está a caminho?

Criptomoeda recupera parte das perdas acumuladas desde os escândalos que sacudiram o setor, mas especialistas alertam para baixa liquidez

Moeda supera marca de US$ 30 mil, mas recuperação parcial de valor ainda é vista com ceticismo por especialistas
Por Michael P. Regan - Anna Irrera
17 de Abril, 2023 | 08:22 AM

Bloomberg — Quando o bitcoin caiu de cerca de US$ 30 mil para menos de US$ 20 mil há cerca de um ano, o cofundador da Three Arrows Capital (3AC), Su Zhu, descreveu a queda como o “prego no caixão” de seu hedge fund.

Hoje, contudo, a maior criptomoeda acaba de refazer esse caminho de US$ 20 mil para US$ 30 mil, mas a indústria é uma sombra do que foi a última vez que o token ultrapassou esse marco.

Isso porque vários outros “caixões” foram martelados na onda de quebras no setor que se seguiu ao colapso da Three Arrows: Voyager Digital, Celsius, FTX, Blockfi, Genesis Global e outras startups que antes voavam alto.

É claro que, embora o sentimento tenha melhorado em comparação com o visto no ano passado, a promissora recuperação do bitcoin por si só não será suficiente para consertar todos os danos da desaceleração repleta de escândalos de 2022.

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“As últimas semanas não podem deixar que seja ignorado tudo o que aconteceu nos últimos 10 meses”, disse Oliver Linch, diretor executivo da plataforma de negociação Bittrex Global, em Paris.

“Mas certamente há um sentimento de que talvez isso indique que uma linha pode ser traçada sob esses escândalos e podemos voltar a avaliar – e valorizar – criptomoedas sem todo o barulho dos rumores e irregularidades”, acrescentou.

Esses supostos delitos atraíram um dilúvio de escrutínio regulatório e ações de autoridades nos Estados Unidos.

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Entre os casos mais proeminentes: Sam Bankman-Fried, da FTX, aguarda julgamento por acusações de fraude; Do Kwon, co-fundador da blockchain Terra (LUNA), está sendo processado por seu papel no colapso desse projeto; a Binance e seu CEO “CZ” Zhao foram processados pela Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities por uma série de supostas violações; e a Coinbase Global recebeu uma notificação de que a SEC (a CVM dos EUA) pretende processar a empresa.

Binance e Coinbase negaram qualquer irregularidade; Bankman-Fried se declarou inocente.

Além disso, há o recente fracasso dos bancos de criptomoedas Silvergate Capital, Signature Bank e Silicon Valley Bank.

Embora frequentemente citado como um catalisador otimista para o bitcoin, uma vez que reviveu sua história de origem como uma alternativa aos bancos não confiáveis, a queda desses credores também cortou os principais vínculos com o sistema financeiro dos EUA, ajudando a tornar o futuro promissor da indústria cripto mais incerto.

Empregos

Muitos dos investidores do varejo afetados pela queda dos preços no ano passado parecem estar em modo de espera, em vez de assumir novos riscos, porque a quantidade de dinheiro envolvida em projetos financeiros descentralizados permanece moderada.

Embora o valor total das moedas bloqueadas em projetos DeFi tenha aumentado mais de 25% desde o início de janeiro, em cerca de US$ 50 bilhões, ainda é uma fração do pico de US$ 180 bilhões alcançado em dezembro de 2021, de acordo com o site DeFiLlama.

Ao mesmo tempo, milhares de empregos foram perdidos no setor, e as contratações não aumentaram. Em um sinal de oferta de talentos ainda superando a demanda, o projeto de blockchain Concordium recebeu mais de 350 inscrições para algumas vagas de emprego recentes, disse seu cofundador e presidente Lars Seier Christensen.

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“O ambiente [cripto] está amadurecendo um pouco, percebendo que a árvore de dinheiro disponível há alguns anos murchou um pouco”, disse ele.

Os investimentos de empresas de venture capital (capital de risco) diminuíram drasticamente. O financiamento privado para startups cripto globalmente caiu para US$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre, uma queda de 80% em relação ao recorde histórico de US$ 12,3 bilhões durante o mesmo período do ano passado, de acordo com a PitchBook.

Grande parte da indústria ainda está no “modo de esperar para ver”, disse Matteo Dante Perruccio, presidente internacional da gestora de patrimônio cripto Wave Digital Assets. “Houve uma fuga para ativos de maior qualidade [conservadores] e os beneficiados são as empresas que não foram atingidas pelo inverno cripto”.

Outra maneira pela qual esse movimento é diferente: o impressionante rali de 83% no bitcoin este ano não foi igualado por outras moedas. O Ethereum (ETH), que superou em muito o bitcoin em 2020 e 2021, subiu 71% este ano.

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O Bloomberg Galaxy DeFi Index, que rastreia os maiores protocolos de finanças descentralizadas, recuperou apenas cerca de um décimo da queda de 2.000 pontos do ano passado.

“Podemos estar vendo um caso de exaustão do vendedor combinado com uma narrativa otimista renovada após a crise bancária, tudo misturado com uma liquidez geralmente baixa que ajudou o preço do BTC a subir”, disse Clara Medalie, diretora de pesquisa do provedor de dados de mercado Kaiko.

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