Crise no crédito? Mercado Pago acelera estratégia e entra no segmento auto

Fintech do Mercado Livre afirma que operação mais conservadora em 2022 permitiu ser mais agressiva neste ano, mesmo que risco de inadimplência assuste outros players

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A crise de crédito tem preocupado cada vez mais o mercado brasileiro, especialmente depois de a Americanas (AMER3) ter divulgado um rombo contábil de R$ 20 bilhões no dia 11 de janeiro.

Em março, a Verde Asset, gestora de Luis Stuhlberger, alertou para sinais de um credit crunch no Brasil, o que levaria bancos a dificultarem ou reduzirem empréstimos às empresas.

Já no cenário das pessoas físicas, em janeiro de 2023, foram registrados 70,1 milhões de inadimplentes no país, um recorde na série histórica, segundo a Serasa Experian.

Para Tulio Oliveira, VP sênior do Mercado Pago no Brasil, a crise do crédito não alcançou o braço financeiro do Mercado Livre (MELI34), o que possibilitou um investimento maior no setor para este ano, na contramão da estratégia de restrição às concessões que a maioria dos players tem adotado.

“Vamos monitorando constantemente o mercado de crédito. Não sofremos no ano passado. Por termos sido mais conservadores no ano passado, nos sentimos mais confortáveis para o cenário atual”, explicou.

Do portfólio total de crédito do Mercado Pago, 20% é proveniente de cartão de crédito, o que corresponde a um volume de cerca de US$ 500 milhões.

Dentro da estratégia revelada pelo executivo de aprofundar a oferta de crédito, o Mercado Pago agora passará a ofertar o financiamento de veículos na plataforma do Mercado Livre na cidade de São Paulo, o maior mercado do país. Trata-se de um dos segmentos mais relevantes para o crédito e com risco reduzido dado o instrumento de alienação fiduciária, que permite a tomada do carro em caso de atrasos.

Smartphone como maquininhas

O Mercado Pago também vai oferecer uma função que permitirá que os clientes usem o smartphone como uma máquina de cartão para pagamentos. O produto deve, em algum momento, substituir a maquininha mais barata ofertada pelo banco digital, que custa cerca de R$ 11,50, segundo Oliveira.

“Olhamos para isso como mais um canal de crescimento. Hoje em dia subsidiamos uma parte do valor do pagamento da maquininha. Do ponto de vista do cliente, é melhor porque ele já tem um smartphone. Vamos testar o modelo para ver como o cliente reage — e nós esperamos que, sim, em algum momento a maquininha [mais barata] não seja mais necessária”, afirmou Oliveira.

Segundo ele, estão sendo feitos “testes” sobre as taxas a serem cobradas, mas a proposta “é liberar o valor na hora para o cliente”. O mecanismo será chamado “point tap”. Outras empresas, como o Nubank (NU), oferecem um produto semelhante para clientes com conta para pessoa jurídica.

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