Negócio de US$ 19,5 bi coloca sob o holofote setor aquecido de metais preciosos

Americana Newmont, gigante do ouro, eleva oferta pela australiana Newcrest, o que elevaria sua exposição ao cobre, um material chave na transição para energia limpa

Um dos acionistas majoritários da Newcrest, Allan Gray Ltd., descreveu a si mesmo como 'disposto' à oferta de US$ 19,5 bilhões da Newmont
Por James Fernyhough - Jacob Lorinc
11 de Abril, 2023 | 05:47 AM

Leia esta notícia em

Espanhol

Bloomberg — A perspectiva de aumentar seus “músculos” como um gigante global de metais preciosos levou a norte-americana Newmont a fazer uma nova proposta pela rival australiana Newcrest Mining Ltd., elevando sua oferta para o equivalente a US$ 19,5 bilhões (A$ 29,4 bilhões).

A proposta revisada, que vem dois meses depois que a Newcrest rejeitara a oferta anterior de US$ 17 bilhões, daria aos detentores da Newcrest 0,4 ação da maior mineradora de ouro do mundo para cada detida.

Se concluído, o negócio representará a maior aquisição do mercado de mineração de ouro, fundamental para o esforço da Newmont de aumentar a produção e estender sua liderança sobre rivais como a Barrick Gold Corp.

Também aumentará a exposição da Newmont ao cobre, um material chave na transição de energia limpa, em um momento em que os analistas estão prevendo uma grande escassez do metal dos fios na próxima década.

PUBLICIDADE

A Newcrest quer que o cobre represente mais de 50% da receita até o final da década, a partir de cerca de um quarto do faturamento agora.

O acordo também permite que a Newcrest pague um dividendo especial franqueado de até US$ 1,10 por ação. Isso resulta em um valor implícito combinado de A$ 32,87 por ação, representando um prêmio de mais de 46% em relação ao preço da Newcrest antes da oferta de fevereiro.

Os papéis da mineradora australiana deram um salto em reação ao anúncio, subindo mais de 5%, para A$ 29,80, às 13h35min em Sydney.

PUBLICIDADE

“Juntos como o líder claro da mineração de ouro, estaríamos bem posicionados para gerar retornos fortes, estáveis e duradouros com o melhor desempenho de sustentabilidade da categoria para as próximas décadas”, disse o Chefe Executivo da Newmont, Tom Palmer, em uma declaração.

Um dos acionistas majoritários da Newcrest, Allan Gray Ltd., descreveu a si mesmo como “positivamente disposto a esta transação”. O gestor de ativos detém uma participação de 7,3% na Newcrest, de acordo com dados compilados pela Bloomberg News, o que o torna o segundo maior acionista atrás da BlackRock Inc.

“Anteriormente, eu achava que a proporção de ações em oferta não atingia o equilíbrio certo e favorecia desnecessariamente os acionistas da Newmont. Está claro que isso é uma melhoria”, disse Simon Mawhinney, diretor de investimentos da Allan Gray Australia Pty Ltd..

“Embora eu sinta que o mercado, e possivelmente a Newmont, subestima os ativos da Newcrest, não me sinto prejudicado o suficiente para tentar impedir uma transação como esta.” O analista da Morgans Financial Sharad Bhat descreveu a oferta como “um preço razoável”.

A atividade de negociação no setor de mineração aumentou nos últimos meses, depois que dois anos de alta nos preços das commodities deixaram muitas mineradoras muito capitalizadas, mas ainda sem produção futura. Na semana passada, a mineradora canadense Teck Resources Ltd. rejeitou uma oferta de aquisição da gigante de commodities anglo-suíça Glencore PLC por US$ 23 bilhões.

A oferta da Newmont segue outros grandes negócios de ouro, incluindo a aquisição de US$ 5,2 bilhões da Yamana Gold Inc., que deve ser fechada até o final de março, e a compra de US$ 10,4 bilhões da Angico Eagle Mines Ltd. da Kirkland Lake Gold Ltd. há um ano.

O componente de dividendos da proposta tira proveito de uma lei tributária australiana que concede aos acionistas domésticos em empresas locais créditos fiscais, mas não estaria disponível após a aquisição pela empresa americana.

PUBLICIDADE

Esses créditos - com base no princípio de que o imposto corporativo e o imposto de renda pessoal são intercambiáveis - podem ser “incrivelmente atraentes para acionistas domiciliados na Austrália”, disse Mawhinney, acrescentando que esse foi um dos principais motivos pelos quais ele gostou da oferta.

A Newcrest informou que abriu seus livros para a due diligence, mas o negócio ainda tem vários obstáculos a superar, incluindo a obtenção de uma recomendação do conselho da Newcrest. O processo de investigação e auditoria das contas da empresa deve levar aproximadamente quatro semanas. A Newmont indicou que sua oferta é a “melhor e final”.

A Newcrest está sendo assessorada pelo JPMorgan Chase & Co. e pela Gresham Advisory Partners Ltd. A Newmont contratou a BofA Securities, a Centerview Partners LLC e a Lazard Ltd. como seus consultores financeiros.

- Com a colaboração de Harry Brumpton e Sybilla Gross.

PUBLICIDADE

Veja mais em Bloomberg.com

Veja também

Como a crise dos bancos favorece o ouro