Guerra do petróleo: como os sauditas desafiaram Putin pelo controle do mercado

Bastidores da decisão de 2020 de ‘inundar’ o mercado com aumento de produção ajudam a entender decisão inesperada do último domingo que abalou investidores

Abdulaziz bin Salman, ministro de Energia da Arábia Saudita, em entrevista para a Bloomberg Television
Por Dana Khraiche - Verity Ratcliffe
07 de Abril, 2023 | 11:44 AM

Bloomberg — A ordem do príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman de inundar os mercados de petróleo há três anos, durante uma disputa com a Rússia, deu ao reino confiança para ser mais assertivo na definição das políticas da Opep+, disse o ministro da Energia em uma recente entrevista na TV.

Em março de 2020, o líder do cartel estava em um impasse com Vladimir Putin: Riad queria cortar a produção em resposta ao começo da pandemia de Covid-19, mas o Kremlin queria esperar, disse o ministro da Energia, príncipe Abdulaziz bin Salman, como parte de uma série de documentários exibida pela Grupo saudita MBC.

Quando o ministro disse ao príncipe herdeiro que o cartel não havia chegado a um acordo sobre cotas, o governante de fato do reino disse que a Arábia Saudita deveria atingir sua “capacidade máxima de produção”.

“Na verdade, entrei em pânico”, disse o ministro durante o episódio intitulado OPEP Leadership. “Não vou mentir sobre como eu estava naquele momento.”

PUBLICIDADE

O ponto crítico, apenas seis meses após o início do mandato do príncipe Abdulaziz bin Salman, deu à Arábia Saudita maior convicção de usar seu status de maior país exportador de petróleo do mundo. Isso ficou evidente em 2 de abril deste ano, quando a Arábia Saudita levou a Opep+ a anunciar um corte surpresa na produção de mais de 1 milhão de barris por dia, abalando os mercados globais de energia.

A Opep+ reúne os membros da tradicional Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais a Rússia, outro dos maiores vendedores da commodity no mundo.

“Saímos disso com uma autoconfiança elevada e uma vitória sem precedentes”, disse o ministro sobre a situação de 2020.

PUBLICIDADE

Naquela época, o príncipe Abdulaziz alertou o príncipe herdeiro de que sua decisão poderia levar os preços a uma “queda drástica e excessiva” quando os mercados abrissem e a produtora Saudi Aramco, principal companhia do país no setor, precisaria oferecer descontos para garantir que tivesse compradores suficientes. O governante disse para ir em frente e abrir as torneiras.

O ministro voltou a uma sala de executivos da Aramco e disse a eles: “Vamos fazer então, tenho instruções para fazer”, disse ele no episódio. Mohammed Al Qahtani, chefe de operações de downstream da Aramco, levantou-se e “até vi uma lágrima em seus olhos”, disse o ministro.

“Foi uma lágrima de orgulho e alegria”, disse o príncipe Abdulaziz. “Ele se levantou e disse: ‘Este é o melhor dia da minha vida’. Então todos nos levantamos e - para ser honesto - todos aplaudimos.”

No final das contas, a ousadia da Arábia Saudita funcionou. Quando a Opep+ se reuniu em meados de abril daquele ano, seus membros concordaram em cortar 9,7 milhões de barris por dia – pouco abaixo da proposta inicial de 10 milhões.

“Não foi uma questão de preço nem de lucro nem de receita”, disse o ministro sobre a decisão de 2020. “Pelo contrário, é uma questão de ‘ser ou não ser’; quem será o mestre deste setor?”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

PUBLICIDADE

Petrobras lidera descobertas de petróleo no mundo, mas execução é incógnita

Petróleo sob pressão: Opep+ faz corte surpresa de 1 milhão de barris por dia