Batalha de credores com construtoras em default na China promete ser longa

Apesar de medidas recentes do governo para apoiar o setor, o aperto de liquidez persistente mantém a inadimplência elevada no curto prazo

Mercado imobiliário é um dos mais representativos na economia chinesa
Por Dorothy Ma - Alice Huang
29 de Março, 2023 | 11:36 AM

Bloomberg — Credores globais enfrentam uma longa batalha para recuperar o dinheiro de incorporadoras problemáticas da China em meio ao colapso do setor imobiliário, que continua a afetar o mercado de títulos offshore do país, de US$ 735 bilhões, pelo terceiro ano consecutivo.

Detentores de títulos em dólar fazem tudo ao seu alcance para que os inadimplentes paguem o valor devido, mas seus esforços foram em grande parte frustrados por longos processos de reestruturação de dívida e litígios. Abaixo de seus pares onshore na hierarquia, alguns apelaram à intervenção dos reguladores.

Muitos até recorreram a petições de liquidação, uma ação legal arriscada que pode sair pela culatra ao provocar vendas aceleradas a preços muito baixos.

Embora uma série de propostas de reestruturação da dívida tenha avançado, um plano divulgado na semana passada pela China Evergrande levantou preocupações de que investidores possam ter que esperar anos para receber seu dinheiro de volta.

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Em uma das opções, a maior construtora chinesa a declarar default se ofereceu para trocar títulos antigos por novos com vencimentos de até 12 anos. A Nomura disse em relatório que o plano estabelece um nível baixo, embora possa ajudar a acelerar outros em andamento.

Uma proposta semelhante divulgada na terça-feira (28) pela Sunac China Holdings, que já esteve entre as cinco maiores incorporadoras do país, visa substituir notas em dólar por novas dívidas com vencimento entre dois e nove anos.

A recuperação dos detentores de títulos offshore parece “precária” de acordo com o plano, disse Zerlina Zeng, analista sênior da CreditSights.

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A batalha de credores para recuperar o dinheiro não apenas destaca os desafios enfrentados por investidores estrangeiros no segundo maior mercado de crédito do mundo, mas também a incapacidade do governo de Pequim de encerrar a crise que colapsou algumas das maiores incorporadoras, incluindo a Evergrande.

Apesar de uma série de medidas recentes do governo para apoiar o setor, o aperto de liquidez persistente mantém a inadimplência elevada no curto prazo, de acordo com o Goldman Sachs (GS).

Aumento da inadimplência

A inadimplência corporativa em títulos offshore totalizou um recorde de US$ 46,5 bilhões na China no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. Em grande parte excluídas dos mercados de crédito, construtoras declararam default em mais de 140 títulos em 2022 e deixaram de pagar US$ 50 bilhões em dívidas domésticas e globais com base no valor da emissão.

“Há muitos anos não víamos tantos casos de inadimplência na China”, disse Charles Chang, diretor sênior e líder para Grande China da S&P Global Ratings, em Hong Kong. “É difícil usar referências anteriores. É um momento de estabelecimento de precedentes.”

A Evergrande manteve detentores de dívidas offshore em suspense por meses antes de apresentar seu plano. Uma opção inclui pagamentos de juros sobre novos títulos em espécie para os primeiros 30 meses, ou seja, com mais dívidas.

Alguns especialistas dizem que o plano da gigante imobiliária pode oferecer um roteiro para outras incorporadoras em apuros, como Kaisa Group e Shimao Group Holdings. Enquanto isso, o Logan Group busca substituir títulos por novas dívidas com vencimento em sete anos, informou a Bloomberg News este mês.

“Ainda existem obstáculos na execução devido ao tamanho e complexidade das estruturas de capital da maioria das incorporadoras inadimplentes”, disse Jenny Zeng, diretora de investimentos para renda fixa da Ásia na Allianz Global Investors.

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O Goldman prevê que a taxa de inadimplência para empresas imobiliárias chinesas de alto rendimento cairá apenas para 28% este ano frente a mais de 40% em 2022, com expectativas de que o suporte à liquidez possa ser “desproporcionalmente direcionado a incorporadoras de melhor qualidade”.

“O primeiro ciclo real de default de crédito que a China enfrenta agora também deve fornecer melhor visibilidade nos processos de reestruturação e valor de recuperação”, disse Zeng, da Allianz, acrescentando que isso pode “abrir caminho para uma trajetória muito mais saudável” para o setor imobiliário do país.

-- Com a colaboração de Yuling Yang.

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