Sergio Furio, da Creditas: ‘Com estabilidade dos juros, vamos expandir a margem’

Executivo diz à Bloomberg Línea que vê recuperação da margem de lucro e breakeven em 2023; alta dos juros afetou o resultado da fintech de crédito em 2022 e obrigou a empresa a cortar custos

Empresa deixará de comprar e revender veículo por conta própria e vai atuar apenas com o financiamento de veículos
23 de Março, 2023 | 09:07 AM

O CEO e fundador da Creditas, Sergio Furio, acredita em uma recuperação da margem de lucro da fintech de crédito com o cenário de estabilização ou até redução dos juros no Brasil num horizonte de dois anos. Em entrevista à Bloomberg Línea, Furio afirmou que espera atingir margem de lucro de 40% até 2024, o que pode ser acelerado em caso de redução das taxas de juros no país já este ano.

“À medida que a empresa reduz inventário, consome menos capital e aumenta o lucro bruto na margem de contribuição. Com juros se estabilizando, vamos expandir a margem”, disse o CEO da fintech que tem garantia financiada pela Fidelity. A Creditas é a terceira maior startup unicórnio do Brasil, com avaliação de mercado de US$ 4,8 bilhões, de acordo com a consultoria CB Insights, atrás de QuintoAndar (US$ 5,1 bilhões) e o banco C6 (US$ 5,05 bilhões)

“Fizemos nosso plano em juros estável em 13,75% até final do ano. Mantendo os juros no nível atual, chegaríamos aos 40% de margem em 2024. Se os juros caírem, aceleramos essa subida de lucro bruto e acabamos 2023 com margem de contribuição de 40%.”

O executivo vê baixa a chance de elevação da Selic em 2023. Mas, se isso acontecesse, a reação da Creditas seria aumentar preços, repassando custos ao cliente. Mas, se a Selic se mantiver em 13,75% e a taxa de juros ao cliente se mantiver no nível pré-fixado atual, a Creditas afirma que é possível atingir o chamado breakeven (equilíbrio entre lucro e prejuízo) até o final do ano.

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Margens pressionadas

A Creditas viu as margens operacionais se reduzirem à medida que o Banco Central elevou a taxa de juros do Brasil de 2%, em março de 2021, para o atual patamar de 13,75%. Isso impactou o custo de captação de seus veículos de securitização, como os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) emitidos pela fintech para originar empréstimos, comprimindo a margem financeira.

“Com juros planos, nossa margem operacional é de 43%. Quando há uma subida rápida de juros nossa margem cai. Caiu de 50% para 10% no segundo trimestre de 2022. Com a Selic estabilizada, a nova carteira está sendo originada a uma taxa de juros maior, e portanto reprecifica o portfólio”, disse Furio.

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A Creditas tem 70% de sua carteira de crédito atrelada a juros pré-fixados. Os demais 30% são atrelados ao IPCA+ no ativo e no passivo na securitização. Mas a unidade de financiamento de carros e crédito consignado tem pré-fixado no ativo, e no passivo com CDI+.

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A empresa disse que o preço dos empréstimos pré-fixados continuou subindo de 32% em setembro de 2021 para 56% em dezembro de 2022. “Devido à natureza de longo prazo de nossos empréstimos (prazo médio de 4 anos para empréstimos pré-fixados e 15 anos para empréstimos flutuantes), nosso preço médio de carteira continua aumentando, de 32% em setembro de 2021 para 41% em dezembro de 2022″, disse a fintech em comunicado.

Em 2022, a empresa teve receita de R$ 1,8 bilhão, um aumento de 118% em relação a 2021. A Creditas disse que teve um lucro bruto 60% maior no último trimestre de 2022 em comparação com primeiro trimestre do ano passado por conta da reprecificação de sua carteira de empréstimos e diminuição do custo do crédito.

Reestruturação

Nesta semana, a empresa comunicou o fechamento de seu centro de recondicionamento de veículos. Agora, a empresa deixará de comprar carros para revendê-los. Em 2021, a Creditas adquiriu a Volanty, startup de compra e venda de carros usados, para entrar na competição com a Kavak com a unidade de negócios Creditas Auto. A partir de agora, para o negócio de automóveis, a empresa continuará apenas com financiamento e seguros.

Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que o desempenho da indústria automobilística brasileira no primeiro bimestre de 2023 foi limitado pelas condições de crédito e oferta de suprimentos. Nos últimos dias, o Santander (SANB11) firmou um acordo para vender 40% da Webmotors, de compra e venda de carros usados de forma online, para a australiana Carsales, por R$ 1,24 bilhão, em transação que avaliou a empresa brasileira de compra e venda de automóveis online em R$ 3,1 bilhões.

Com a operação, a Carsales passou a ter 70% da Webmotors, sob condição de que o Santander mantenha exclusividade na oferta de financiamento e seguros na plataforma.

Furio disse que o encerramento da fábrica de Barueri, onde a empresa tinha em torno de 90 pessoas trabalhando no recondicionamento de veículos usados, já vinha sendo trabalhado desde o ano passado com a redução do inventário.

Nessa fábrica, a Creditas recondicionava os veículos usados comprados para depois fazer a venda e complementar com financiamento e seguros. Agora, a empresa pretende terceirizar esse serviço de recondicionamento para ter uma “operação mais eficiente” e apenas atuará como intermediária na transação entre duas pessoas físicas, indicando pontos de venda físicos e inspeção por meio de parceiros como mecânicas.

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“Nas próximas semanas vamos oferecer alternativas para essas pessoas que estão neste centro para que, em alguns casos, sejam realocadas para nossos parceiros terceirizados”, disse Furio. Sem a instalação e inventário de carros, a empresa pretende preservar investimento Capex.

Mesmo assim, a Creditas optou por não fechar o negócio de automóveis porque “o tipo de crédito e seguro que o Creditas Auto gera é muito bom”, segundo o CEO, que alega que a Creditas Auto representa cerca de 3 a 4% da operação da Creditas.

A Creditas disse que por ter uma carteira colateralizada para crédito de pessoa física, teve um impacto de provisões “muito baixo”, e que não foi impactada como incumbentes que tiveram que aumentar o número de provisões pelo ciclo do mercado de crédito.

A última emissão da Creditas foi um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) listado com a Kinea, de R$ 400 milhões. A empresa tem 35 veículos de securitização e continuará as emissões este ano, agora em parceria com o banco adquirido no final de 2022, o Andbank, que será um assessor de depósitos para compor a captação da Creditas para além do mercado de capitais.

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A Creditas tem cerca de 3 mil funcionários e disse que seu valuation se mantém o último da transação com a Fidelity, quando foi avaliada em US$ 4,8 bilhões.

Furio espera levar a empresa a um IPO (oferta pública inicial) se o mercado de ações ficar mais aberto em 2024 e se a empresa estiver rentável.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups