Apostas em pausa do Fed ganham força após ação global para conter crise

No domingo, o Federal Reserve e outros 5 bancos centrais anunciaram medidas para aumentar a liquidez por meio de acordos de swap de dólar

Volatilidade do mercado nas últimas semanas tem contribuído para mudança de estimativas
Por Catarina Saraiva
20 de Março, 2023 | 11:47 AM

Bloomberg — O argumento de que o Federal Reserve vai fazer uma pausa no aumento dos juros ganhou força aos olhos de alguns observadores do banco central dos Estados Unidos, após a ação coordenada global para aliviar a crescente instabilidade financeira.

Antes do fim de semana, a maioria dos economistas projetava que o Fed elevaria sua taxa básica em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira (22), para um intervalo de 4,75% a 5%, dando sequência à campanha de um ano para reduzir a inflação.

Na tarde de domingo, no entanto, o Fed e outros cinco bancos centrais anunciaram medidas para aumentar a liquidez por meio de acordos de swap de dólar, aumentando a frequência de acesso, que passa a ser diário em vez de semanal, em linha com ações tomadas em outros momentos de crise.

Embora uma reação positiva dos mercados tenha reforçado inicialmente as apostas em um aumento de 0,25 ponto, vários analistas dizem que os cálculos do risco-benefício em torno de uma pausa começam a se tornar mais favoráveis a essa opção.

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“O fato de você estar envolvido em uma coordenação global com outras autoridades de bancos centrais para resgatar instituições e manter o fluxo de liquidez sugere apenas que uma pausa é provavelmente um melhor risco-retorno”, disse Julia Coronado, presidente da MacroPolicy Perspectives e ex-economista do Fed.

O banco central pode sinalizar que sua “intenção neste momento está focada em estabilizar a liquidez no sistema bancário”, afirmou.

As medidas seguiram a compra do Credit Suisse no domingo (19) pelo UBS em um acordo mediado pelo governo com o objetivo de combater uma crise de confiança que ameaçava se espalhar pelos mercados globais.

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E tudo aconteceu logo após o colapso de três bancos dos EUA há uma semana, falências que efetivamente tiraram uma alta de 0,5 ponto percentual da mesa, algo sugerido pelo presidente do Fed, Jerome Powell, no início do mês.

O Fed foi acompanhado pelo Banco do Canadá, Banco da Inglaterra, Banco do Japão, Banco Central Europeu e pelo Banco Nacional Suíço no anúncio da ação coordenada.

Preocupação com contágio

Fazer uma pausa ou subir os juros ainda é uma decisão difícil, e analistas não mudaram suas previsões de imediato, a tal ponto que as chances de que o Fed mantenha as taxas pareciam ter aumentado após os eventos no domingo.

Ao manter a previsão de alta de 0,25 ponto nesta semana, o economista-chefe do DBS Bank, Taimur Baig, também reconheceu que a convicção dessa projeção começa a perder força.

“Um banco central muito claro e confiável pode conseguir o equilíbrio entre combater a inflação por meio de juros mais altos e acomodar a liquidez para conter a pressão do mercado financeiro”, disse Baig, de Singapura, em relatório nesta segunda-feira (20).

“O Fed está à altura da tarefa, em nossa opinião, mas as incertezas são muito altas atualmente.”

Mesmo com as autoridades do Fed tendo sinalizado repetidamente sua intenção de manter a luta contra a inflação por meio de elevações contínuas das taxas, a volatilidade do mercado nos próximos dois dias pode desviá-las desse curso ao apertar as condições financeiras.

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“É uma mensagem sutil, mas espero que a política monetária tenha o foco na inflação e todas essas outras ferramentas e medidas para estabilizar o sistema bancário sejam separadas”, disse Brad Gibson, chefe de renda fixa da AllianceBernstein, de Melbourne, em entrevista à Bloomberg Television nesta segunda-feira (20).

“Mas vai ser uma mensagem difícil de vender em um mercado como este.”

-- Com a colaboração de Michelle Jamrisko e Malcolm Scott.

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