SoftBank reflete inverno tech e tem baixa recorde de aportes em um trimestre

Maior investidor em empresas de tecnologia do mundo participa de 8 rodadas no 4º trimestre, versus aportes em mais de 90 startups no auge do mercado

Masayoshi Son, o bilionário fundador e CEO do SoftBank, maior grupo investidor em empresas de tecnologia do mundo (Kiyoshi Ota/Bloomberg)
Por Min Jeong Lee - Takahiko Hyuga
25 de Janeiro, 2023 | 07:04 PM

Bloomberg — As novas apostas em startups do SoftBank atingiram uma baixa recorde no último trimestre, com os valuations em queda contínua.

O maior grupo investidor em empresas de tecnologia do mundo participou de apenas oito rodadas de investimento nos três meses encerrados em dezembro, totalizando US$ 2,1 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg News. Foi a primeira vez que o número de negócios do SoftBank caiu para um dígito desde o lançamento de seu Vision Fund.

No auge, o conglomerado japonês de Masayoshi Son chegou a participar de rodadas de financiamento no valor de US$ 30 bilhões em mais de 90 startups em um único trimestre.

Os investimentos em startups do Vision Fund do SoftBank ficaram abaixo de US$ 350 milhões no trimestre encerrado, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. No total, o segmento investiu mais de US$ 144 bilhões em cinco anos e meio, uma média de mais de US$ 6 bilhões por trimestre.

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O SoftBank não está sozinho.

Rivais como Tiger Global Management, Sequoia Capital e Coatue Management também apertaram suas torneiras depois de arcar com grandes baixas contábeis em 2022.

Com a redução de saídas lucrativas em meio à queda nos valuations de empresas de tecnologia, investidores com muito dinheiro recuaram, interrompendo as rodadas de financiamento de bilhões de dólares que haviam tornaram-se comuns nos últimos anos.

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“Com todos esses players desacelerando, veremos menos manchetes sobre novos unicórnios, mas eu diria que este é um período de recuperação saudável depois de festejarmos um pouco demais nos últimos três anos”, disse o presidente-executivo da Coral Capital, James Riney.

Globalmente, os investimentos em capital de risco caíram 37%, para US$ 527 bilhões no ano passado, segundo a empresa de pesquisa de mercado Preqin.

Os Vision Funds do SoftBank transformaram o ecossistema de capital de risco, direcionando bilhões de dólares para centenas de startups e forçando outros investidores a igualar suas grandes apostas.

Ao inundar os mercados privados com dinheiro fácil, o SoftBank e seus rivais permitiram que as empresas perseguissem o crescimento, evitando o escrutínio das listagens públicas.

Os investidores de startups em estágio inicial (early stage) podem esperar uma saída lucrativa, enquanto os investidores em estágio avançado (late stage) lutam para comprar suas participações, elevando os valuations em um canto opaco do investimento.

Essas apostas azedaram, junto com as promessas de ganhos rápidos por meio de grandes ofertas públicas iniciais, os celebrados IPOs. Os Vision Funds do SoftBank têm desempenho inferior ao restante do setor de capital de risco. Um fundo não conseguiu recuperar suas perdas.

O que vem pela frente

Agora, mesmo depois de um ano de baixas contábeis, os investidores ainda estão debatendo quanto mais os valuations ainda precisam cair, e essa incerteza está prejudicando a capacidade das startups de levantar novos capitais, forçando profundos cortes de custos em empresas grandes e pequenas.

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Uma pesquisa recente da January Ventures com 450 fundadores de startups em estágio inicial nos EUA e na Europa descobriu que cerca de 80% não tinham dinheiro suficiente para passar por mais um ano, enquanto as startups em estágio avançado recorreram à captação de recursos com avaliações nitidamente mais baixas, o chamado down round.

Isso pode significar uma enxurrada de aquisições de startups neste ano, à medida que os investidores - sob pressão para sair - cobram os empreendedores a vender suas empresas ou suas participações a empresas maiores, como o acordo de US$ 20 bilhões da Adobe para comprar a Figma.

Baixas contábeis e recompras de ações

O SoftBank assumiu grandes baixas contábeis em investimentos em algumas das startups mais bem-sucedidas do mundo, resultando em perdas profundas no ano passado. A unidade do Vision Fund perdeu US$ 7,2 bilhões no trimestre encerrado em setembro, depois de perder um recorde de US$ 17 bilhões no trimestre anterior.

Com o fundador bilionário do SoftBank, Masayoshi Son, tendo prometido jogar na defesa enquanto o mercado permanecer fraco, é improvável que o SoftBank reverta o curso tão cedo. Seu desempenho está sob pressão adicional de um dólar mais fraco, com queda de 9% em relação ao iene durante o trimestre até dezembro, após sete trimestres consecutivos de aumento dos ganhos.

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É provável que o SoftBank tenha registrado outra perda em sua unidade Vision Fund, dado que uma fraqueza no dólar mais do que compensou os ganhos da moeda local, disse Kirk Boodry, analista da Redex Research, que publica no Smartkarma.

Em vez de gastar em negócios, o SoftBank esbanjou 532 bilhões de ienes (US$ 4 bilhões) em recompras de ações, impulsionando um ganho de 15% em suas ações durante os três meses encerrados em 31 de dezembro. Foi o melhor desempenho trimestral das ações em quase dois anos.

Momentos de ser paciente

Embora nenhuma recuperação nos investimentos do Vision Fund seja esperada no curto prazo, uma oferta pública inicial bem-sucedida da unidade de design de chips Arm ou uma venda de ativos podem dar ao SoftBank o combustível para impulsionar os negócios mais para a frente neste ano, disse Boodry. O SoftBank adquiriu a Arm por cerca de US$ 32 bilhões.

Mas Son enfrenta uma batalha difícil em um mercado ainda fraco para IPOs, com as tensões EUA-China pesando no setor de semicondutores. Dadas as chances de uma recuperação rápida, os executivos do SoftBank disseram que estão preparados para reduzir os investimentos por muitos meses se necessário.

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“Temos uma visão muito pessimista sobre o ambiente de mercado”, disse o diretor financeiro Yoshimitsu Goto na teleconferência de resultados de novembro da empresa. “Mas temos força para suportar essas condições por um longo período de tempo. Seremos pacientes e esperaremos o momento certo.”

- Com a colaboração de Enda Curran e Jane Zhang.

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