O xadrez político que levou Simone Tebet para o Ministério do Planejamento

A contragosto de alas do PT, senadora comandará pasta responsável pelo Orçamento

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Bloomberg Línea — O presidente eleito Lula (PT) anunciou nesta quinta-feira (29), depois de semanas de discussões, que Simone Tebet (MDB-MS) será a ministra do Planejamento. Eleita senadora em 2014, ela termina o mandato em janeiro e assumirá um dos três ministérios entregues por Lula ao MDB.

O Ministério do Planejamento é um dos mais importantes da Esplanada. A pasta é responsável pela elaboração do Orçamento da União. Por isso, recebe de todos os ministérios os pedidos de verbas para custeio, políticas públicas e novos programas. É a última etapa antes do envio da proposta pelo governo ao Congresso.

Tebet queria que seu ministério abrangesse os bancos públicos, hoje sob o chapéu do Ministério da Fazenda de Fernando Haddad. Lula não concordou com o pedido.

O deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que será secretário de Relações Institucionais da Presidência, disse nesta semana que o Planejamento ficará responsável pelo IBGE, principal órgão de produção de informações sobre a população, como o Censo, os dados de inflação e as estatísticas de emprego.

Também ficará com o Planejamento a área de relações internacionais com bancos de desenvolvimento e órgãos do tipo, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo Padilha, são órgãos que já haviam sido colocados dentro do organograma do Planejamento antes de Lula convidar Simone Tebet para o cargo.

Disputa pelo legado

O anúncio de Simone Tebet para esse cargo foi entendido como um sinal do reconhecimento de Lula e de assessores e políticos próximos à postura da senadora durante as eleições.

Terceira candidata mais votada no primeiro turno com quase 5 milhões de votos, Tebet declarou apoio a Lula contra Jair Bolsonaro (PL) já no dia seguinte ao pleito e forçou o MDB a se posicionar.

No anúncio nesta quinta, o presidente eleito mencionou o “papel fundamental” que a senadora teve na campanha, atraindo muitos eleitores moderados no segundo turno.

Padilha disse nesta semana que “Lula fez o convite a Simone Tebet pelo papel que ela teve no segundo turno, pela qualidade que ela tem como senadora, como ex-prefeita”. Tebet foi prefeita de Três Lagoas (MS) por dois mandatos.

Mas o PT ainda tem desconfiança do movimento, como costuma acontecer em partidos políticos.

Corre entre petistas a visão de que Tebet manteve sua candidatura para fazer com que a eleição fosse para o segundo turno para que pudesse negociar um ministério com Lula. Acredita-se, nesse círculo, que Lula poderia ter derrotado Bolsonaro já no primeiro turno se Tebet e Ciro Gomes tivessem desistido.

Por isso, alguns petistas acreditam que a senadora tentará disputar com Haddad o legado de Lula em 2026. O futuro ministro da Fazenda pretende dar prioridade à reforma tributária e a melhorar a arrecadação para apresentar as contas públicas em ordem ao final dos quatro anos.

Já Tebet, segundo essa mesma teoria de alas do PT, desejaria ser ligada aos programas que têm potencial de reduzir a pobreza. Antes de aceitar o convite para o Planejamento, Tebet pleiteou ser ministra do Desenvolvimento Social, pasta que comanda os programas sociais considerados carros-chefes da administração petista, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.

A jornalistas, Padilha disse que o Planejamento integra o comitê gestor desses programas, sob coordenação da Casa Civil, que será chefiada pelo senador Rui Costa.

MDB no governo

Além de Tebet, o MDB ficará ainda com dois outros ministérios: Cidades e Transportes.

O acerto foi feito em reunião de Lula com Baleia Rossi, presidente do MDB, com o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), líder do partido na Câmara, com o senador Eduardo Braga (MDB-AM), líder no Senado, e com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente da Casa.

Pelas negociações, o Ministério dos Transportes ficou com alguém indicado pelos senadores do MDB, provavelmente o senador Renan Filho (MDB-AL), filho de Renan Calheiros - em troca, Eduardo Braga continuará na liderança. Foi o que aconteceu.

O Ministério das Cidades deveria ser comandado por alguém indicado pelo MDB da Câmara. Acabou ficando com Jader Filho, irmão do governador do estado do Pará, Helder Barbalho.

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*Atualização para correção de informação no subtítulo