Onde investir em 2023: gestores apontam as melhores oportunidades de ganhos

Especialistas e gestores consultados pela Bloomberg Línea avaliam o cenário e as categorias de ativos que apresentam as melhores perspectivas de rentabilidade

Da renda fixa à bolsa: conheça as categorias de ativos que se destacam nos portfólios de gestores experientes
22 de Dezembro, 2022 | 04:18 AM
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Bloomberg Línea — Passado um ano marcado por incertezas, que contou com uma série de eventos inesperados que ditaram o sobe-e-desce do mercado financeiro, como a guerra na Ucrânia, investidores começam a posicionar seus portfólios para o próximo ano.

Em 2022, em um cenário de maior aversão ao risco, inflação persistente e juros mais altos no mundo todo, a categoria que brilhou foi a renda fixa. Afinal, a maior volatilidade e as taxas atrativas em produtos mais conservadores levaram investidores ao “risk-off”.

No Brasil, em que a eleição presidencial também pesou sobre o mercado financeiro, ações e demais ativos de risco deram espaço nas carteiras para papéis mais “defensivos”.

Para 2023 o cenário não deverá ser diferente, com a Selic no maior patamar desde 2016 e os temores com a política fiscal no Brasil pressionando o mercado acionário.

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Nas discussões globais, contudo, a inflação deverá dar lugar, aos poucos, ao tema do crescimento (ou retração) econômico. O Bank of America (BAC), por exemplo, espera que os Estados Unidos e a Europa entrem em recessão já no primeiro semestre de 2023.

Uma coisa é certa: a volatilidade vai continuar ditando o rumo dos ativos e os investidores terão que ficar atentos tanto ao ambiente macro externo quanto ao doméstico.

A Bloomberg Línea conversou com especialistas, gestores de patrimônio e gestores de recursos para entender quais as principais oportunidades para investimento no próximo ano e quais classes devem se destacar. Confira:

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CDI segue na liderança

Na avaliação de Bruce Barbosa, sócio-fundador da casa de análise Nord Research, o melhor investimento em 2023 continuarão sendo os papéis de renda fixa atrelados à taxa Selic. “Se o governo eleito não mudar o discurso e segurar os gastos, o CDI vai permanecer elevado. Com juros muito altos, a bolsa perde espaço e o dólar não consegue subir”, afirmou.

Nesse contexto, o título público Tesouro Selic, atrelado à taxa básica, bem como fundos de renda fixa referenciados DI com baixas taxas de administração podem ser boas alternativas, segundo ele.

Ficar pós-fixado em um cenário de juros elevados também é uma das estratégias adotadas por Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos, que apontou papéis de crédito privado de boa qualidade.

De acordo com o relatório Focus do Banco Central mais recente, os juros deverão ficar mais altos por mais tempo, com a Selic em 11,75% ao fim do ano de 2023 e de 9,00% ao fim de 2024. Já para a inflação, as estimativas para o próximo ano apontam para alta de 5,17% do IPCA.

Perspectivas de uma Selic mais alta ocorrem em momento de aumento do risco fiscal. Caio Megale, economista-chefe da XP, destacou que a mudança fiscal pressiona as expectativas de inflação e posterga o corte de juros. “Se a dívida sobe, é muito difícil esperar que as expectativas de inflação vão cair”, disse em evento da empresa no começo do mês.

O contexto fez a XP alterar suas projeções para a taxa básica, jogando para 2024 a possível queda de juros antes esperada para 2023. “O juro no patamar atual está alto, mas não dá para cortar tão cedo.”

Renda fixa: inflação

Produtos de renda fixa atrelados à inflação também seguem atrativos para o próximo ano. Rodrigo Cabraitz, especialista de alocação da Principal Claritas (ex-Claritas Investimentos), disse que os portfólios da casa têm posição relevante nos papéis Tesouro IPCA+, em especial na parte curta e intermediária da curva de juros, isto é, com vencimentos até 2028.

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Produtos isentos de Imposto de Renda, caso das Letras de Crédito Imobiliária e do Agronegócio (LCI e LCA, respectivamente), bem como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de empresas também têm apresentado prêmios relevantes, segundo ele, como IPCA mais 6,5% e IPCA mais 8%.

Inflação medida pelo IPCA tem alta de 5,13% no ano até novembrodfd

Boas oportunidades em títulos públicos atrelados à inflação também estão no radar de Arthur Mello, sócio do multi family office Vita Investimentos, que disse estar alongando os prazos de 2026 para até 2028 e 2032, a depender do perfil de risco do cliente. Na quarta-feira (21), o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 pagava a inflação mais 6,32% ao ano.

Na fatia de crédito privado, Camilla Dolle, chefe de crédito e renda fixa da XP, avaliou que as empresas emissoras, quando analisadas sob um viés micro, estão saudáveis – dado que aproveitaram os juros baixos nos últimos anos para melhorar seus balanços, – e pagam atualmente taxas “interessantes”.

Entre o risco soberano e o de crédito privado, contudo, o investidor precisa hoje ponderar mais o risco do que no passado, destacou Dolle.

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Espadachim da bolsa

Enquanto a renda fixa ganha a atenção dos investidores, a bolsa tende a continuar sem tanta atratividade. Entre especialistas do mercado financeiro, a avaliação unânime é a de que a bolsa brasileira está barata do ponto de vista de múltiplos. Mas, em um cenário ainda nebuloso e sem gatilhos positivos no curto prazo, a escolha tem sido a de evitar fazer grandes apostas.

Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, destacou recentemente que, em outubro, quando o mercado estimava corte de juros no próximo ano, o foco recaía sobre as small caps (empresas de menor capitalização na bolsa), que estão “muito descontadas” em relação às blue chips.

Com o maior risco fiscal e a mudança do cenário de juros, contudo, as small caps devem continuar seguindo pressionadas, enquanto ações de dividendos, em setores como o elétrico e o bancário, devem se manter em destaque, segundo Ferreira.

Na Principal Claritas, a alocação em bolsa nos portfólios foi reduzida em novembro da faixa de 12% a 15% para o intervalo de 5% a 7%. “O mercado está em compasso de espera com a bolsa. Hoje, pensando em um fiscal pior no ano que vem sem âncora e sem responsabilidade fiscal, teríamos uma Selic mais alta por mais tempo. Com isso, o apetite por bolsa seria pequeno, privilegiando a renda fixa”, avaliou Cabraitz.

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Embora se considere um entusiasta da renda variável, Barbosa, da Nord, reconheceu que dificilmente a bolsa terá uma performance para ganhar do CDI a 14% ao ano em 2023.

“Se você for um espadachim da bolsa, vale a pena comprar algumas ações. Mas, se não conseguir ganhar do Ibovespa, melhor ficar no CDI”, afirmou, fazendo referência às declarações de André Jakurski, sócio fundador da JGP, sobre o cenário mais desafiador para a bolsa.

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Ele destacou que a grande maioria das empresas no Ibovespa estão baratas quando analisadas sob o ponto de vista de qualquer múltiplo, mas que, com juros elevados e mais gastos públicos, a perspectiva “não é muito positiva para o resultado das empresas”.

“O investidor precisa focar no resultado da empresa, pensando no longo prazo, e não na liquidez (se é large ou small cap). Hoje há bastante oportunidade em small caps, porque o crescimento de resultado tende a ser significativamente melhor, mas precisa ver a dependência de juros, do mercado doméstico”, disse.

Multimercados ganham espaço

Em 2022, um grupo de gestores de fundos multimercados conseguiu se destacar, antecipando o movimento de subida de juros e embolsando ganhos de até 20% no ano. Para 2023, a estratégia continua fazendo sentido dentro do portfólio, segundo os especialistas consultados pela Bloomberg Línea.

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Na Vita Investimentos, Mello destaca que os portfólios dos clientes costumam contar com uma seleção de alguns fundos multimercados macro tradicionais com exposição global e também com fundos sistemáticos não correlacionados.

Cabraitz, da Principal Claritas, também diz ver a classe como uma boa opção para surfar os momentos de maior volatilidade e diversificar a carteira. A predileção recai sobre os multimercados macro. “O gestor no Brasil está mais acostumado com juro alto e preços elevados, conseguindo se beneficiar do call de inflação.”

Internacional como diversificação

Gustavo Aranha, sócio da gestora GeoCapital, uma das pioneiras no mercado local em investimento no exterior, destacou que os próximos 12 meses devem seguir com alta volatilidade para o mercado, dado que os problemas deste ano ainda não foram resolvidos.

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“Nos próximos 12 meses, o risco de o ambiente continuar volátil é grande. Não acho que os problemas estão resolvidos: a guerra continua, a inflação parou de subir, mas não se sabe com qual velocidade o Fed vai conseguir trazer a inflação para patamares que considera razoáveis”, disse Aranha.

Gestor vê exposição internacional como parte importante na diversificação do portfóliodfd

Dada a forte queda das bolsas em Wall Street, com ativos sendo negociados a preços atrativos, Aranha afirmou que o investidor sem diversificação global no portfólio deveria começar a montar posições aos poucos, sempre com foco no longo prazo, isto é, com um horizonte mínimo de três a cinco anos.

Mais do que setores específicos na bolsa dos EUA, o gestor diz preferir o stock picking, buscando companhias com modelos de negócio “dominantes”.

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“Há companhias grandes, lucrativas e que são referência em seus setores, mas que, com a crise atual, estão baratas, oferecendo oportunidade de compra com foco no longo prazo”, disse.

Hoje, o portfólio do fundo de ações da casa conta com 30 nomes. Entre as maiores posições estão Berkshire Hathaway (BRK/A), Visa (V), Booking.com (BKNG), Cboe e Alphabet (GOOG) – não necessariamente nessa ordem.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.