Por que a Scania aposta em caminhões movidos a biogás para reduzir emissões

Fabricante sueca acredita que os veículos movidos a gás têm mais potencial no Brasil do que os motores eletrificados; projeção é dobrar as vendas em 2023

Mats Gunnarsson, vice-presidente executivo das operações comerciais globais da Scania: “Muita gente está falando de recessão, mas não vemos nada disso”
12 de Novembro, 2022 | 11:30 AM

Bloomberg Línea — Com o alívio nos gargalos nas cadeias de produção nos últimos meses, a Scania, fabricante de caminhões, ônibus e de motores industriais, marítimos e para energia, voltou a apostar nos planos de avançar em sua transição energética sustentável.

Dentro desse plano, o Brasil tem um papel fundamental. O país é um dos que têm o maior potencial de produção de biogás do planeta. E, no ano passado, o Brasil registrou o maior aumento nas emissões de carbono dos últimos 19 anos, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG), o que dá uma dimensão da oportunidade para empresas como a fabricante para ajudar a reduzir as emissões.

Transportadoras e diferentes setores estão correndo para se adaptar a uma nova realidade. Em 2023, entra em vigor a fase P8 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), um conjunto de normas sobre a emissão de poluentes para motores a diesel, o que vai exigir a produção de veículos menos poluentes.

Mats Gunnarsson, vice-presidente executivo das operações comerciais globais da Scania, conta em entrevista à Bloomberg Línea que os investimentos da empresa para a transição rumo a uma operação mais “verde” somam R$ 4 bilhões entre 2016 a 2024, com adaptações que incluem estrutura das fábricas, tecnologia e modernização.

PUBLICIDADE

Como parte do investimento, a Scania apresentou sua nova linha de motores que podem economizar de 2% a 8% de diesel, uma eficiência energética superior e que também se adequa à regulamentação que começa a valer em 1º de janeiro no Brasil.

“Não temos metas de eletrificação da frota no Brasil, mas sim de motores a gás. Aqui, o foco agora é biogás”, diz Gunnarsson, citando o potencial que o Brasil oferece e que a tecnologia é a que mais faz sentido para a região da América Latina - com o Brasil como protagonista. “O Brasil tem uma capacidade enorme de produzir biogás. É talvez o país com maior potencial do mundo, e a um preço muito competitivo”, diz.

Segundo ele, de outubro de 2019 até outubro deste ano foram vendidos 600 caminhões a gás. Diante da alta procura e dos lançamentos da fabricante, a projeção é dobrar as vendas de todo o período em 2023, chegando a 1.200 caminhões a gás.

PUBLICIDADE

Em outubro deste ano a empresa fechou uma parceria com a Raízen (RAIZ4), de bioenergia, para o fornecimento de biometano em sua operação industrial a partir de 2024, como parte das metas de descarbonização da fabricante sueca. O contrato estabelece o fornecimento médio de 7.800 metros cúbicos de biometano por dia, volume que representa 100% do consumo diário da fábrica da Scania no Brasil.

Entre as metas estão a redução em 50% da emissão de gases de efeito estufa das operações industriais e comerciais até 2025, e a redução em 20% das emissões de carbono equivalente na frota circulante.

Alerta comum

Os lançamentos e os investimentos também são um ponto de apoio na meta de recuperar o fôlego de vendas perdido durante a pandemia e no pós-pandemia por problemas nas cadeias de suprimentos.

O relatório financeiro mais recente da fabricante ainda cita um terceiro trimestre “com continuidade de grande incerteza devido à situação macroeconômica e geopolítica global”, e mostra uma redução na entrada de pedidos globais de caminhões e ônibus de 23% no período.

O relatório também cita “restrição nas encomendas para garantir a qualidade dos pedidos e a capacidade de ajustar os preços à alta inflação dos custos”. Na ponta positiva, o balanço mostra que, nos primeiros nove meses do ano, as entregas aumentaram de motores aumentaram 17%, com demanda principalmente relacionada ao Brasil, Itália e Espanha.

Mesmo citando “muitos riscos”, Gunnarsson diz que “muita gente está falando de recessão, mas não vemos nada disso”, citando uma demanda forte no mercado global e, no Brasil, “uma demanda um pouco melhor”.

“Temos muitos riscos, mas estamos recuperando o que perdemos”, garante. Gunnarsson diz que a empresa teve problemas com o fornecimento de semicondutores até setembro deste ano, mas que a situação voltou ao normal, o que fez com que a capacidade de produção fosse 100% retomada.

PUBLICIDADE

“Estamos em recuperação e apostamos nas novas soluções para recuperar também nossa parcela de mercado, que gira de 23% a 25% somente no Brasil.”

A expectativa da empresa é que, no país, o agronegócio ajude a impulsionar as vendas no ano que vem, com grãos liderando, seguido de carga frigorificada, com o aumento da exportação de carne, combustíveis, químico, cana de açúcar, madeira e, por último, mineração.

Leia também:

Contrariando metas climáticas, uso de energia a carvão pode atingir novo recorde

Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.