Países ricos vão precisar falar sobre reparações climáticas na COP

Discursos e negociações exigirão que nações mais ricas assumam a culpa pelos danos climáticos sofridos pelos países com baixa emissão

Com a proximidade da COP deste ano, as atenções se voltam para a longa disputa sobre quem deve pagar pela devastação causada pelo aumento das temperaturas globais
Por Salma El Wardany
20 de Outubro, 2022 | 05:12 PM

Bloomberg — A polêmica discussão sobre obrigar os países ricos a compensar os países em desenvolvimento pelas perdas econômicas causadas pelo aquecimento global provavelmente estará, pela primeira vez, na agenda oficial das negociações climáticas que vão ocorrer durante a 27ª edição da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP27.

“Há uma grande possibilidade de que o tema esteja na agenda, com base nos resultados das discussões e deliberações que aconteceram no mês passado”, disse o embaixador Mohamed Nasr, principal negociador climático do Egito.

Os comentários são apoiados por notícias de que os Estados Unidos apoiarão negociações formais sobre possíveis reparações climáticas, de acordo com altos funcionários do governo na última quarta-feira (19). O Ministério do Meio Ambiente do Canadá também confirmou à Bloomberg News que apoia discutir “perdas e danos” em sua agenda.

Nasr disse que os planejamentos financeiros podem ser entregues por meio de um novo fundo ou versões aprimoradas dos mecanismos já existentes. “Uma discussão sobre a conclusão final de tudo isso está nas mãos das partes envolvidas”, disse ele durante uma entrevista em seu escritório no Cairo. O primeiro passo “é passar de uma discussão genérica que acontece uma vez por ano” para “uma questão regular com um prazo específico e com resultados esperados”.

PUBLICIDADE

À medida que diplomatas e líderes mundiais se preparam para a cúpula climática anual da ONU no próximo mês, as atenções se voltam para a longa disputa sobre quem deve pagar pela devastação causada pelo aumento das temperaturas. Discursos e negociações exigirão que os poluidores mais ricos assumam a culpa pelos danos climáticos sofridos pelos países de baixa emissão.

Colocar o assunto finalmente em pauta para obter ações concretas é algo esperado há muito tempo. Em cúpulas anteriores, qualquer sugestão para incluir a discussão na agenda provocaria uma briga entre as nações mais ricas e mais pobres.

Mas o Egito tem trabalhado para preencher a lacuna e há novas indicações de que o tema será tratado com maior atenção do que nunca na COP27. As enchentes altamente destrutivas da última temporada e temperaturas cada vez mais extremas forneceram evidências suficientes para o argumento moral e político que as reparações climáticas precisavam.

PUBLICIDADE

Na COP deste ano, o Egito também quer se concentrar na implementação das promessas feitas no acordo de Paris de 2015, desde a redução das emissões até a adaptação às mudanças climáticas. Sob o acordo, países desenvolvidos concordaram em fornecer cerca de US$ 100 bilhões anualmente até 2020 para ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem às mudanças climáticas e financiar uma transição para a energia verde. Eles falharam em atingir a meta, que agora se estende até 2023.

Os países mais ricos agora estão lidando com orçamentos esgotados por medidas de apoio à pandemia de coronavírus e uma crise global de energia desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia no começo do ano.

Nasr disse que isso não deve afetar os compromissos- e o Egito quer que as nações desenvolvidas na COP27 concordem com maiores transferências até 2025.

“Enfrentaremos muitos obstáculos como o que estamos enfrentando agora, a situação geopolítica, covid, recessão, inflação e taxas de juros crescentes. Tudo isso são desafios. Se você não estiver comprometido com a causa e a alcançar os objetivos, todos e cada um desses desafios nos empurrarão para trás e estaremos sempre dando um passo à frente e dois para trás.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Bolsa brasileira é destaque em ‘ano brutal’ para ações globais