Startup espanhola de RH vira unicórnio e tem o Brasil como principal aposta

Factorial, fundada em Barcelona há seis anos, recebe rodada com participação da Tiger Global e aplica seu próprio software a processos de RH das empresas

Cofundadores da Factorial
11 de Outubro, 2022 | 08:00 AM

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Bloomberg Línea — Desafiando o cenário desfavorável, a Tiger Global acertou uma nova startup bilionária, a plataforma de RH espanhola Factorial. O pano de fundo é o que chama atenção para o feito: somente 18 unicórnios surgiram no mundo no terceiro trimestre de 2022, em comparação com 136 no mesmo trimestre do ano passado, segundo o provedor de dados CB Insights.

A startup garantiu uma Série C de US$ 120 milhões liderada pela Atomico, um fundo investidor europeu que atualmente possui US$ 4 bilhões em ativos sob gestão, e que avaliou a Factorial a US$ 1 bilhão. O GIC, o fundo soberano de Singapura, também se juntou à rodada ao lado de todos os investidores anteriores: Tiger Global, CRV, K-Fund e Creadum, que seguiram para que não fossem diluídos.

Jordi Romero (CEO), Bernat Farrero (CRO) e Pau Ramon (CTO) fundaram a Factorial em Barcelona há seis anos. Experientes na construção de software, eles começaram a pensar em como aplicar o software aos processos de recursos humanos, o que, segundo Romero, é uma pedra no sapato das empresas.

A Factorial desenhou uma plataforma na qual os usuários não precisam lidar com integrações, sincronização e dados. “Deveria ser fácil de usar para que pudéssemos ter a empresa totalmente engajada com o software e aliviar o trabalho dos gerentes de RH, que normalmente estão sobrecarregados”, disse Romero, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Em vez do software tradicional que é remunerado por meio de licenças, no modelo SaaS (Software as a Service), a Factorial cobra uma assinatura e tem um preço por funcionário por mês, dependendo do plano do cliente, podendo começar em R$ 20 (US$ 3,84).

À medida que a empresa cresce e usa mais produtos, ela pode aumentar a assinatura.

“Isso alinha os interesses da empresa com os nossos. Então, se estivéssemos vendendo adiantado, a empresa teria que correr um risco muito grande com muito dinheiro e talvez eles não gostassem do software ou não funcionasse. Agora com essa modalidade, eles correm um risco muito pequeno, porque nós estamos correndo o risco. Se funcionar, com o tempo nós dois ganhamos. Eles não têm o risco de investir massivamente antecipadamente e temos um longo relacionamento que pode se expandir com o tempo”, disse.

Atualmente, a Factorial tem 7 mil clientes em nove mercados (seis na Europa, México, Brasil e Estados Unidos).

Regra dos 40

O mercado costuma aplicar a regra do índice de 40% para avaliar o desempenho dos negócios das empresas de software. A regra dos 40 diz respeito ao crescimento/rentabilidade e prega que o crescimento e a margem de lucro combinados devem ultrapassar 40%. Significa que ou uma empresa deve ter uma taxa de crescimento de 40% e zero rentabilidade ou, 30% a 10%, por exemplo.

Questionado sobre como essa regra se aplica à Factorial, Romero diz que a startup está bem à frente de 40%. “Nosso crescimento agora é de 270%. Apesar de não sermos rentáveis, temos um resultado muito bom nessa métrica. Temos nossa própria regra dos 40, que é a regra dos 100″, disse.

O CEO vê que se a Factorial crescer apenas 100% poderia se tornar um negócio lucrativo. Se crescer mais do que 100%, como está agora, com 270%, perde dinheiro. Por isso, a empresa buscou novos investimentos, já que Romero acredita que vale a pena crescer o mais rápido possível e cobrir as perdas com capital de risco.

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“Porque então temos um negócio muito maior e podemos continuar aumentando a lucratividade dos negócios existentes a partir desse ponto. Agora, neste momento de hipercrescimento, vale a pena capitalizar a oportunidade de crescimento que temos.”

Com as captações Série C desacelerando na América Latina, de acordo com dados da LAVCA (Associação de Investimentos de Capital Privado na América Latina), o executivo diz que houve “uma redefinição de expectativas” em relação aos valuations.

“Estamos muito atentos ao que está acontecendo no mercado e vemos isso comparando as ações negociadas das empresas que estão na Nasdaq ou na NYSE. Mas vimos que uma empresa que cresce muito rápido em um mercado muito grande com unit economics saudável, com boas métricas, ainda é muito valiosa para investidores de capital de risco”.

Brasil vai receber a maior fatia

Romero diz que o Brasil é de longe o mercado que mais cresce para a startup sediada em Barcelona, por isso receberá a maior parte da nova rodada de investimentos. “É um mercado muito grande. Tem particularidades em torno do RH, é um mercado único que você precisa conhecer em termos de regulamentação e operação dos negócios. Se investirmos na localização para esse mercado, acho que há uma grande oportunidade”.

A Factorial tem mais de 80 pessoas no escritório de São Paulo, inaugurado este ano. No México, há aproximadamente o mesmo número de funcionários, mas o escritório foi aberto no ano passado. “Estamos realmente otimistas com nosso crescimento no Brasil, contratando agressivamente, pretendemos pelo menos dobrar nos próximos meses, contratando pessoas para atendimento ao cliente, software, desenvolvedores, designers e pessoal de marketing”.

-- O título foi atualizado para esclarecer que a Tiger participou da rodada, mas não a liderou.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups