Por que a Bossanova, de João Kepler, comprou uma plataforma de crowdfunding

A ideia da empresa de investimentos é fazer aportes complementares junto da captação de crowdfunding da Platta em startups menores

Com aquisição da Platta, Bossanova espera desmitificar a ideia de que as startups só captam crowdfunding quando não conseguem atrair venture capital tradicional
06 de Outubro, 2022 | 01:51 PM

Bloomberg Línea — A Bossanova, empresa de venture capital para startups em estágio inicial comandada por João Kepler, comprou 100% da plataforma de equity crowdfunding Platta por um valor não divulgado.

Além de atuar no segmento tradicional de venture capital, que faz a gestão do dinheiro de terceiros aplicado em startups, a Bossanova é uma casa brasileira de investimento pool funds, que aporta dinheiro próprio.

Já o crowdfunding, ou “vaquinha”, funciona como uma pequena oferta pública inicial, só que em vez de investidores institucionais, são pessoas físicas que investem em startups por meio de uma plataforma, com tíquetes menores. O modelo ganhou mais adeptos desde 2017, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) regulamentou esse tipo de captação coletiva via plataformas.

Em 2021, a Platta captou R$ 2,3 milhões com 170 investidores. Com a aquisição, o CEO da Platta, Ricardo Moraes Filho, agora deixará a posição executiva para ser conselheiro da operação da Platta na Bossanova. Ele, que também é cofundador da corretora Rico, já era investidor da Bossanova por meio de cotas de pools.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Bossanova, João Kepler, disse que a ideia de comprar uma plataforma de equity crowdfunding tem a ver com a complementariedade dos serviços da empresa de investimentos, em um ecossistema para startups que se soma a uma plataforma de educação, de serviços bancários e portal de notícias.

“Quando startups captavam via crowdfunding, os VCs em outras rodadas maiores muitas vezes não valorizavam essas empresas. Existe essa imagem no Brasil de que só vai para crowdfunding quem não consegue captar com capital de risco”, disse Kepler. Na visão do executivo, a aquisição uma plataforma de crowdfunding por uma empresa de venture capital como a Bossanova desmitifica essa ideia.

O plano da Bossanova é fazer investimentos complementares junto da captação de crowdfunding por meio da Platta. “Por exemplo, investimos em uma empresa R$ 300 mil e abrimos mais R$ 300 mil pela Platta”, explicou.

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A plataforma também funcionará para follow-on (rodadas de investimento subsequentes) nas startups do portfólio da Bossanova.

Hoje, para investidores iniciantes em startups, a Bossanova oferece uma CCB (Célula de Crédito Bancário), uma forma de investimento em título em vez de uma participação acionária. Comprando esse título, o dinheiro é aplicado na Bossanova, que reinveste na startup. A Bossanova devolve ao investidor uma renda fixa e mais uma possibilidade de ganho com uma correção. Hoje, a empresa diz ter 3 mil detentores de títulos em sua base.

“O CCB é mais protegido, mas startup tem risco. A gente colocou esses investidores de CCB em uma esteira de educação que será oferecida pela Platta com as ofertas que a Bossanova vai fazer, minimizando o risco. Só vamos levar para esse investidor via crowdfunding as ofertas que estamos investindo na mesma rodada. Vamos priorizá-los antes de levar para o mercado”, disse Kepler.

Agora, para passar pelo crowdfunding da Platta, obrigatoriamente a Bossanova terá que investir na startup. Para o investidor pessoa física, o valor do aporte mínimo da plataforma é de R$ 1 mil.

“Estamos mostrando ao mercado que um VC [venture capital] está imerso no crowdfunding. Tem muitos mais acordos que eram feitos de qualquer forma em crowdfunding no passado, mas hoje está mais organizado. Todas as startups passam pela nossa diligência”, disse Kepler. A Bossanova afirma ter apenas 6% de write-offs (empresas que não dão certo), ante 75 saídas em sete anos.

Adepta ao “early exit” - isto é, a venda da participação ainda nos primeiros anos de crescimento da startup -, a Bossanova deixa a sociedade quando o valuation bate US$ 100 milhões. “Entramos antes e saímos antes. Temos um aquário cheio de peixes e as grandes empresas já perceberam isso e vêm pescar no nosso aquário porque é mais barato, os valuations não estão inchados”, disse.

A Platta não competirá com outras plataformas de equity crowdfunding, segundo Kepler. A Bossanova detém 8% da SMU, além de investir na Bloxs por meio da Domo -- duas startups que trabalham nessa área. “Nosso próximo passo será abrir para ofertas secundárias dentro da plataforma”, afirmou.

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Até o final do ano, a Bossanova pretende fazer 10 investimentos por meio da Platta.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups