Fazer o mínimo no trabalho é a nova tendência do TikTok; mas é uma boa ideia?

O esgotamento mental causado durante a pandemia tem levado trabalhadores a “fazer o mínimo” - mas será que isso é sustentável?

Colocar o trabalho em risco pode ser uma aposta cara
Por Jo Constantz
21 de Agosto, 2022 | 10:29 AM
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Bloomberg — A ideia de “fazer o mínimo no trabalho”, ou “quiet quitting”, como é chamado em inglês, atingiu um ponto central. Isso significa mais tempo para amigos, família e hobbies, sem mencionar os projetos pessoais. Mas essa última tendência tem desvantagens.

O TikTok e o Twitter (TWTR) estão repletos de vídeos explicativos sobre o tema. Apesar do que o nome sugere, o “quiet quitting” não significa entregar uma carta de demissão. Em vez disso, é uma retratação à cultura que dominou a era pré-pandemia, de abrir mão de tudo em busca de ambições profissionais.

O termo surge para representar a ideia de que o funcionário execute o mínimo que a descrição do trabalho pede.

Equilíbrio entre o profissional e o pessoal

Zaid Khan, 24 anos, que criou um vídeo popular de “quiet quitting” no TikTok, disse que começou a explorar a “reformulação do trabalho” durante o lockdown do coronavírus, quando seu trabalho se tornou muito desgastante.

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“Percebi que não importava o quanto eu trabalhasse, a recompensa que esperava não viria”, disse Khan, um desenvolvedor de software e músico, em entrevista.

“O excesso de trabalho só leva você até certo ponto no corporativismo americano. E, como muitos de nós experimentamos nos últimos anos, a saúde mental e física realmente fica em segundo plano em relação à produtividade em muitos desses ambientes corporativos estruturados.”

De acordo com um relatório divulgado pela Associação Americana de Psicologia em janeiro deste ano, o tipo de esgotamento e estresse que Khan enfrentou atingiu níveis recordes em todos os setores durante a pandemia.

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O psicólogo organizacional Ben Granger, head de experiência para funcionários da empresa de pesquisas Qualtrics, disse que “fazer o mínimo” pode ser uma maneira de proteger a saúde mental e física em um ambiente de trabalho tóxico. Mas, ao mesmo tempo, ficar em um emprego infeliz e trabalhar com o mínimo de esforço significa abrir mão da satisfação que pode vir de um bom emprego.

Khan acabou se demitindo de verdade e trocando por uma empresa que respeita seus limites. “Meu gerente me diz o tempo todo: ‘sua saúde vem em primeiro lugar’”, disse. “Se você precisar tirar um dia de folga ou se precisar tirar um tempo – há muito mais do que o trabalho que estamos fazendo.”

Trabalho por amor

Antrell Vining, de 25 anos, trabalha como gerente de projetos no setor financeiro. Como parte de um projeto pessoal, depois do trabalho ele cria conteúdo para as redes sociais sobre a indústria de tecnologia e a vida profissional dos millennials e da geração Z.

Depois de abandonar a faculdade de medicina para seguir uma carreira em tecnologia, ele trabalha para ajudar outras pessoas a fazer mudanças semelhantes na carreira. Com cerca de 30 mil seguidores no TikTok, Vining ganha dinheiro oferecendo serviços de consultoria de carreira e currículo, bem como por meio de parcerias com empresas.

Para ele, fazer o mínimo no trabalho significa estabelecer limites de forma a ter tempo e energia para perseguir o projeto que ele realmente ama. Em um vídeo, em que satiriza o “quiet quitting”, ele fecha seu laptop no meio da reunião do Zoom quando o relógio marca exatamente 17h.

Dados do Censo do governo americano mostram que a pandemia do coronavírus coincidiu com um recorde de 5,4 milhões de novas empresas nos Estados Unidos somente no ano passado.

“Hoje em dia, todo mundo é um tipo de empreendedor, e preferimos colocar essa energia extra em nossos próprios negócios fora do horário padrão das 9h às 17h″, disse Vining por e-mail. “Depois das 17h, eu respiro e começo a trabalhar nas minhas próprias coisas ou passo algum tempo com amigos e familiares”, disse. “Gosto de criar conteúdo que lembre as pessoas de que elas devem fazer o mesmo.”

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Não é para todos

Claro, nem todo mundo se sente confortável com a estratégia. Há muitas razões pelas quais as pessoas sentem a necessidade de manter seus empregos a todo custo – seja por conta do plano de saúde, salário fixo ou qualquer outro benefício que os empregos corporativos tradicionais oferecem. E colocar isso em risco pode ser uma aposta cara a se fazer.

Jha’nee Carter, de 38 anos, que se autodenomina a “Rainha do RH” no TikTok, disse que a estratégia de “fazer o mínimo” no trabalho aumentou os riscos para grupos já marginalizados. “As minorias podem se dar ao luxo de fazer isso na América corporativa? Na minha opinião, não”, disse em um vídeo Carter, que é coach de negócios e criadora de conteúdo.

Desigualdades estruturais permanecem em muitos setores nos EUA: disparidades salariais por gênero e raça, por exemplo, bem como uma escassez geral de diversidade em cargos de liderança.

“Somos vistos de maneira diferente, ainda há um viés inconsciente e, portanto, temos que ir além para ter sucesso. Não podemos correr o risco de sermos vistos como não tendo desempenho, se não atendermos a essas expectativas, somos os primeiros a serem cortados.”

Jha’nee Carter

Risco de recessão

O “quiet quitting” se tornou viral em um momento de profunda incerteza no mercado de trabalho. Com uma guerra por talentos e mais empregos do que trabalhadores em toda a economia, pelo menos nos EUA, funcionários acabam tendo vantagem sobre seus chefes.

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Mas uma recessão iminente e demissões em grandes empresas como Apple (AAPL), Peloton Interactive e Walmart (WMT) indicam que o quadro pode estar mudando.

Uma nova pesquisa da consultoria PwC descobriu que metade dos entrevistados está reduzindo o número de funcionários ou planeja fazê-lo. Um relatório de julho da Joblist, uma plataforma de busca de emprego, descobriu que 60% dos candidatos a emprego sentem mais urgência em encontrar um novo cargo agora, antes que as condições econômicas mudem.

“As empresas estão demitindo com rapidez”, acrescentou Carter em seu vídeo. “Então, se você decidiu optar por fazer o mínimo no trabalho, eu realmente espero que você esteja considerando procurar algum outro emprego.”

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