O SoftBank de Masayoshi Son tem novo desafio mesmo com a alta de ações tech

O Nasdaq subiu 12,4% em julho, mas as participações em startups privadas devem reduzir os retornos do gigante japonês nos próximos meses

Masayoshi Son, fundador e presidente do SoftBank: desafio de gerir os investimentos com a virada do mercado de tecnologia
Por Yoojung Lee e Pei Yi Mak
06 de Agosto, 2022 | 05:53 AM

Bloomberg — Mesmo que os investidores estejam se voltando para as ações de tecnologia novamente - o Nasdaq Composite subiu 12,4% em julho -, o SoftBank, de Masayoshi Son, simplesmente não pode vencer.

As ações do gigante japonês caíram quase pela metade desde o pico do ano passado, atingidas por uma liquidação em seus investimentos de capital aberto. Embora esses tenham se recuperado recentemente, suas participações em empresas privadas - cujas avaliações são mais opacas - agora devem reduzir os retornos depois de ajudar a amenizar uma perda anual recorde no último ano fiscal.

Reprecificar centenas de investimentos não listados em bolsas seria especialmente doloroso para o SoftBank, que há muito tempo depende de ofertas públicas iniciais - os famosos IPOs - para levar empresas a mercado e depois emprestar essas participações para apoiar outras startups.

Tudo funcionou muito bem durante os dias de boom – o conglomerado registrou o maior lucro trimestral da história japonesa em 2021. Mas com as avaliações de empresas privadas como a ByteDance, a controladora chinesa do TikTok, em queda, o ciclo pode estar em risco.

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“Eles vão reduzi-los e não acho que haja qualquer dúvida em minha mente”, disse Bob O’Donnell, presidente e analista-chefe da TECHnalysis Research, sobre as avaliações de participações privadas. “O SoftBank tem sido relativamente opaco e isso cria preocupações.”

Movimentos para baixo tornaram-se mais comuns ultimamente no mercado de startups, abalando não apenas o SoftBank mas também fundos hedge que investiram dinheiro em empreendimentos privados nos últimos anos.

A Tiger Global Management, de Chase Coleman, ganhou apenas 0,4% em julho, mesmo com os mercados se recuperando amplamente, já que a empresa “reduziu ainda mais as avaliações de empresas privadas”, disse aos investidores em uma carta nesta semana que passou.

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As ações da ByteDance caíram mais de 25% desde o ano passado nos mercados privados, enquanto a fintech sueca Klarna Bank teve sua avaliação reduzida em 85% em uma recente rodada de financiamento em comparação com junho 2021.

Enquanto isso, a empresa sul-coreana de compartilhamento de carros SoCar está avançando com sua listagem planejada, mas busca um valor de mercado abaixo do esperado. Isso, por sua vez, deixaria Son com menos capacidade de emprestar e encontrar a próxima estrela da tecnologia.

O SoftBank não divulga como calcula o valuation dessas empresas, e um porta-voz se recusou a comentar esta história. Geralmente, porém, o conglomerado japonês analisa vários fatores para avaliar seus investimentos no Vision Fund, incluindo o preço de transações recentes, a avaliação de empresas comparáveis e estimativas de fluxos de caixa futuros. Para ativos listados, ele usa cotações.

Son, de 64 anos, disse repetidamente que o SoftBank tem dinheiro suficiente para resistir à queda do mercado de ações, e alguns investimentos privados, como a startup francesa de análise da web Contentsquare, estão indo bem.

Mas a empresa japonesa planeja cortar seus investimentos do Vision Fund em até 75% para o ano inteiro e levantou até US$ 22 bilhões em dinheiro com a venda de contratos a termo pré-pagos usando ações do Alibaba Group, de Jack Ma, de acordo com o Financial Times.

Novas perdas estão por vir

O SoftBank deve registrar um prejuízo líquido de 413,9 bilhões de ienes (US$ 3,1 bilhões) nos três meses encerrados em 30 de junho, quando divulgar os resultados na segunda-feira (8), de acordo com a média de três estimativas de analistas.

Seus investimentos privados - que o grupo avalia parcialmente com base em suas próprias previsões de listagens e expectativas de desempenho - devem registrar perdas de US$ 8 bilhões, tão ruins quanto suas apostas listadas, disse o analista sênior da MST Financial, David Gibson.

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“Esses ativos de valor privado que o SoftBank relatou nos balanços não serão sustentados, pois atualizam lentamente valuations para refletir aumentos em níveis mais baixos ou uma perspectiva de crescimento mais suave”, disse Gibson em entrevista. “O mercado privado leva mais tempo para subir e mais tempo para descer.”

Chew Shouzi Fotógrafo: Christopher Goodney/Bloombergdfd

Além da onda vendedora (selloff) de tecnologia, muitas das empresas do portfólio do SoftBank estão sendo atingidas pela repressão de autoridades chinesas à indústria e pelo aumento do custo dos componentes. Isso pode levar o SoftBank a investir em mercados mais novos e apoiar empresas jovens em rodadas de financiamento iniciais - conhecidas como em early stage -, o que pode reduzir sua dependência de listagens, de acordo com a Bloomberg Intelligence.

A última derrota também pode levar os fundos de capital de risco a reduzir seus gastos com startups, levando-os a se aproximar do conglomerado japonês para obter mais financiamento, disse o analista Marvin Lo, da Bloomberg Intelligence.

“O SoftBank pode precisar injetar mais dinheiro para manter as startups vivas ou transformá-las em negócios de sucesso que possam fazer ofertas públicas iniciais no futuro”, disse Lo, que acrescentou que essas práticas podem prejudicar o valor dos ativos líquidos do SoftBank.

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O valor patrimonial líquido é uma das principais métricas que Son analisa para avaliar a saúde de sua empresa. Acompanhando o preço de suas ações em relação ao valor de seus ativos, essa leitura caiu para o menor patamar desde 2017 no final de março, de acordo com sua última divulgação.

A outra métrica chave, a relação empréstimo/valor - Loan-to-Value (LTV) -, é uma medida de alavancagem. Sua versão ajustada calculada pela Bloomberg Intelligence – que, ao contrário do SoftBank, inclui empréstimos com margem – pode ter enfraquecido com a queda dos valores e as recompras de ações.

Son, cuja fortuna pessoal está intimamente ligada aos investimentos do SoftBank, enfrenta esses desafios com menos assessores de primeira linha para apoiá-lo.

Rajeev Misra, um importante aliado creditado por ajudar a tornar o SoftBank o maior investidor em tecnologia do mundo, está se afastando de suas funções principais para seguir seu próprio empreendimento, menos de um ano depois que outro executivo sênior, Marcelo Claure, saiu após um conflito sobre remuneração.

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Além de sua participação de 29% no conglomerado, Son possui 17,25% de um veículo criado no segundo Vision Fund para abrigar suas participações não listadas, compartilhando os lucros e os riscos associados a elas. A queda deste ano já lhe custou cerca de US$ 5 bilhões, colocando seu patrimônio líquido em US$ 15 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index.

Pode levar algum tempo para que as coisas melhorem. A última desaceleração econômica pode ser particularmente desafiadora para muitas startups que ainda não estão gerando lucro, disse O’Donnell.

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“A menos que as coisas mudem rapidamente, elas provavelmente vão diminuir por algum tempo”, disse ele. “Isso realmente coloca uma grande nuvem sobre alguns desses investimentos que o SoftBank e, claro, outros possuem”

- Com a colaboração de Min Jae Lee, Takahiko Hyuga e Mayumi Negishi.

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