Bloomberg — Caso seja eleito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve direcionar os financiamentos do BNDES para micro e pequenas empresas e projetos de sustentabilidade, se afastando das estratégias de anos anteriores, onde governos do PT se concentraram em transformar grandes empresas em players globais.
Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto, não traria de volta a polêmica política de conceder bilhões de reais em empréstimos baratos para transformar empresas já grandes em campeãs nacionais, segundo pessoas diretamente envolvidas nas conversas sobre o plano econômico do ex-presidente.
Um deles, que pediu para não ser identificado porque a discussão não é pública, explicou que tal política já cumpriu seu papel, pois o Brasil possui hoje players globais competitivos que não precisam de mais assistência.
Nos dois mandatos de Lula, bem como no governo de sua sucessora Dilma Rousseff, a carteira de empréstimos do BNDES saltou para US$ 200 bilhões, superando a do Banco Mundial. Grande parte do financiamento apoiou empresas como a Petrobras (PETR4; PETR3) e o frigorífico JBS (JBSS3), apelidados de “campeões nacionais”, enquanto embarcavam em ambiciosas aquisições e expansões globais.
A medida recebeu críticas de especialistas com o argumento de que tais companhias tinham (e têm) condições de buscar recursos no mercado de capitais, diferentemente de outras com menor acesso, como pequenas e médias empresas (PMEs).
Junto com a política dos campeões nacionais, no entanto, vieram denúncias de favorecimento de aliados políticos e do pagamento de generosas bonificações anuais concedidas aos funcionários do BNDES com base no volume de empréstimos que conseguiram fazer, o que levou a investigações de corrupção. Uma auditoria contratada pelo banco posteriormente não encontrou indícios de irregularidade.
As diretrizes de governo de Lula, divulgadas em 21 de junho, e uma nota da coordenação da campanha destacam que pequenas e médias empresas estão hoje lutando para conseguir dinheiro de bancos privados, recorrendo a linhas de crédito mais caras e escassas. A campanha atribui a escassez às altas taxas de juros e à estratégia do presidente Jair Bolsonaro de reduzir o papel dos bancos públicos na economia, incluindo o BNDES.
Lula, por outro lado, direcionaria o crédito do banco para pequenas empresas e para o financiamento da modernização do setor produtivo no país. O plano também inclui o aumento de empréstimos para projetos ESG, até mesmo adicionando outro ‘S’ ao nome do banco para sustentabilidade.
Sob Bolsonaro, o BNDES parou de inundar a economia com crédito subsidiado e adotou um perfil mais alinhado com um banco de investimento tradicional. Começou a vender participações que detinha em empresas como a Petrobras e se concentrou na estruturação da privatização de ativos como a gigante de energia Eletrobras (ELET3; ELET6). A instituição também começou a devolver recursos ao Tesouro após anos de transferências de dinheiro público para aumentar a carteira de empréstimos do banco.
Em um almoço com Lula na terça-feira (5), alguns dos mais ricos e poderosos executivos de empresas do país disseram ao ex-presidente que o Brasil precisa aumentar o crédito e que o BNDES precisa ser um instrumento nessa estratégia, segundo duas pessoas familiarizadas com a reunião, que pediram anonimato porque o evento não foi público.
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