Musk tem apoio de fundo desconhecido para comprar o Twitter

Lista de aliados para financiar a compra de US$ 44 bi tem de investidores famosos do Vale do Silício a outros sobre os quais há informações escassas

Alexander Tamas se comprometeu com US$ 700 milhões para ajudar Elon Musk a comprar o Twitter
Por Ivan Levingston - Ben Bartenstein
10 de Junho, 2022 | 07:30 AM
Últimas cotações

Bloomberg — A proposta de Elon Musk pelo Twitter (TWTR), no valor de US$ 44 bilhões, atraiu um grupo de apoiadores de grande nome e investidores do Vale do Silício. Mas há algumas notáveis exceções.

No topo da lista de apoiadores desconhecidos está uma empresa de investimentos de Dubai cujos ativos subiram para mais de US$ 5 bilhões sob o comando do fundador misterioso Alexander Tamas, segundo registros regulatórios e pessoas familiarizadas com o assunto.

Essa empresa se chama Vy Capital, cujo site principal tem uma página sem endereço e informações para contato. Ela se comprometeu com US$ 700 milhões para financiar a oferta de Musk pela rede social. Esse valor a torna a terceira maior investidora externa do negócio, que atraiu os fundos do bilionário Larry Ellison, cofundador da Oracle, e da Sequoia Capital, como mostram os registros de valores mobiliários.

A capacidade da Vy de ajudar a financiar uma das maiores aquisições da história – caso evolua apesar de uma controvérsia sobre o volume de contas falsas no Twitter – é notável para uma empresa com poucos registros públicos que divulgam suas fontes de financiamento ou a natureza de seus investimentos. A escassez de informações chama a atenção por se tratar de uma das maiores ofertas da história em um mercado de capitais que preza pela transparência, tanto do ponto de vista da lei como dos costumes.

PUBLICIDADE

A Vy, cujo compromisso de capital superou o da Brookfield Asset Management, também apoiou empresas como a Boring, de Musk, e a exchange de criptomoedas ErisX, de acordo com dados do PitchBook.

Tamas tem um histórico de se conectar a grandes investidores. Antes de criar a Vy, ele trabalhou diretamente com o bilionário russo-israelense Yuri Milner e agora parece estar cultivando vínculos com Musk. Ele também investiu na empresa de foguetes SpaceX e na fabricante de máquinas cerebrais Neuralink, ambas do CEO da Tesla (TSLA). E, segundo o LinkedIn, um dos analistas da Vy é Benjamin Birchall, filho do braço direito de Musk, Jared Birchall.

Procurado pela Bloomberg, um representante de Tamas não quis comentar. Durante uma recente visita ao escritório da empresa em Dubai, apenas uma assistente estava presente. Ela disse que o resto da equipe – cerca de 10 pessoas no emirado, incluindo Tamas – trabalha remotamente. Em todo o mundo, cerca de 25 pessoas trabalham na empresa, segundo o LinkedIn.

PUBLICIDADE

Um documento de 2020 da empresa de aquisição de propósito específico Vy Global Growth afirma que a Vy tem mais de US$ 2 bilhões em ativos sob gestão. Esses ativos mais que duplicaram desde então e consistem em um número limitado de fundos com cerca de US$ 1 bilhão em dinheiro a serem utilizados, de acordo com pessoas familiarizadas com as operações. Os financiadores incluem grandes aportes americanos, segundo as fontes, que pediram anonimato porque os detalhes são privados.

A conta de Tamas no Twitter existe desde março de 2009. Sua foto de perfil é a mesma que a de seu perfil no LinkedIn, e sua capa ilustra personagens de Star Wars em Lego, mas não há publicações. A conta curtiu um tweet do Musk de 21 de abril, que pediu que a plataforma de mídia social verificasse “todos os humanos reais” como parte da controvérsia pelos bots.

Mas, embora Tamas seja meio enigmático, suas conexões não são.

Depois de trabalhar em acordos de tecnologia para o Goldman Sachs (GS) em Londres, o cidadão alemão ingressou na empresa de investimentos Milner DST Global como sócio em 2008, na qual ele liderou apostas lucrativas em empresas incluindo o Airbnb (ABNB) e o Facebook – antes de se tornar Meta Platforms (FB) –, bem como um investimento inicial no Twitter.

Antes de trabalhar no Goldman, ele foi um membro fundador da Arma Partners, que oferece consultoria financeira corporativa para empresas e investidores no setor de tecnologia.

‘Supercomputador humano’

Tamas e seu colega dos tempos do Goldman, Mateusz Szeszkowski, criaram a Vy em 2013 com a visão de “investir em algumas das principais empresas do mundo e detê-las por décadas”, de acordo com um registro regulatório.

Atualmente, ele dirige o fundo com John Hering, fundador da empresa de software em nuvem Lookout, que não menciona Vy em seu perfil no LinkedIn. Tamas e Hering têm as maiores participações individuais na Vy Global Growth, de acordo com um registro de valores mobiliários. Um dos outros investidores é Javier Olivan, que se tornará o diretor de operações da Meta no segundo semestre.

PUBLICIDADE

Os ativos públicos da empresa incluem participações na plataforma de comércio eletrônico canadense Shopify, a monitora de audiência ComScore, a credora online LendingClub e a fabricante de jogos Activision Blizzard (ATVI), segundo registros regulatórios. Aparentemente, as participações foram liquidadas até 2018. A empresa também tem apoiado empresas privadas de tecnologia como a Blockchain e o Reddit.

Sua experiência e a perspicácia em investimentos levaram os capitalistas de risco Ben Horowitz e Marc Andreessen a chamá-lo de “o supercomputador humano de Milner”. O governante de Dubai, Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, nomeou Tamas para um conselho consultivo com foco em economia digital.

Defensor da liberdade de expressão

Atualmente, Tamas mora na Europa e, quando está em Dubai, administra parcialmente a Vy de uma mansão no bairro de Al Barari, subúrbio isolado com casas de luxo, disseram as fontes. A empresa também tem um escritório na área da Baía de São Francisco.

Além de suas atividades de investimento, Tamas fundou a empresa de ciência de dados Synaptic e apoiou a pesquisa de inteligência artificial do Future of Humanity Institute da Universidade de Oxford. Ele também parece compartilhar o interesse de Musk em promover a liberdade de expressão.

PUBLICIDADE

“O que acho equivocado é a ideia de que nossas plataformas de mídia social devem reger o que podemos e o que não podemos ver”, disse Tamas em entrevista de 2019 ao Instituto Berggruen, acrescentando que permitir que empresas privadas determinem o que é liberdade de expressão “é realmente perigoso”.

--Com a colaboração de Nicolas Parasie.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

Veja mais em Bloomberg.com

PUBLICIDADE

Leia também

O jogo virou? Por que startups estão perdendo talentos para a ‘velha economia’

Exclusivo: CEO da Uber revela por que o Uber Eats deixou o Brasil