Bloomberg — Elon Musk disse que acredita que o Twitter (TWTR) está violando seu acordo de venda ao não fornecer as informações que exige sobre contas falsas e spam, trazendo mais uma potencial reviravolta à saga da aquisição marcada pelas declarações do bilionário.
Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira (6) na esfera do órgão regulador do mercado, a SEC, Musk defende que o Twitter está “resistindo ativamente e frustrando seus direitos a informações” ao se recusar a divulgar os dados. No mês passado, o executivo disse que não prosseguiria com sua aquisição do Twitter, no valor de US$ 44 bilhões, a menos que a gigante de mídia social pudesse provar que os bots representam menos de 5% de seus usuários, como elucidado pela empresa em documentos públicos. Musk estimou que as contas falsas representam pelo menos 20% de todos os usuários.
A queda das ações nesta segunda-feira reforçou as dúvidas de que Musk finalizará a sua oferta de US$ 54,20 por ação, aumentando ainda mais a diferença entre as expectativas do mercado e o preço oferecido pelo bilionário. As ações quase não ultrapassaram a marca de US$ 50 desde que Musk lançou seu plano de compra em 14 de abril. O acordo se acelerou em parte porque Musk renunciou à oportunidade de analisar as finanças do Twitter além do que estava disponível publicamente.
O CEO do Twitter, Parag Agrawal, e Musk trocaram farpas publicamente na plataforma sobre os bots. Agrawal disse que a empresa tem revisores humanos que analisam “milhares de contas” para determinar a prevalência de bots, mas acrescentou que ele não poderia compartilhar mais informações por causa de questões de privacidade. “Infelizmente, não acreditamos que essa estimativa específica possa ser feita externamente, considerando a necessidade de usar dados públicos e privados”, escreveu Agrawal em maio.
O Twitter não comentou a nova reclamação de Musk.
No documento desta segunda, Musk disse contundentemente que não concorda com a avaliação do Twitter.
“A oferta mais recente do Twitter para fornecer detalhes adicionais sobre as metodologias de teste próprias da empresa, por meio de materiais escritos ou explicações verbais, equivale a recusar os pedidos de dados do sr. Musk”, de acordo com o documento endereçado à advogada do Twitter, Vijaya Gadde.
“O esforço do Twitter para caracterizar esse esforço de outra forma é apenas uma tentativa de ofuscar e confundir a questão. O sr. Musk deixou claro que não acredita que as metodologias de teste da empresa sejam adequadas, então ele deve conduzir sua própria análise. Os dados que ele solicitou são necessários para fazê-lo.”
Musk acredita que a resistência da empresa em oferecer mais informações é uma “clara violação substancial das obrigações do Twitter segundo o acordo de fusão, e o sr. Musk se reserva todos os direitos dele provenientes, incluindo seu direito de não consumar a transação e seu direito de rescindir o acordo de fusão”.
A diretoria do Twitter afirmou que planeja fazer cumprir os termos da fusão, dizendo que a transação está no melhor interesse de todos os acionistas. A proposta de aquisição inclui uma taxa de desmembramento de US$ 1 bilhão para cada parte, mas Musk não pode simplesmente sair do acordo ao pagar a taxa.
O acordo de fusão inclui uma disposição específica de desempenho que permite que o Twitter force Musk a consumar o negócio, de acordo com o documento original. Isso poderia significar que, caso o acordo fosse para o tribunal, o Twitter poderia garantir uma decisão que obrigasse Musk a concluir a fusão em vez de ganhar uma compensação monetária por qualquer violação da mesma.
As exigências sobre os bots levaram a suspeitas entre analistas de que Musk está usando a cláusula como tática de negociação para baixar o preço à medida que as ações de tecnologia despencaram nas últimas semanas ou para desfazer o acordo completamente.
“Acreditamos que o anúncio poderia levar a negociações de preço para evitar uma grande briga judicial”, escreveu Mandeep Singh, analista da Bloomberg Intelligence, em nota. Singh disse que a tática de Musk é provavelmente uma pressão para tentar negociar um preço melhor para o Twitter e poderia se aproximar da capitalização de mercado da rival Snap (SNAP). Com o acordo valendo US$ 44 bilhões, o valor do Twitter por usuário ativo diário de US$ 200 é muito maior do que os US$ 65 a US$ 70 do Snap, disse.
O advogado de Musk, Mike Ringler, do escritório Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom, disse que o Twitter deve cooperar com os dados solicitados para que Musk possa assegurar o financiamento da dívida necessário para consumar o negócio.
Musk, que também é CEO da Tesla (TSLA), reuniu um grupo de 19 investidores para apoiar o negócio e disse que está conversando com outros acionistas atuais do Twitter, incluindo o cofundador Jack Dorsey, para transferir suas ações para a empresa privada. No mês passado, Musk abandonou os planos de financiar parcialmente sua compra do Twitter com um empréstimo vinculado à sua participação no Tesla e aumentou o tamanho da fatia do seu patrimônio do acordo para US$ 33,5 bilhões.
Ele anunciou anteriormente que havia garantido US$ 7,1 bilhões em compromissos de fatias do patrimônio de investidores, incluindo o bilionário Larry Ellison, a Sequoia Capital e a Binance. Os bancos já se comprometeram a fornecer a Musk US$ 13 bilhões de financiamento de dívida.
Musk provavelmente tem uma experiência diferente da maioria com bots na plataforma. Aqueles que projetam contas automatizadas as programam para seguir usuários populares em um site e, assim, se camuflarem na multidão e parecerem mais humanas. Musk, com 96 milhões de seguidores, provavelmente atrai um percentual maior de bots do que a maioria dos usuários. Sua imagem também foi usada por contas de criptomoedas para aplicar golpes.
Embora muitas estimativas indiquem que o número de bots excede o limite de 5% alegado pelo Twitter, suas avaliações e metodologias variam. Andrea Stroppa, antiga consultora de dados do Fórum Econômico Mundial e veterana em examinar produtos falsificados online, estima que as contas de bots representam cerca de 10% do público global do Twitter durante os últimos nove anos.
A taxa chega a 20% para alguns tópicos específicos, como criptomoedas, e supera os 30% para contas envolvidas com teorias da conspiração.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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