Biden inicia ofensiva contra frigoríficos para tentar frear inflação nos EUA

Governo vai investigar supostas práticas abusivas cometidas por grandes empresas contra avicultores

Joe Biden começa a colocar em prática seu plano para combater a concentração de frigoríficos nos Estados Unidos
26 de Maio, 2022 | 05:16 PM
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Bloomberg Línea — Em janeiro deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou um plano para reduzir a concentração da indústria de proteína animal no país, aumentar a competitividade do setor e tentar controlar a inflação, que está no maior nível desde os anos 1980. A promessa foi investir US$ 1 bilhão para colocar em prática medidas que levassem aos objetivos do governo americano.

Algumas dessas medidas foram anunciadas nesta quinta-feira (26) e colocam na alça de mira da Casa Branca gigantes do setor como Cargill, Tyson (TSN), JBS (JBSS3) e National Beef (NBP), controlada pela brasileira Marfrig (MRFG3). Juntas, as quatro empresas dominam 85% da produção de carne bovina dos Estados Unidos, 70% da suína e 54% da de frango. Procuradas, a Marfrig informou que não comentaria o assunto e a JBS não retornou ao pedido de posicionamento sobre o tema feito pela Bloomberg Línea.

As ações da JBS recuaram 0,31%, e as da Marfrig, 1,94% nesta quinta; nos Estados Unidos, as ações da Tyson subiram 0,79%, em dia de ganho de 1,18% do Ibovespa e de 1,99% do S&P 500.

As medidas apresentadas têm como alvo principal o setor de aves. Uma das ações do governo Biden será a abertura de uma investigação sobre a possibilidade de algumas práticas das indústrias na relação comercial com os avicultores serem consideradas injustas o suficiente para serem banidas ou, pelo menos, regulamentadas. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) vai conduzir a apuração das informações do setor e avaliar a possibilidade de restringir ou modernizar o sistema de contratos que existe atualmente.

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Paralelamente à investigação, passará a ser exigido das indústrias um número maior de informações para garantir mais transparência no processo de remuneração dos produtores e ajustes nos contratos firmados entre empresas e produtores. Entre as informações solicitadas está o detalhamento dos insumos fornecidos pelas empresas aos produtores, apresentando eventuais diferenças existentes. Além disso, será exigido que as indústrias apresentem nos contratos com fornecedores a expectativa de retorno financeiro com base nas experiências reais de outros produtores.

“Por muito tempo, avicultores e pecuaristas viram o valor e as oportunidades pelo qual trabalharam tanto para criar se afastarem das comunidades rurais onde vivem e operam”, disse em comunicado o secretário do USDA, Tom Vilsack.

A inflação ao consumidor nos Estados Unidos, medida pelo CPI, chegou a 8,3% em abril na comparação anual, com leve desaceleração em relação aos 8,5% até março. São os maiores níveis desde 1982. O subíndice para carnes, frango, peixes e ovos avançou 14,3% em abril na base anual, o maior nível desde 1979.

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Mais transparência

Os ajustes para as empresas de frango teriam como objetivo dar mais transparência à relação comercial que elas mantêm com os produtores. Atualmente, as indústrias exercem controle sobre grande parte do processo de criação de frangos, mesmo sem ter a estrutura de criação própria. Os processadores firmam contratos de fornecimento com os avicultores, em que são responsáveis por fornecer os principais insumos para a produção, como os pintinhos, ração e medicamentos. Aos produtores cabe a responsabilidade de engordar as aves paras as empresas.

Segundo o USDA, avicultores têm uma visibilidade limitada sobre a gama real de resultados e riscos que enfrentam sob esses contratos. Além disso, uma vez nos contratos, processadores determinam os pagamentos que os avicultores recebem por seus serviços, considerando o peso das aves. Os agricultores são classificados com base no desenvolvimento dos animais.

A remuneração é estabelecida levando em consideração o resultado individual do avicultor em comparação ao desempenho de outros produtores. Para o USDA, o problema está no fato de não haver total clareza sobre a metodologia dessa comparação.

No comunicado, o USDA diz ainda que as “ações combatem o domínio do mercado por um pequeno número de grandes processadores de carne e aves em mercados-chave, em que a concentração e o controle excessivos levaram a preços mais baixos pagos aos produtores e a preços mais altos pagos aos consumidores”.

Para tentar reduzir a concentração da indústria de proteínas de origem animal nos EUA, a administração Biden anunciou também a liberação de US$ 200 milhões para o novo Programa de Empréstimo Intermediário de Carnes e Aves (MPILP). O plano é financiar o início ou a expansão da capacidade instalada de pequenas empresas, empreendedores e processadores independentes de carne e aves.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.