Clube FII recebe aporte e aposta em educação para fundos imobiliários

Maior plataforma de soluções para FIIs do país tem como novos sócios o Grupo Solum e a ENE em rodada de captação

O momento desafiador para a indústria de fundos imobiliários não significa, na avaliação de Cardoso e dos novos sócios, que não haja oportunidades para levar informações aos investidores.
16 de Maio, 2022 | 11:39 AM

Bloomberg — O aumento acentuado das taxas de juros tem impactado a dinâmica de alocação de recursos dos investidores brasileiros. A renda variável perdeu parte da atratividade diante do retorno na casa de dois dígitos, com riscos menores, da renda fixa. Mas isso não significa que o fenômeno chamado de financial deepening, de sofisticação e maior diversidade do investidor na escolha de ativos, está com os dias contados. Ao menos é o que apostam players relevantes do mercado de capitais.

É o caso do Clube FII, maior plataforma de soluções para fundos de investimento imobiliário (FII) do país com cerca de 300 mil usuários, que anuncia nesta segunda-feira (16) um aporte de R$ 10 milhões do Grupo Solum e do ENE, dos empreendedores Felipe Guinle e Eduardo Marinho Christoph, em notícia antecipada pela Bloomberg Línea.

O ENE é uma empresa de venture capital (VC) especializada em aportes em seed money e early stage - estágios iniciais - em fintechs e empresas que atuam com o modelo de SaaS (Software as a Service). O Grupo Solum, por sua vez, é uma holding especializada em investimentos alternativos, como recebíveis e imóveis. Foi fundado por Rodrigo Fiszman e Patricia Stille (ex-sócios da XP), Pedro Janot (ex-CEO e cofundador da Azul Linhas Aéreas) e Alexandre Amitay (ex-consultor da Bain&Co).

A partir da esquerda, os sócios do Clube FII Felipe Ribeiro, Rodrigo Cardoso, Maycon Brito, Felipe Guinle e Arthur Vieira de Moraesdfd

Os recursos serão utilizados para alavancar o crescimento da plataforma voltada para investidores, com o desenvolvimento e a oferta de novas soluções, e campanhas de marketing. Fundado em 2015 por Rodrigo Cardoso, o Clube FII teve até hoje uma expansão orgânica.

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Uma das principais apostas é uma nova frente de educação financeira e, para isso, o Clube FII acaba de trazer como sócio o professor Arthur Vieira de Moraes, que estava na EXAME Academy, do mesmo grupo do BTG Pactual (BPAC11), e passou antes pela InfoMoney, da XP (XP). Outro novo sócio é Felipe Ribeiro, gestor especializado em FIIs que vai liderar a frente de ativos alternativos.

O fórum de investidores e usuários registrados será incrementado para estimular o chamado efeito de rede, com a atribuição de selos para distinguir fontes mais qualificadas, como analistas certificados e professores. Haverá cursos ao vivo e presenciais, gravados e até no metaverso.

“Vamos oferecer novas ferramentas e redes sociais para conectar os investidores ao Clube FII, reforçando a comunidade que já existe”, disse Cardoso. O objetivo maior é que a plataforma se torne um one-stop-shop para quem deseja se informar e investir em fundos imobiliários. Nos planos também está o desenvolvimento de um marketplace de relatórios de casas de análise e parcerias com corretoras que permitam ao investidor negociar cotas por meio do Clube FII.

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Isso permitirá rentabilizar a operação com o cross sell - venda cruzada - de produtos e serviços de uma base cuja meta é chegar a 1 milhão de usuários até o fim deste ano. Trata-se de uma meta agressiva. O número de investidores em FIIs no país chegou a 1,65 milhão ao fim de abril, com crescimento de 7% da base nos primeiros quatro meses do ano. Apesar da desaceleração no ritmo de novos investidores, a evolução é expressiva quando se analisa o “filme”, e não só a “fotografia”: eram 208 mil investidores ao fim de 2018.

O momento desafiador para a indústria de fundos imobiliários não significa, na avaliação de Cardoso e dos novos sócios, que não haja oportunidades para levar informações aos investidores.

Os chamados “fundos de papel”, que possuem Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) no portfólio e hoje representam cerca de 40% da indústria de FIIs, continuam como uma alternativa relevante porque o rendimento acompanha os juros desses títulos privados de renda fixa e, segundo eles, agora merecem atenção redobrada com a perspectiva de encerramento do ciclo de aperto monetário - alta de juros - pelo Banco Central.

Novos produtos também entram no radar dos investidores brasileiros com a sua oferta por corretoras, como a dos REITs, os Real Estate Investment Trusts, como são conhecidos os fundos imobiliários no mercado americano. Gestoras também estão ampliando a oferta dos Fiagros, como são chamados os fundos de investimento em ativos da cadeia do agronegócio. É uma categoria que foi regulamentada no ano passado e que já conta com mais de duas dezenas de fundos listados na B3.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.