Rock in Rio abre pré-venda; veja outros festivais de música no Brasil em 2022

Um dos mais atingidos durante a pandemia, setor cultural caminha rumo à retomada; entenda números e o que vem por aí

A pré-venda para o Rock In Rio abriu nesta quinta (17) e segue até o dia 4 de abril às 19h, ou enquanto houver disponibilidade de ingressos.
18 de Março, 2022 | 08:17 AM

Bloomberg Línea — Começou na noite desta quinta-feira (17) a pré-venda de ingressos para o Rock in Rio 2022. A edição deste ano marca o retorno do festival depois de dois anos suspenso por conta da pandemia da covid - e, claro, joga os holofotes e movimenta o setor cultural brasileiro, um dos mais prejudicados no período.

Previsto para acontecer entre os dias 2, 3, 4, 8, 9, 10 e 11 de setembro de 2022 e com nomes como Guns ‘n’ Roses, Green Day, Joss Stone, Iron Maden e Racionais MC’s entre as atrações, os ingressos da edição deste ano variam de R$ 312,50 (meia-entrada) a R$ 625 (inteira).

  • Por ora, os ingressos à venda serão disponibilizados apenas para quem possui Rock in Rio Club ou cartão de crédito Itaú. As vendas para o público em geral começam no dia 05 de abril, às 19h.

Na onda do furor do retorno de grandes eventos no Brasil, na última quarta-feira (16), o festival recebeu o título de patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro. A lei foi sancionada pelo governador do Estado, Cláudio Castro, foi publicada no Diário Oficial em edição extraordinária.

E alguns dados ajudam a ilustrar a expectativa em torno do maior festival de música do Brasil em termos de números. De acordo com uma publicação da UFRJ Consulting Club, clube de negócios e consultoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a última edição do Rock in Rio, realizada em 2019, reuniu um público de mais de 700 mil pessoas ao longo dos 7 dias de evento, movimentando cerca de R$ 1,7 bilhões, de acordo com o The Rio Times.

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Outro dado interessante é que, especificamente na edição mencionada pelo compilado, cerca de 60% do público do festival veio de outros estados e até mesmo de outros países. A estimativa é que o evento tenha atraído cerca de 450 mil turistas.

Mas o que esperam os produtores de outros festivais pelo Brasil?

Para Gabriel Junqueira de Andrade, curador e fundador do Coala Festival, evento que acontece em São Paulo desde 2014 e é dedicado à música brasileira, com um público de 26 mil pessoas nos dois dias de evento de sua última edição, em 2019, a expectativa é grande.

“Enxergamos 2022 como um ano de retomada onde conseguimos compensar os dois anos sem fazer”, diz.

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Para Junqueira, há uma demanda reprimida para o setor. “A expectativa é muito alta depois de dois anos sem fazer. Claro que surgiram muitos outros tantos festivais de lá para cá, porém o Coala é um festival consolidado. Temos hoje 95% dos ingressos vendidos a seis meses do festival, o que abre a possibilidade pra que testemos coisas novas”, diz.

No caso de festivais menores e fora do eixo Rio-São Paulo, as expectativas são mais contidas. Para André Costa Nero, criador e produtor do Arvo Festival, em Florianópolis (SC), há uma nítida mudança de comportamento em apoiadores e patrocinadores, “com uma dificuldade maior comercialmente falando”, nas palavras dele.

“Foi preciso apostar alto e começar a fazer acontecer - e até mesmo contar com a sorte. Florianópolis não é um polo de investimento de marcas. Para festivais grandes e já estabelecidos, obviamente o que for feito terá outra dimensão”, explica.

Partindo para o Nordeste do país, de acordo com o diretor do Festival Pôr do Som, Tauí Castro, que acontece em Fortaleza, no Ceará, as incertezas são tantas que a edição deste ano não será possível. Ele cita dificuldades com incentivos e patrocínio, além de burocracias e também a pandemia da covid como um fator decisivo para a cena local.

“Estamos na dependência do que virá em termos de incentivos e leis, e também sobre as novas onda da covid. Importantes festivais que aconteceriam por aqui, até mesmo durante o carnaval, deixaram de acontecer justamente por conta desse cenário de mudanças, burocracias e incertezas”, conta.

Vulnerabilidade do setor

De acordo com um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com com base na Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios (PNAD) Contínua e apresentadas pelo Sistema de Informações e Indicadores em Cultura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em janeiro deste ano, mais de 900 mil trabalhadores do setor cultural foram afetados com cortes nos postos de trabalho durante o primeiro ano de pandemia que compreende apenas o ano de 2020: no último semestre de 2019, o número de empregos no setor era 5,5 milhões versus 4,6 milhões no terceiro trimestre de 2020.

No final do mesmo ano, foi criado um auxílio emergencial para o setor via Lei Aldir Blanc. A lei, além de financiar um auxílio para trabalhadores e organizações do nicho, também buscou estimular a atividade econômica do setor cultural, que pode corresponder entre 1% e 2,6% do produto interno bruto (PIB) do Brasil, a depender da métrica utilizada, de acordo com informações do IBGE.

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A PNAD Contínua cita também que “trabalhadores em ocupações culturais em atividades não culturais também mantiveram, em trimestres recentes, forte nível de desocupação, o que pode indicar uma maior vulnerabilidade a partir do recorte da ocupação”, e que “com a retomada de eventos em 2021, 300 mil postos de trabalho foram recuperados, porém sem recuperar o nível de emprego de 2019″.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.